Redatora
Publicado em 24 de junho de 2025 às 10h29.
A Netflix pode estar prestes a dar um passo ousado no mundo dos vídeos curtos. Na visão de Steven Cahall, analista do Wells Fargo, a plataforma deveria apostar em conteúdos de curta duração para rivalizar diretamente com gigantes como YouTube, TikTok e Instagram.
Em um relatório recente, Cahall afirma que a estratégia poderia ajudar a Netflix a se aproximar do público mais jovem, acostumado a consumir vídeos rápidos no celular. “O formato mais curto pode ajudar a Netflix a atravessar as mudanças geracionais”, escreveu.
Na prática, isso significaria expandir o catálogo para além dos filmes e séries tradicionais, incluindo mininovelas verticais e clipes. A companhia já começou a flertar com esse modelo ao firmar parcerias como a com a criadora infantil Ms. Rachel e ao investir em melhorias na experiência mobile, como o feed vertical e uma busca turbinada por inteligência artificial.
A aposta não seria apenas uma forma de atrair audiência, mas também de seduzir criadores de conteúdo que hoje vivem, muitas vezes, da imprevisibilidade das plataformas. No YouTube, por exemplo, os criadores recebem 55% da receita de anúncios, mas só ganham dinheiro se o vídeo realmente viraliza.
“Eles fazem tudo por conta própria e assumem todo o risco”, disse Ted Sarandos, co-CEO da Netflix, em uma fala anterior sobre o modelo do YouTube.
A proposta, segundo Cahall, seria virar esse jogo: a Netflix poderia pagar valores fixos e garantir contratos de longo prazo com os principais criadores. Isso traria estabilidade para quem produz e custos mais baixos para a própria plataforma. O analista calcula que, nesse modelo, a Netflix pagaria cerca de US$ 60 por cada mil horas assistidas, 26% abaixo do que desembolsa hoje na média por conteúdos tradicionais.
Nem todo o mercado, porém, está convencido de que esse é o melhor caminho. Joseph Bonner, da Argus Research, vê o movimento com ceticismo. Para ele, a Netflix deveria priorizar o avanço da tecnologia de publicidade e o desenvolvimento do plano com anúncios, em vez de tentar bater de frente com YouTube e TikTok.
Enquanto a Netflix avalia investir nos vídeos curtos, o YouTube faz justamente o movimento contrário: aposta pesado no conteúdo longo e na sua versão para TVs. Hoje, o aplicativo do YouTube na TV já supera em audiência os acessos via celular ou computador.
O modelo tem dado retorno. Segundo Fede Goldenberg, líder de parcerias de TV e filmes do YouTube, 30% dos criadores da plataforma já geram a maior parte da receita a partir dos vídeos assistidos na TV. Podcasts, por exemplo, somam 400 milhões de horas mensais e são vistos por 1 bilhão de pessoas no app de TV.
A missão declarada do YouTube é se tornar uma plataforma única, que concentra tanto o conteúdo curto quanto o longo, e segura o público na tela por mais tempo. “Nosso desafio é fazer com que as pessoas que assistem um vídeo queiram continuar na plataforma, sem buscar outros apps”, disse Paul Snow, líder de esportes e parcerias de estúdios do YouTube.