Mesmo com a queda recente, a Berkshire ainda vale mais de US$ 1 trilhão (Daniel Zuchnik / Colaborador/Getty Images)
Editora do EXAME IN
Publicado em 19 de junho de 2025 às 10h59.
Última atualização em 19 de junho de 2025 às 12h15.
As ações da Berkshire Hathaway acumulam queda superior a 10% desde o dia 3 de maio, quando Warren Buffett anunciou que deixará o cargo de CEO no fim deste ano. O movimento contraria a previsão do próprio megainvestidor de que os papéis subiriam com sua sucessão definida — e alimenta a leitura de que parte do valor da empresa era impulsionado pelo chamado “prêmio Buffett”.
A desvalorização representa uma performance cerca de 15 pontos percentuais inferior ao S&P 500 no mesmo período, e reacende dúvidas entre investidores sobre o futuro da companhia sem o investidor mais respeitado de Wall Street à frente das decisões.
“Estou surpreso com a magnitude da queda das ações da Berkshire… especialmente considerando que Buffett só deixará o cargo de CEO em 31 de dezembro”, afirmou David Kass, professor da Universidade de Maryland e acionista de longa data da empresa, ouvido pela CNBC.
Segundo ele, a ação pode cair até 20% no curto prazo, à medida que investidores se desanimam com a performance recente.
No evento anual com acionistas, realizado em Omaha no dia 3 de maio, Buffett afirmou que seguirá como presidente do conselho, mas decidiu passar o bastão de CEO a Greg Abel, atual vice-presidente responsável pelos negócios não relacionados a seguros.
A escolha do sucessor já havia sido comunicada informalmente anos antes, mas a formalização acentuou a percepção de que a era Buffett está chegando ao fim.
Parte da queda também reflete o desempenho fraco no primeiro trimestre. O lucro operacional da Berkshire — que inclui negócios como a seguradora GEICO, a BNSF Railway e outras empresas controladas — recuou 14% na comparação anual, para US$ 9,64 bilhões.
“Nos primeiros dias após o anúncio, o movimento pareceu muito ligado à correção do prêmio Buffett”, disse Kevin Heal, analista da Argus Research. “Depois, o que pesou foram os resultados dos ativos que compõem o portfólio, tanto listados quanto privados.”
Para o Oráculo de Omaha, Warren Buffett, este é o segredo do sucesso — e a ciência concordaA queda recente veio em cima de uma perfomance estelar no ano. A Berkshire estava no seu maior valor histórico no fatídico dia de anúncio da aposentadoria.
Por isso, analistas acreditam que o papel continua negociando com algum grau de prêmio. Meyer Shields, da Keefe, Bruyette & Woods, estima que ainda haja de 5% a 10% de “efeito Buffett” embutido no preço atual das ações, sustentado pelo fato de ele permanecer no conselho até segunda ordem.
A dúvida que paira é sobre o que muda com Greg Abel. A expectativa do mercado é que ele assuma a gestão não só das mais de 100 subsidiárias da Berkshire, mas também da carteira de ações — tarefa até agora centralizada em Buffett e em seus auxiliares Todd Combs e Ted Weschler.
Segundo a Barron’s, investidores não estão pagando hoje qualquer prêmio para “embarcar na era Abel”. Isso não significa necessariamente desconfiança, mas sim um período de avaliação.
“O mercado vai observar com atenção como Abel decide alocar capital, lidar com o portfólio acionário e se manter fiel à cultura descentralizada da Berkshire, que foi cuidadosamente construída por Buffett ao longo de seis décadas”, resumiu a publicação.
Mesmo com a queda recente, a Berkshire ainda vale mais de US$ 1 trilhão. Mas a derrocada desde a máxima histórica, reforça o desafio de manter a confiança do mercado no pós-Buffett — e coloca os holofotes sobre a capacidade de Abel em preservar o modelo que tornou a empresa uma lenda do capitalismo americano.