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Na mira de Trump, Pix é considerado 'futuro do dinheiro' por Nobel de economia

Paul Krugman elogiou o sucesso do Pix no Brasil, enquanto aponta a resistência dos Estados Unidos à criação de uma moeda digital pública como um reflexo de interesses privados

Paul Krugman: Nobel da economia acredita que Pix é 'futuro do dinheiro' (Gene Medi/NurPhoto /Getty Images)

Paul Krugman: Nobel da economia acredita que Pix é 'futuro do dinheiro' (Gene Medi/NurPhoto /Getty Images)

Publicado em 22 de julho de 2025 às 13h18.

Para o vencedor do Nobel de economia, Paul Krugman, o Pix representa uma verdadeira revolução no sistema de pagamentos digitais. Em artigo publicado nesta terça-feira, 22, Krugman elogiou o sucesso do sistema criado pelo Banco Central (BC), afirmando que ele é "um exemplo claro de como uma plataforma de pagamento pública pode ser eficaz, acessível e eficiente, sem os custos elevados dos métodos tradicionais".

Krugman destacou que o Pix tem se tornado uma verdadeira referência mundial, alcançando 93% de adesão entre os brasileiros adultos. Ele ressaltou que, enquanto outros sistemas financeiros tradicionais, como os cartões de crédito e débito, são notoriamente caros e lentos, o Pix oferece transações praticamente instantâneas — com uma média de apenas três segundos — e com custos significativamente menores para os comerciantes. O Pix é de uso gratuito para indivíduos e tem uma taxa de apenas 0,33% para empresas, contra as altas taxas cobradas pelos sistemas privados, como 1,13% no débito e até 2,34% no crédito.

Para o economista, isso demonstra que é possível criar uma alternativa pública viável, sem depender dos intermediários financeiros privados, como as operadoras de cartões. Ele vê o Pix como uma solução muito mais inclusiva, beneficiando a população de forma ampla, algo que não é garantido por soluções como as criptomoedas, por exemplo.

"Não posso deixar de notar que o Pix está, na verdade, alcançando o que os defensores das criptomoedas afirmaram, de maneira equivocada, que a blockchain conseguiria entregar — baixos custos de transação e inclusão financeira. Compare os 93% de brasileiros que usam o Pix com os 2%, isso mesmo, 2% dos americanos que usaram criptomoedas para comprar algo ou fazer um pagamento em 2024", escreveu ele.

Krugman também sublinhou o fato de que o Pix não está associado aos problemas que as criptomoedas ainda enfrentam, como a volatilidade do mercado e a segurança em relação a fraudes e perdas de ativos. No caso do Pix, a solução pública tem oferecido um meio de pagamento mais seguro, eficiente e de baixo custo para os brasileiros, segundo ele.

A resistência dos EUA ao Pix  

No entanto, Paul Krugman não deixou de comentar a resistência dos Estados Unidos à criação de uma moeda digital pública, o CBDC (central bank digital currency). Para Krugman, o verdadeiro motivo por trás da oposição dos republicanos à CBDC não é tanto uma preocupação com a privacidade, como alegam, mas o receio de que uma moeda digital pública possa competir com os bancos privados e as stablecoins. “O que realmente assusta os republicanos não é tanto o medo de uma vigilância estatal exacerbada, mas a ameaça de que uma CBDC possa diminuir a influência do setor financeiro privado, que é central para o poder de lobbies e do governo”, escreveu Krugman.

O temor de que a criação de uma CBDC enfraqueceria a posição dominante do setor financeiro privado nos Estados Unidos é um ponto central da resistência observada, principalmente entre os políticos e os lobbies financeiros. “É claro que, enquanto os republicanos falam sobre vigilância governamental e direitos à privacidade, o que realmente está em jogo são os interesses financeiros e o controle que os grandes bancos ainda detêm sobre o sistema de pagamentos e transações nos Estados Unidos”, destacou o economista. Ele aponta que, embora os republicanos aleguem preocupações com a privacidade dos cidadãos, a verdadeira razão por trás da oposição é o medo de uma perda de poder por parte da indústria financeira, que há muito tempo detém o controle do sistema econômico.

Krugman também alertou para as dificuldades de implementar um sistema semelhante ao Pix nos Estados Unidos. “Os interesses financeiros privados nos EUA têm muito poder, e a ideologia política que vê o governo como o problema, e não a solução, dificulta ainda mais a adoção de uma solução pública que poderia beneficiar a maioria da população”, escreveu o economista. Segundo Krugman, essa resistência política, impulsionada por um mercado financeiro fortemente consolidado, manterá provavelmente os Estados Unidos presos a um sistema financeiro controlado pelo setor privado, ao passo que outros países, como o Brasil, estão avançando com soluções mais públicas e inclusivas.

O poder das grandes instituições bancárias nos EUA

Em sua análise, Krugman afirmou que a oposição à CBDC nos Estados Unidos também reflete o poder das grandes instituições bancárias, que resistem a qualquer proposta que possa enfraquecer sua posição dominante. "Essas instituições não estariam dispostas a abrir espaço para uma solução pública que beneficiasse a população em termos de custo e eficiência.

