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Na Minerva (BEEF3), demanda de carne aquecida anima analistas, mas alavancagem preocupa

Santander e XP elevam ação de neutro para compra e melhoram projeções para empresa para 2026; BTG mantém cautela e corta preço-alvo por preocupação com alavancagem e fluxo de caixa

Minerva: ativos comprados da Marfrig no Uruguai totalizam R$ 675 milhões (Marfrig/Divulgação)

Minerva: ativos comprados da Marfrig no Uruguai totalizam R$ 675 milhões (Marfrig/Divulgação)

Juliana Alves
Juliana Alves

Repórter de mercados

Publicado em 25 de junho de 2025 às 12h00.

Última atualização em 25 de junho de 2025 às 14h56.

Em um dia de queda para a bolsa brasileira, a Minerva (BEEF3) está entre as maiores altas nesta quarta-feira, 25. Por volta das 11h13 (horário de Brasília), os papéis da companhia avançavam 1,27%, cotados a R$ 4,80, com o mercado dividido entre recomendações otimistas e avaliações mais cautelosas.

As análises mais positivas vêm da XP e do Santander, que elevaram suas recomendações de 'neutra' para 'compra'. Ambos apontam potenciais de valorização expressivos: o Santander vê as ações a R$ 7,10 no fim de 2026 (upside de 49,79%), enquanto a XP projeta R$ 7,90 (upside de 66,7%) em relação ao último fechamento de R$ 4,74.

Uma das razões para o otimismo é a demanda global aquecida por carne bovina — especialmente da China e dos Estados Unidos —, além da expectativa de melhora no fluxo de caixa após o aumento de capital de R$ 2 bilhões, que, segundo o Santander, deve reduzir as despesas financeiras em até R$ 290 milhões ao ano.

A XP destaca ainda o valuation atrativo da companhia: a ação é negociada a 4,5 vezes EV/EBITDA para 2025, abaixo da média histórica de 5 vezes. Além disso, projeta um free cash flow yield (FCF yield) de 15,1% para 2026, o que reforça a boa relação risco-retorno.

No radar de oportunidades, os analistas citam a recente certificação do Brasil como país livre de febre aftosa sem vacinação — condição que pode abrir portas para mercados mais exigentes, como o Japão.

Revisões no horizonte

De acordo com o Santander, a previsão de EBITDA para 2025 foi revisada para cima, com alta de 6% e projeção de R$ 4,7 bilhões, impulsionada por resultados melhores do que o esperado no primeiro trimestre e pela perspectiva de alta nos preços do boi no segundo semestre.

Já os analistas Guilherme Palhares e Laura Hirata, da XP, reforçam que, apesar da desaceleração do ciclo do gado no Brasil, a demanda externa — em especial da China, favorecida pelo aumento da renda disponível — continua a sustentar o crescimento das exportações. Os preços de exportação da carne bovina, inclusive, subiram 11,8% desde março.

Fluxo de caixa ainda é sinal amarelo

Na outra ponta, o BTG Pactual (do mesmo grupo de controle da EXAME) preferiu manter uma abordagem mais conservadora. O banco reduziu o preço-alvo das ações de R$ 10,00 para R$ 8,00 para 2025, mantendo a recomendação neutra. A principal preocupação recai sobre a alavancagem elevada da companhia, que deve continuar pressionando o desempenho no curto prazo.

Segundo os analistas Guilherme Guttilla e Thiago Duarte, o fluxo de caixa da Minerva permanece frágil. A estimativa é de que haja uma queima de caixa de R$ 1,9 bilhão em 2025, com geração modesta de apenas R$ 200 milhões no ano seguinte.

Eles também apontam que, mesmo com o aumento de capital, a alavancagem segue elevada. Ajustada por linhas de capital de giro, a dívida líquida da Minerva deve alcançar R$ 17,8 bilhões até o fim de 2025, representando uma alavancagem de 3,9 vezes o EBITDA. “A empresa tem dependido de instrumentos como antecipação de recebíveis, financiamento de fornecedores e FIDCs para manter o caixa”, observam.

Além disso, o desempenho no primeiro trimestre ficou abaixo do esperado, afetada pelo acúmulo de estoques. A companhia utilizou a cota de importação sem impostos dos EUA para antecipar exportações e formou estoques para vendas futuras — estratégia que só deve trazer retorno no segundo trimestre.

Ainda assim, há expectativa de leve recuperação de margens: o BTG projeta uma margem EBITDA de 9,2% em 2026, frente aos 8,8% de 2025, impulsionado pela integração das plantas adquiridas da Marfrig.

Entre os riscos no horizonte, estão a valorização do real — que poderia pressionar a competitividade das exportações — e um eventual aumento nos preços do gado, além de possíveis sanções sanitárias. Os fatores positivos, por sua vez, incluem um possível novo ciclo de valorização da carne bovina no mercado internacional.

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