Stranger Things: última temporada da série será lançada no fim do ano (Divulgação/Divulgação)
Repórter
Publicado em 22 de outubro de 2025 às 10h12.
Última atualização em 22 de outubro de 2025 às 10h35.
A mais nova temporada da Netflix (NFLX) parece não ter agradado Wall Street, levando a empresa a perder cerca de US$ 33 bilhões em valor de mercado entre a noite de ontem e a manhã desta quarta-feira, 22. E o Brasil, segundo a gigante do streaming, é um dos principais motivos.
O baque acontece depois da divulgação de um balanço trimestral abaixo do consenso do mercado. Ações da empresa caíam quase 8% no pré-mercado, às 9h27, no horário de Brasília, dando sequência ao que se viu no after hours de ontem.
No mesmo horário, a empresa tinha uma avaliação de mercado de US$ 490,7 bilhões, ante US$ 527,4 bilhões no dia anterior.
Na terça-feira, 21, a empresa reportou lucro de US$ 3,2 bilhões no terceiro trimestre do ano e receita de US$ 11,51 bilhões, 17,2% maior do que a registrada no mesmo período do ano passado. No ano, a companhia acumula alta de 39,2%.
Em carta aos investidores, a Netflix afirmou que a margem de lucro foi afetada em US$ 619 milhões por "uma disputa em andamento com as autoridades fiscais brasileiras, que não estava na previsão".
À Reuters, o analista Paolo Pescatore, da PP Foresight, atribuiu a queda de mais de 7% no overnight de terça ao impacto direto da questão tributária com o Brasil. Para ele, o desempenho da empresa foi sólido, mas o custo inesperado acabou ofuscando os resultados positivos.
Segundo a própria Netflix, sem o custo retroativo, a companhia teria superado suas metas de margem e rentabilidade no trimestre.
Mesmo com esse revés, a empresa estima que o crescimento deve continuar. Para o quarto trimestre, a previsão é de receita em torno de US$ 11,96 bilhões, superando ligeiramente a expectativa dos analistas, e lucro por ação diluído de US$ 5,45.
Apesar da forte receita e crescimento operacional, o resultado ficou aquém da empolgação gerada em trimestres anteriores.
Para o JPMorgan, que reduziu seu preço-alvo para US$ 1.275, a disputa fiscal no Brasil gerou ruído, mas o foco do mercado está na ausência de surpresas positivas na receita da segunda metade do ano.
Segundo o banco, a situação é "um ajuste retroativo no terceiro trimestre e de um custo contínuo de pouco mais de US$ 40 milhões por trimestre daqui para frente" — equivalente a cerca de 0,5% da base total de despesas da Netflix.
Geetha Ranganathan, da Bloomberg Intelligence, afirma que os resultados foram "decepcionantes". “Investidores esperavam que a empresa aumentasse sua projeção de margem operacional para 2025 de 30% para algo entre 31% e 32%, mas a companhia reduziu essa expectativa”, disse.
Segundo ela, grande parte desse recuo pode ser atribuída à surpresa negativa com o desempenho da margem no terceiro trimestre, considerando o calendário de lançamentos que a própria empresa havia promovido.
A especialista destacou ainda que os trimestres terminados em setembro e dezembro foram apontados pela Netflix como períodos com um dos catálogos de conteúdo mais fortes de sua história. Títulos como K-pop Demon Hunters, Round 6 (temporada 3) e Wandinha (temporada 2) impulsionaram o engajamento dos usuários, mesmo diante do impacto financeiro não previsto.
Em uma mudança de estratégia, a plataforma deixou de divulgar o número de assinantes e tem direcionado o foco dos investidores para as métricas de receita e lucratividade.
Apesar disso, a empresa comemorou o que chamou de “engajamento recorde dos assinantes”. Segundo Geetha, as horas assistidas e o engajamento geral no terceiro trimestre subiram entre 20% e 22% em relação ao mesmo período anterior, refletindo o sucesso desses grandes lançamentos.
A empresa deve encerrar o ano com estreias estratégicas: a temporada final de Stranger Things está prevista para novembro e dezembro, e dois jogos da National Football League serão transmitidos ao vivo no Natal — marcando uma nova aposta em esportes ao vivo.
“Conteúdo impulsiona engajamento, que por sua vez impulsiona monetização — e é aí que está o poder de precificação da Netflix”, disse.
Segundo a Netflix, a disputa tributária no Brasil é um grande vilão nos resultados — e uma falha inesperada em um processo que a empresa acreditava já ter resolvido.
O impacto bilionário foi desencadeado por uma decisão do Supremo Tribunal Federal (STF), em agosto, que validou a ampliação da CIDE-Royalties sobre remessas internacionais relacionadas ao licenciamento de marcas e propriedade intelectual.
O tributo, de 10%, incide sobre pagamentos realizados por empresas brasileiras a entidades no exterior. No caso da Netflix, trata-se da remuneração da subsidiária brasileira à matriz americana pelos direitos que viabilizam o funcionamento da plataforma no país.
Em 2022, a empresa havia vencido uma disputa em instância inferior, o que a isentava da cobrança. A partir disso, deixou de registrar a despesa nas demonstrações financeiras. A decisão do STF, no entanto, reverteu essa posição e obrigou a Netflix a contabilizar o valor retroativamente, cobrindo o período entre 2022 e o terceiro trimestre de 2025.
Durante teleconferência com investidores, o CFO Spencer Neumann afirmou que a cobrança não é exclusiva da empresa nem do setor de streaming, e que outras companhias também poderão ser impactadas pela decisão judicial.