Donald Trump: presidente intensificou ataques ao Fed ao demitir a diretora Lisa Cook, que recorreu à Justiça para permanecer no cargo (Mandel Ngan/AFP)
Redatora
Publicado em 2 de setembro de 2025 às 05h01.
Os investidores ainda não precificaram totalmente os riscos ligados aos ataques do presidente Donald Trump ao Federal Reserve (Fed), apontam economistas em pesquisa do Financial Times. Entre as ameaças destacadas estão uma pressão inflacionária mais alta e a perda de confiança na dívida americana.
As críticas à autoridade monetária dos Estados Unidos levantam preocupações de que o Fed perca autonomia para definir juros com foco no controle da inflação.
Entre 94 economistas consultados nos EUA e na Europa, muitos disseram temer que, após o fim do mandato de Jerome Powell em 2026, a instituição seja forçada a priorizar empregos e custos de financiamento do governo. Alguns chegaram a usar as palavras “horrível”, “caos” e “desastre” para classificar o cenário da política monetária americana.
No fim de agosto, a Casa Branca intensificou a ofensiva ao anunciar a demissão imediata da diretora Lisa Cook. Ela se recusou a deixar o cargo e recorreu à Justiça, em um processo que pode definir até onde vai o poder do Executivo sobre o banco central. Segundo o levantamento, 89 dos 94 entrevistados acreditam que a credibilidade do Fed já foi afetada.
As expectativas para o futuro variam: 27% avaliam que, até o fim do mandato de Trump em 2029, o Fed não conseguirá mais fixar os juros sem influência política; 45% consideram cedo para prever; e 28% veem espaço para a instituição manter parte da sua independência. Uma maioria de 52% projeta mudança já em 2026, com a instituição passando a dar mais peso a custos de endividamento e emprego, em detrimento da estabilidade de preços.
Para 42% dos economistas, a principal consequência seria uma alta duradoura da inflação. Outros 35% apontam a perda de confiança nos Treasuries como risco central. Apenas um entrevistado afirmou que a situação não representa ameaça significativa à economia.
Trump defende que os juros caiam para 1% como forma de impulsionar a atividade e reduzir custos da dívida pública. A pressão sobre o Fed é comparada, por especialistas, ao caso da Turquia, com risco de crise cambial nos EUA.
Apesar disso, a reação do mercado às recentes medidas foi limitada. Segundo o levantamento, 82% dos economistas acreditam que os investidores só incorporaram parcialmente os efeitos das investidas da Casa Branca contra o Fed.