Elon Musk: CEO da Tesla pode ser primeiro trilionário do mundo (Montagem EXAME/Wikimedia Commons)
Repórter
Publicado em 8 de novembro de 2025 às 07h01.
Nem John Davison Rockefeller, nem o Barão de Mauá, nem Mansa Musa: a pessoa mais rica da história do mundo, considerando quase todos os parâmetros para os cálculos, até agora, é o sul-africano Elon Musk, CEO de companhias como Tesla (TSLA), SpaceX e X (antigo Twitter).
Musk, que tem uma fortuna estimada em US$ 482 bilhões, segundo o índice de bilionários da Bloomberg, teve um pacote de remuneração de US$ 1 trilhão aprovado pelo quadro de acionistas da Tesla na quinta-feira, 6, o que pode acelerar a jornada do executivo em direção ao marco de primeiro trilionário do mundo.
Ou seja, Musk precisaria aumentar sua fortuna em aproximadamente US$ 518 bilhões para se tornar o primeiro trilionário. Algo que, para ele, pode não ser tão impossível assim.
Em janeiro, a Oxfam publicou seu relatório anual de desigualdade revelando que o CEO da Tesla e da SpaceX pode ultrapassar a marca de US$ 1 trilhão em menos de cinco anos.
Antes da era digital, a riqueza das pessoas era medida principalmente pelo impacto no Produto Interno Bruto (PIB) nacional, e não apenas pela soma nominal de ativos. A métrica considerava o domínio econômico de uma pessoa em seu tempo.
Em termos proporcionais ao PIB, nomes históricos ainda rivalizam ou superam Musk. Rockefeller, por exemplo, controlava cerca de 1,5% a 1,6% da economia dos Estados Unidos em 1913, o que chega bem perto do 1,61% de Musk em 2025.
Jakob Fugger, banqueiro europeu do século XVI, chegou a deter cerca de 2% do PIB da Europa, equivalente a aproximadamente US$ 400 bilhões ajustados pelos valores atuais.
Mansa Musa, imperador do Mali entre 1312 e 1337, é frequentemente apontado como o mais rico da história, mas historiadores alertam para a imprecisão desses cálculos. Durante sua peregrinação a Meca, distribuiu tanto ouro que desvalorizou o metal no Egito por mais de uma década.
Já o imperador romano Augusto César controlava de forma direta ou indireta até 30% da economia global de sua época. Estimativas sugerem que isso equivaleria hoje a até US$ 4,9 trilhões — mas especialistas reconhecem um alto grau de especulação nessa estimativa.
No critério de riqueza nominal (a soma absoluta em dólares) Musk lidera com folga.
Seus quase US$ 500 bilhões superam os picos de Jeff Bezos (US$ 260 bilhões), Mark Zuckerberg (US$ 250 bilhões) e Bernard Arnault (US$ 209 bilhões).
Rockefeller, frequentemente citado como o homem mais rico da era industrial, acumulou US$ 900 milhões em 1913, o que corresponderia a cerca de US$ 26 a US$ 29 bilhões em valores atuais — uma diferença de até 94,6% em relação a Musk.
A diferença entre riqueza nominal e poder econômico contextualizado é o que complica as comparações históricas.
Enquanto Musk detém seu patrimônio majoritariamente em ações de empresas de tecnologia, figuras como Rockefeller ou Fugger operavam com ativos tangíveis, como petróleo e metais preciosos.
No Brasil, Irineu Evangelista de Sousa, o barão de Mauá, foi considerado o homem mais rico do país no século XIX.
Em seu auge, controlava oito das dez maiores empresas nacionais, além de bancos, ferrovias, estaleiros e companhias de navegação que modernizaram a economia brasileira. Sua atuação também se estendia ao exterior, com negócios na Inglaterra, Uruguai e Argentina.
O impacto de sua fortuna era tão grande que, em meados de 1867, ela ultrapassava o próprio orçamento do Império do Brasil. Segundo estimativas, seu patrimônio acumulado chegaria hoje a cerca de US$ 80 bilhões — valor expressivo, mas ainda distante dos atuais quase US$ 500 bilhões de Musk.
