Balanços: bancões reportaram números do terceiro trimestre nesta semana (fotog/Getty Images)
Repórter de finanças
Publicado em 15 de outubro de 2025 às 12h49.
Otimismo é a palavra que melhor define a nova safra de resultados dos grandes bancos dos Estados Unidos. A temporada, que começou nesta semana, trouxe números acima das expectativas para as principais instituições financeiras — Morgan Stanley, Bank of America (BofA), Citigroup, Goldman Sachs, JPMorgan e Wells Fargo. No balanço dos balanços, recordes e surpresas positivas.
Para além do desempenho das respectivas ações, os resultados oferecem uma leitura mais ampla sobre o estado da economia americana.
William Castro Alves, estrategista-chefe da Avenue, destaca um indicador-chave: as provisões para devedores duvidosos (PDD). Elas mostram quanto os bancos reservam para possíveis calotes — e funcionam como um termômetro da confiança no futuro.
“Quando há receio de recessão ou de aumento na inadimplência, os bancos ampliam essas provisões. Mas não foi o que vimos agora. A maioria reduziu a PDD, e quem aumentou, fez isso de forma marginal”, explica Alves.
Segundo ele, isso indica que as instituições não enxergam uma recessão no horizonte. “Os bancos americanos estão olhando à frente e não veem um cenário econômico ruim, mesmo as tarifas. Eles não estão se preparando para o pior — ou não acreditam que o pior vai acontecer.”
Em meio a diversas incertezas, contudo, os executivos seguem atentos aos riscos e estão adotando um tom de cautela.
O CEO do Wells Fargo, Charlie Scharf, destacou o foco em eficiência e gestão de riscos, ressaltando que a qualidade do crédito ainda é forte, mas exige monitoramento constante diante de uma possível desaceleração.
David Solomon, do Goldman Sachs, adotou um “otimismo cauteloso” com a retomada das operações de investment banking, mas reconheceu que o ambiente macroeconômico segue desafiador.
Já Brian Moynihan, do Bank of America, elogiou a solidez do consumidor americano — que mantém ritmo estável de gastos e pagamentos —, mas admitiu a chance de uma leve recessão e reforçou a disciplina na gestão de riscos.
“Há uma dualidade clara nas falas dos executivos”, diz Nickolas Lobo, especialista em investimentos da Nomad.
“Por um lado, eles reconhecem a força do consumidor americano — Jamie Dimon, do JPMorgan, chamou os clientes de ‘resilientes’; Scharf, do Wells Fargo, disse que a saúde financeira segue forte. Por outro, manifestam preocupação com a persistência da inflação, o enfraquecimento do poder de compra e as tensões geopolíticas.”
Lobo acrescenta que, embora a inadimplência ainda esteja baixa, há um consenso de que ela deve se normalizar nos próximos trimestres.
Os números falam por si. O Morgan Stanley lucrou US$ 4,6 bilhões no trimestre encerrado em setembro, alta de 44% em relação a um ano antes. O BofA registrou US$ 8,5 bilhões (alta de 23%), o Citigroup US$ 3,8 bilhões (16%), o Goldman Sachs US$ 4,1 bilhões (37%), o JPMorgan US$ 14,4 bilhões (12%) e o Wells Fargo US$ 5,59 bilhões (9,3%).
Segundo Lobo, os resultados foram impulsionados principalmente pelas divisões de varejo. “A resiliência do consumidor americano se reflete nos números: o Wells Fargo teve aumento de 13% na receita de cartões de crédito, e o Bank of America reportou crescimento de 9,1% na receita líquida de juros”, observa.
Nas áreas de atacado, houve sinais de recuperação após meses de fraqueza. O aumento nas operações de fusões e aquisições impulsionou as receitas de investment banking, com destaque para o salto de 43% no BofA. As mesas de trading de JPMorgan e Goldman Sachs continuaram se beneficiando da volatilidade dos mercados, enquanto o segmento de wealth management manteve trajetória de expansão.