Usiminar: Itaú BBA rebaixa papel para "market perform" (Alexandre Mota/Reuters)
Repórter de finanças
Publicado em 17 de junho de 2025 às 14h13.
Demanda enfraquecida, custos elevados e cenário competitivo difícil são fatores que devem limitar a recuperação dos resultados da Usiminas no curto e médio prazo e deixaram o Itaú BBA mais cauteloso com Usiminas (USIM5). A casa rebaixou a ação para “neutro”.
O preço-alvo também foi reduzido de R$ 8,50 para R$ 5,90 em 2025 — um potencial ainda de valorização de 20%, ante a cotação de R$ 4,93. Nesta terça-feira, 17, as ações estão entre as maiores baixas da bolsa. Às 13h15, despencavam 6,50%.
Os analistas do BBA avaliam que o ambiente continua negativo para as siderúrgicas brasileiras produtoras de aço plano. O principal motivo é a concorrência com o aço importado, que se intensificou com a valorização recente do real, o que barateia os produtos estrangeiros. O cenário é propício a preços e demanda no mercado interno ainda mais baixos no segundo semestre de 2025.
Segundo o relatório, os preços do aço plano no Brasil caíram 14% desde o pico em março, mais rápido do que se esperava. Além disso, os custos para produzir o aço (cash COGS por tonelada) devem aumentar ligeiramente no segundo trimestre de 2025, o que pressiona as margens.
O relatório avalia que os preços do HRC (aço laminado a quente) também devem continuar pressionados nos próximos meses. No mercado interno, esse tipo de aço é vendido a R$ 3.850 a tonelada. O valor representa um prêmio de 22% sobre o aço importado, mas, ainda assim, as margens das siderúrgicas seguem comprimidas.
A pressão vem de elevados custos de produção no Brasil. A competição com os importados, por sua vez, impede novos reajustes de preço. Por essas razões, ainda que o preço interno ainda esteja acima do externo, o diferencial não basta para sustentar margens confortáveis, principalmente em um cenário de demanda fraca e maior ociosidade.
O Itaú BBA aponta que o papel está negociando a um múltiplo EV/EBITDA 2025 de 4 vezes, considerado justo em relação à média histórica. Por outro lado, o retorno de fluxo de caixa livre (FCF yield) é próximo de 0% para 2025-2026 - ou seja, a empresa não deve gerar caixa relevante nesses dois anos.
O banco também revisou para baixo sua estimativa de EBITDA para o ano cheio de 2025. Agora projeta R$ 2 bilhões, uma queda de 33% em relação à previsão anterior (R$ 3 bi). O número reflete uma redução de 42% esperada para o EBITDA da divisão de aço, de R$ 2,5 bilhões para R$ 1,5 bilhão. A divisão de mineração, por sua vez, foi ligeiramente revisada para cima: passou de R$ 500 milhões para R$ 550 milhões, impulsionado por preços realizados mais altos.
A Usiminas deve reportar um EBITDA de cerca de R$ 500 milhões no segundo trimestre de 2025, uma queda de 30% em relação aos três meses anteriores. A divisão de aço, responsável por R$ 340 milhões desse total, deve recuar 35% trimestre ante trimestre, pressionada por uma combinação de queda de volumes e preços no mercado interno — ambos em torno de um dígito — e por um aumento no custo por tonelada.
O impacto desses fatores é potencializado pela alta alavancagem operacional da companhia nesse segmento: com um EBITDA por tonelada projetado em R$ 341 e margem de apenas 6,3%, qualquer variação nos preços ou nos custos tem efeito direto e significativo nos resultados. Para cada oscilação de 1 ponto percentual no preço do aço, por exemplo, o EBITDA consolidado pode mudar em até 10% para cima ou para baixo.
Apesar do cenário ainda desafiador para as siderúrgicas brasileiras, os analistas enxergam uma possível trégua nos custos da Usiminas (USIM5) a partir da segunda metade do ano.
A aposta está na queda dos preços de insumos estratégicos, como o carvão metalúrgico e as placas de aço bruto, que recuaram com a menor demanda global — especialmente por parte da China. O carvão, por exemplo, é negociado hoje a US$ 175 por tonelada no modelo FOB Austrália e a US$ 190 no CIF Índia, o que representa uma queda de 35% a 40% em relação às médias históricas, de US$ 270 por tonelada e US$ 290 por tonelada, respectivamente.
Esses valores ainda não aparecem nos resultados, já que os custos da Usiminas demoram cerca de seis meses para refletir os preços internacionais. Mas, se o patamar atual se mantiver, a tendência é que a empresa sinta um alívio no caixa no segundo semestre.
As placas são negociadas a US$ 485 por tonelada, aproximadamente 30% abaixo da média dos últimos anos, de US$ 680 por tonelada. É outro fator que também pode ajudar a suavizar a pressão sobre as margens.
“Acreditamos que isso se deve, principalmente, à maior disponibilidade de placas após a imposição de tarifas mais altas sobre importações de aço nos EUA (25% em março e agora 50%)”, escreve a equipe liderada por Daniel Sasson, CFA.