A realidade é que os bancos e suas associações têm um poder tão grande sobre as decisões políticas nos Estados Unidos que qualquer mudança que ameace seus lucros será resistida com força", escreveu Krugman. Ele destacou que, embora o governo tenha a capacidade de oferecer alternativas mais baratas e eficientes, como o Pix, as corporações financeiras americanas farão de tudo para garantir que essa possibilidade seja suprimida.

Krugman também criticou o fato de que, mesmo com a tecnologia disponível e as soluções públicas mais eficazes já testadas, como o Pix, os Estados Unidos ainda não conseguem avançar para uma alternativa pública de pagamento digital. “A resistência política aos avanços tecnológicos é um reflexo da ideologia de que o governo nunca deve ser o líder da inovação, uma visão que é imposta por aqueles que se beneficiam diretamente do status quo financeiro”, escreveu Krugman, fazendo referência à ideologia política que governa boa parte das ações da direita no país.

O Pix como exemplo de inovação pública

Krugman concluiu que o exemplo do Pix no Brasil serve como uma lição valiosa para os Estados Unidos e outros países interessados em criar sistemas de pagamento mais eficientes e acessíveis. "O Pix não apenas facilita pagamentos mais rápidos, mas o faz de uma forma pública e acessível, sem os altos custos e taxas que as soluções bancárias privadas exigem", escreveu Krugman. Ele enfatizou que o sucesso do Pix no Brasil demonstra que é possível criar soluções públicas que beneficiem diretamente a população, oferecendo uma alternativa mais justa e acessível.

Além disso, o modelo de pagamento digital público do Brasil oferece uma solução mais democrática, permitindo que até as classes menos favorecidas tenham acesso a uma forma de pagamento simples, rápida e de baixo custo. “No Brasil, o Pix é gratuito para os indivíduos, ao passo que as alternativas privadas, como o uso de cartões de crédito e débito, envolvem custos significativos para os consumidores e comerciantes. Isso cria uma barreira para aqueles que mais precisam de acesso a serviços financeiros rápidos e baratos”, escreveu Krugman. Ele observou que, no Brasil, o sistema de pagamentos digitais foi capaz de superar as limitações dos sistemas tradicionais e oferecer uma solução acessível e eficiente para a maioria da população.

Krugman também destacou que esse modelo de pagamento público não só proporciona uma alternativa para os brasileiros que não têm acesso a métodos tradicionais, como também representa uma verdadeira democratização do sistema financeiro. “A verdade é que um sistema como o Pix não só amplia o acesso aos serviços financeiros para os mais pobres, mas também contribui para a inclusão digital e financeira, ao passo que sistemas privados de pagamento frequentemente deixam esses mesmos cidadãos de fora”, escreveu Krugman, comparando a realidade do Brasil com a dos Estados Unidos, onde os grandes bancos ainda detêm o controle de boa parte das transações financeiras.

Por fim, Krugman concluiu que o sucesso do Pix no Brasil oferece uma prova de que sistemas de pagamento digital públicos podem ser mais eficientes e acessíveis, ao contrário das soluções bancárias privadas que operam com altas taxas e exigem intermediários.

Pix na mira de Trump

Os Estados Unidos expressaram em investigação sobre as ações, políticas e práticas do Brasil que impactam o comércio, preocupações sobre o que consideram a "preferência do governo brasileiro por soluções locais" e as possíveis "barreiras comerciais criadas para empresas estrangeiras". Em um relatório oficial, o governo dos EUA argumenta que o incentivo ao uso do Pix poderia estar dificultando a entrada de empresas norte-americanas no mercado brasileiro.

O Pix, como uma solução doméstica, representa uma alternativa pública de pagamento rápido e eficiente, mas seu crescimento coloca em risco o espaço das empresas estrangeiras, especialmente das grandes corporações financeiras dos EUA. A investigação detalha que, ao promover o uso do Pix e de outras soluções locais, o Brasil estaria, de certa forma, criando barreiras à competição de empresas dos Estados Unidos no país, o que é visto como uma ameaça ao mercado financeiro internacional dominado por gigantes como Visa, MasterCard e PayPal.

Além disso, o governo dos EUA aponta que o Brasil tem imposto restrições ao fluxo de dados pessoais, o que, segundo ele, afeta diretamente as empresas norte-americanas que oferecem serviços digitais no país. As medidas restritivas criariam dificuldades para essas empresas prestarem serviços de pagamento eletrônico, um mercado que representa uma fatia significativa da economia digital global.

"De maneira mais geral, as evidências indicam que essas ações, políticas e práticas podem prejudicar a competitividade das empresas dos EUA envolvidas no comércio digital e nos serviços de pagamento eletrônico", diz o documento. A análise detalha que, ao aumentar os riscos ou custos para as empresas dos EUA, essas restrições podem restringir a capacidade dessas empresas de fornecer serviços, prejudicar suas práticas comerciais normais e até diminuir a receita e os retornos sobre os investimentos dessas corporações no Brasil.

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