Por que a Petrobras resiste a queda do petróleo? (CFOTO/Future Publishing/Getty Images)
Repórter de mercados
Publicado em 18 de abril de 2025 às 07h45.
Desde o anúncio do tarifaço do presidente Donald Trump em 2 de abril, as ações da Petrobras (PETR4) já caíram quase 15% na bolsa, ceifando R$ 91 bilhões em valor de mercado e levando aos papéis ao menor patamar desde agosto de 2023.
A queda vem na esteira do recuo de mesma magnitude do petróleo, que atingiu o menor patamar em quase quatro anos, no patamar de US$ 60 para o barril do Brent, em meio aos temores de desaceleração da economia global com o acirramento da guerra comercial.
A decisão da Opep de aumentar a produção em maio também contribuiu para o movimento.
Apesar disso, analistas de mercado seguem com suas recomendações de compra para os papéis da petroleira nacional, destacando-a como uma das mais resilientes entre as produtoras mundiais para enfrentar o cenário mais desafiador para os preços da commodity.
Itaú BBA, BTG Pactual e UBS tem preço-alvo de R$ 49 para os papéis ordinários, um potencial de valorização de 58% em relação à cotação atual.
Com custos de extração bastante baixos, a expectativa é que a Petrobras mantenha sua capacidade de gerar caixa e de pagar bons dividendos, compondo o retorno total do papel, mesmo com os preços de petróleo mais deprimidos.
“Com um “lifting cost”, custo de extração, de apenas US$ 6 por barril e um perfil de endividamento bastante saudável, a empresa possui boa margem de segurança para atravessar períodos de maior estresse nos mercados e seguir remunerando os acionistas”, explica o analista-chefe da VG Research, Lucas Lima.
Num evento na semana passada, a diretora de produção e Exploração da Petrobras, Sylvia dos Anjos afirmou que os projetos da Petrobras são resilientes até um preço de US$ 28 por barril, valor muito inferior ao nível atual.
Na avaliação do Itaú BBA, a geração de fluxo de caixa livre por ação da empresa (indicador conhecido como FCFE, na sigla em inglês) se mantém positiva mesmo com o barril a US$ 46.
Por enquanto, a expectativa do mercado é que os preços do petróleo devam continuar mais deprimidos, mas longe de situações de mais estresse, como durante a Covid, quanto o Brent chegou a tocar o patamar dos US$ 20.
O Goldman Sachs espera que o preço médio do Brent fique em US$ 63 por barril em 2025, caindo para US$ 58 em 2026, conforme a guerra comercial pese mais sobre a economia.
No cenário mais pessimista – e por enquanto menos provável do banco –, com uma desaceleração global severa e reversão total de cortes voluntários de produção da Opep, a commodity poderia cair para o patamar de US$ 40 por barril no próximo ano.
Apesar das cotações da Petrobras poderem sofrer algum tipo de volatilidade com as oscilações do petróleo, o retorno via dividendos dá bastante conforto aos acionistas. As estimativas do Itaú aponta que o dividend yield da companhia é de aproximadamente 12% caso os preços do petróleo caiam para US$ 55, e sobem para 14% se ficarem em US$ 65 o barril.
No mesmo sentido, o BTG (do mesmo grupo de controle da EXAME) diz que a Petrobras funciona como uma opção defensiva nesse cenário conturbado, colocando-a como sua top pick no setor de petróleo e gás na América Latina, especialmente pela sua capacidade de seguir distribuindo dividendos.
O banco reforça aspectos positivos, como uma alocação de capital disciplinada, fundamentos sólidos no segmento de exploração e produção e uma melhora na entrega operacional.
“A administração não espera impactos operacionais relevantes decorrentes das atuais tensões comerciais globais. O principal canal de influência seria por meio dos preços do Brent e dos spreads de refino, que estão sendo cuidadosamente monitorados — mas não há previsão de interrupções logísticas ou na cadeia de suprimentos”, escreveram os analistas depois de um roadshow com a administração da companhia.
Do ponto de vista operacional, os analistas observam um potencial de superação da meta de produção de 2,3 milhões de barris por dia em 2025.
“Esperamos ver adições materiais às reservas entre 2025 e 2026, impulsionadas pelas possibilidades de extensão contratual recentes e pelo desenvolvimento estratégico da Margem Equatorial, o que também reforça uma visão construtiva para o médio prazo”, disseram os analistas do banco.
A Petrobras tem uma política de remuneração aos acionistas que prevê a distribuição de 45% do seu Fluxo de Caixa Livre (FCL).
Além disso, a empresa possui uma política de remuneração mínima anual de US$ 4 bilhões, desde que o preço médio do Brent seja superior a US$ 40 o barril.
Se os preços do petróleo permanecerem em torno de US$ 65 o barril pelo restante do ano, o Itaú BBA estima que a empresa precisaria aumentar sua dívida bruta para US$ 64 bilhões até o final do ano, em comparação com US$ 60 bilhões no quarto trimestre de 2024 para cumprir os pagamentos de dividendos ordinários previstos para este ano.
O valor ainda ficaria abaixo do limite máximo de dívida bruta de US$ 75 bilhões.
Mas se o barril cair para menos de US$ 50, a expectativa é que o aumento de alavancagem necessário para manter a política de dividendos elevaria a dívida bruta acima dos US$ 75 bilhões no próximo ano.
“Reconhecemos que a empresa pode considerar oportunidades de alavancagem para priorizar os pagamentos de dividendos no curto prazo, embora haja incertezas quanto ao grau e à duração dessas ações”, disseram os analistas do Itáu BBA.
Se por um lado há espaço para aumentar o endividamento, UBS alerta que, por outro, não há flexibilidade do plano de investimentos.
“Os projetos de longo prazo da Petrobras significam que há pouca margem para redução de capex — ainda mais com o governo pressionando a estatal a aumentar os investimentos”, escreveram os analistas do banco. No plano estratégico entre 2024 e 2028, a empresa informou que 83% do capex já estava comprometido; no plano entre 2025 e 2029, esse número subiu para 92%”.
Já Ilan Arbetman, da Ativa Investimentos, vê um pouco mais de flexibilidade e alternativas num cenário de petróleo mais pressionado, além do aumento da alavancagem.
“Se o Petróleo Brent ficar abaixo de US$ 55 por um longo período, a Petrobras poderia ser mais flexível em termos de alocação de capital, reduzindo investimentos ou redirecionando para projetos mais rentáveis”, diz o analista.