A principal diferença entre os dois está na escala econômica em que atuavam. Enquanto Mauá dominava amplamente uma economia de base agrária e industrial incipiente, Musk concentra sua riqueza em setores de alta tecnologia em uma das maiores economias do mundo.
As fortunas do século XIX também eram baseadas em ativos tangíveis — terras, navios, infraestrutura, metais —, ao passo que a de Musk é composta majoritariamente por ações de companhias de capital aberto, cujas avaliações flutuam com o mercado.
Apesar de sua relevância econômica, o império de Mauá enfrentou forte resistência da elite conservadora da época, especialmente após a Guerra do Paraguai, e colapsou em meio a uma crise financeira.
Ao final da vida, ele voltou à atividade como corretor de café e morreu com recursos bastante reduzidos em relação à sua antiga fortuna.
Até o início do século XX, era comum avaliar a riqueza de uma pessoa com base na fatia que ela detinha do PIB de seu país ou região.
Essa métrica refletia o poder econômico relativo, mostrando quanto da produção nacional estava concentrada nas mãos de um único indivíduo.
A mudança de paradigma começou com a consolidação dos mercados de capitais e da globalização financeira.
Com o avanço das bolsas de valores, tornou-se mais relevante medir fortunas pela valorização de ativos líquidos, como ações, participações em empresas e investimentos privados.
Isso levou à adoção do conceito moderno de net worth — ou patrimônio líquido — calculado com base na soma de ativos menos passivos.
O PIB também se mostrou impreciso para comparar contextos econômicos diferentes. Enquanto o império romano representava até 30% da economia global no tempo de Augusto César, o PIB atual é fragmentado entre centenas de países com realidades distintas.
Outro desafio é que o PIB mede produção anual, e não acumulação de riqueza ao longo do tempo. Uma pessoa pode ser dona de empresas avaliadas em bilhões mesmo que o país onde reside tenha um PIB relativamente pequeno, como ocorre com bilionários em países emergentes.
Hoje, o PIB ainda é usado como métrica auxiliar, sobretudo para indicar o peso econômico de uma fortuna em seu contexto nacional. Mas o cálculo principal passou a considerar o valor de mercado dos ativos controlados.
Para calcular o patrimônio líquido do homem mais rico do mundo e de outros bilionários, sites como a Forbes e a Bloomberg combinam dados públicos e análises especializadas.
As estimativas de fortuna consideram o valor total dos ativos do indivíduo — como participações em empresas, imóveis, obras de arte e dinheiro em caixa — subtraindo as dívidas e outras obrigações financeiras.
Na Forbes, participações em companhias listadas na bolsa são avaliadas com base em documentos da SEC e preços de ações. Já para empresas privadas, o processo exige entrevistas com sócios, concorrentes, consultores financeiros e análise de dados de mercado.
Também entram na conta: imóveis, terras, coleções de arte, aviões, iates e joias. Esses itens são avaliados com base em vendas recentes e registros públicos. Após reunir todas as informações, a Forbes subtrai dívidas declaradas para estimar o valor líquido final.
A Bloomberg segue uma metodologia similar, mas com algumas particularidades: atualiza os números diariamente, às 17h30 (no horário de Nova York), com base na variação das ações. Para ativos privados, utiliza fontes como registros judiciais, reportagens e documentos empresariais.
Diferente da Forbes, a Bloomberg aplica descontos com base nas alíquotas máximas de impostos sobre renda, dividendos e ganhos de capital, dependendo do país de residência do bilionário. Também estima o retorno dos investimentos em dinheiro e ativos líquidos, considerando uma combinação de ações, títulos públicos e commodities.
No caso de fortunas familiares, a Bloomberg atribui o valor ao membro da família que tem controle direto dos ativos, mesmo que eles estejam registrados em nome de parentes.
Se o critério for a riqueza nominal ajustada, Musk é o mais rico da história registrada.
Mas, em influência proporcional sobre o sistema econômico de seu tempo, ele empata com gigantes como Rockefeller e Fugger, e fica atrás de figuras como Mansa Musa e Augusto César — cuja fortuna, mesmo incerta, representava fatias maiores de suas respectivas economias.
A trajetória de Musk, no entanto, ainda está em curso — e com um pacote de remuneração trilionário aprovado, ele pode ser também o primeiro trilionário real da história. É ficar de olho nos mercados.