Jerome Powell: coletiva após decisão do Fed deve indicar próximos passos para os juros nos EUA (Chip Somodevilla/Getty Images)
Repórter
Publicado em 29 de outubro de 2025 às 06h00.
O mercado financeiro global volta suas atenções nesta quarta-feira, 29, para a oitava e penúltima reunião do ano do Federal Reserve (Fed), o banco central dos Estados Unidos. Em setembro, pela primeira vez em 2025, a instituição cortou a taxa básica de juros em 0,25 ponto percentual, levando-a para o intervalo de 4% a 4,25% ao ano. Agora, a expectativa é de um novo corte, o que marcaria a consolidação de um afrouxamento no ciclo da política monetária norte-americana.
O primeiro movimento veio após meses de críticas do presidente Donald Trump, que acusa os juros altos de travarem a economia, e em meio a dúvidas sobre o impacto do aumento de tarifas na inflação.
Na última reunião, o Fed justificou a decisão pelo corte afirmando que a atividade econômica havia moderado no primeiro semestre e a criação de empregos desacelerou, enquanto o desemprego subiu ligeiramente.
Desta vez, a decisão ocorre em meio a um contexto incomum: desde 1º de outubro, os Estados Unidos vivem uma paralisação parcial, o shutdown, do governo federal, que interrompeu a divulgação de diversos indicadores, como dados de desemprego e vendas do varejo.
Apenas o índice de preços ao consumidor (CPI) foi publicado na última sexta-feira, 24, com alta mensal de 0,3%, ligeiramente abaixo do esperado e o suficiente para reforçar as apostas em mais um corte.
A ferramenta FedWatch, do CME Group, mostra que a probabilidade de que a autoridade monetária reduza novamente a taxa, para o intervalo de 3,75% a 4% ao ano, é de 99,9%. Caso se confirme, a diferença entre os juros americanos e os brasileiros chegará a 11 pontos percentuais, a maior desde 2022.
"Quando o Fed corta juros, ele muda o eixo de gravidade do capital global", diz Fernando Camargo Luiz, sócio da Garoa Wealth Management.
Segundo ele, com rendimentos menores nos títulos do Tesouro americano, os chamados treasuries, os investidores tendem a buscar retornos maiores em outros mercados. "O dinheiro que antes estava estacionado nos Estados Unidos começa a olhar para fora, especialmente para economias emergentes, onde o prêmio de risco ainda é compensador".
O movimento abre espaço para a migração de recursos tanto para a renda variável quanto para a renda fixa de países que oferecem juros mais altos. Com a taxa básica em 15% ao ano, o Brasil volta ao radar de investidores estrangeiros, que podem encontrar aqui um prêmio de risco mais atraente.
Na prática, um corte de juros pelo Fed tende a reduzir o custo de oportunidade de investir em ações e crédito, favorecendo empresas de crescimento, como as de tecnologia e consumo, mais sensíveis às taxas de financiamento.
"A renda variável é a principal beneficiada", diz Gabriel Mollo, analista da Daycoval Corretora. Segundo ele, setores como tecnologia, varejo e small caps tendem a reagir melhor a esse ambiente. "Os ETFs ligadas à Bolsa, principalmente ali ao setor de consumo ou de tecnologia devem se beneficiar mais desse corte, porque são setores mais sensíveis à taxa de juros do que os outros que também vão se beneficiar, mas não tanto quanto", diz ele.
Dentro da renda fixa, Mollo avalia que os títulos indexados à inflação ganham relevância nesse cenário. "Com juros menores, há estímulo à economia e risco maior de aceleração dos preços, o que torna esses papéis interessantes para proteção do capital".
Uma eventual nova redução dos juros também impactará no câmbio, em que o efeito pode ser de enfraquecimento do dólar e fortalecimento das moedas emergentes.
Sidney Lima, da Ouro Preto Investimentos, lembra que esse tipo de movimento tende a aliviar a pressão sobre o real e reduzir a volatilidade global. "Um Fed mais brando abre espaço para que o Banco Central do Brasil mantenha ou até reduza a Selic, o que melhora o ambiente para o crédito e para novos investimentos"
Por outro lado, Lima ressalta que, se o corte for interpretado como sinal de fragilidade da economia americana, o efeito pode ser o inverso, com maior aversão ao risco e valorização do dólar.
Apesar da quase unanimidade das projeções, parte dos analistas lembra que o shutdown dificulta a leitura dos dados e pode levar o Fed a agir com mais cautela.
Segundo Felipe Sant'Anna, da Axia Investing, Jerome Powell, presidente do BC norte-americano, costuma evitar movimentos arriscados e, sem dados de inflação e emprego atualizados, não seria totalmente impossível uma pausa neste mês.
"Por medo, talvez, de ter que retomar um ciclo de alta dos juros caso as coisas não andem bem, pode ser que ele se utilize disso, junto com os outros diretores, para não mexer na taxa de juros, interromper o ciclo de cortes por carência de dados", afirma Sant'Anna.
Mollo, do Daycoval, conclui que para o investidor, o recado é de atenção e adaptação. "Minha recomendação para os investidores é que reduzam gradualmente a sua exposição em renda fixa, aumentando em renda variável e principalmente ficar de olho nos setores de tecnologia, varejo e também mercados emergentes que tendem a ter um retorno maior dado o risco".