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Na guerra entre Irã e Israel, ações do setor de defesa perdem para fabricantes de portas e janelas

Desde o início do conflito entre as duas nações, os mercados, em geral, não têm reagido dentro do esperado para um cenário de guerra; entenda o motivo

Ao que tudo indica, a guerra tem feito preço sim no mercado - mas pelo viés da reconstrução, não da destruição (JACK GUEZ / AFP/AFP)

Ao que tudo indica, a guerra tem feito preço sim no mercado - mas pelo viés da reconstrução, não da destruição (JACK GUEZ / AFP/AFP)

Mitchel Diniz
Mitchel Diniz

Repórter de negócios e finanças

Publicado em 23 de junho de 2025 às 15h08.

Os preços do petróleo estão caindo forte nesta segunda-feira (23). Nem parece que o Irã está ameaçando bloquear a rota por onde passa um quinto da produção mundial da matéria-prima, o Estreito de Ormuz.

Desde que Israel atacou o país, na madrugada do último dia 13 de junho, dando início à troca de chumbo entre as duas nações, os mercados, em geral, não têm reagido dentro do que se espera para um cenário de guerra.

Não teve circuit braker na bolsa israelense, pelo contrário. O índice Tel Aviv 125, benchmark de ações no país, subiu 6,47% desde o início dos bombardeios. Fabricantes de armamentos utilizados no conflito, que tipicamente tenderiam a ver suas ações valorizarem nesse contexto, tampouco tem sido as mais favorecidas.

A RTX Corp, que produz munição para a força aérea israelense e mísseis utilizados no sistema de interceptação do Domo de Ferro, tem ações negociadas na Nyse, a Bolsa de Valores de Nova York. No primeiro dia de bombardeios, o papel fechou com valorização de 3,34%. Desde então, passou a oscilar entre altas moderadas e até quedas, acumulando ganhos de pouco mais de 4% até o fechamento de ontem. Hoje, inclusive, os papéis já estão diminuindo esses ganhos.

A entrada dos Estados Unidos no conflito era temida desde o início, mas também pouco fez pela Lockheed Martin, conhecida do investidor brasileiro com uma das principais concorrentes globais da Embraer (EMBR3) na área de defesa. A companhia é responsável pela fabricação dos jatos F-35 e mísseis interceptores do sistema THAAD, uma espécie de Domo de Ferro americano. Nos últimos 10 dias, a ação tem lutado contra o zero a zero, oscilando entre ganhos expressivos e perdas que praticamente apagam a valorização de sessões anteriores.

Curiosamente, é um outro perfil de empresa que tem se valorizado na Bolsa como reflexo da guerra. Foi o que notou Shay Shvartz, um analista de ações baseado em Tel Aviv e que trabalha na Bridgewise, startup israelense de análise de investimentos. Em um post no LinkedIn, Shvartz escreveu que "imagens horríveis vistas em muitos lugares de Israel, na semana passada, de prédios destruídos e janelas quebradas, fizeram os investidores acreditarem que todos esses danos acabariam sendo reparados".

Resultado: as indústrias Klil, empresa listada na Bolsa de Tel Aviv e com valor de mercado de pouco mais de meio bilhão de shekels (R$ 795 milhões), subiram mais de 36% desde o início das bombardeios. O que a empresa faz? Produz sistemas de alumínio, que são utilizados na instalação de janelas, portas e persianas.

Outro exemplo dado por Shvartz é a Rav-Bariach, outra empresa israelense que fornece insumos para construtoras e tem portas de todos os tipos como produto mais conhecido. Suas ações subiram 20% desde o início dos bombardeios.

A Inrom também atua no ramo da construção e chegou a ter uma de suas fábricas parcialmente destruída nos ataques de 7 de outubro de 2023, realizados pelo Hamas. Assim como a Rav-Bariach, suas ações subiram 20% durante o conflito com o Irã.

"Se o cenário básico há alguns anos era que a Bolsa de Valores de Tel Aviv nem abriria suas portas após o início de uma guerra com o Irã (porque nem teria eletricidade), então os movimentos da semana passada no mercado de capitais israelense expressam uma expressão muito forte de confiança", arremata o analista, em sua postagem.

Ao que tudo indica, a guerra tem feito preço sim no mercado - mas pelo viés da reconstrução, não da destruição.

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