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O teste de fogo dos mercados: com tarifas de Trump à espreita, até quando resiliência vai durar?

Novas tarifas dos EUA geram volatilidade nos mercados financeiros e afetam setores estratégicos globalmente

Publicado em 18 de julho de 2025 às 07h10.

A decisão de Donald Trump de impor tarifas de até 50% sobre as importações de vários países, incluindo os principais parceiros comerciais como Brasil e Japão, desencadeou uma reação imediata nos mercados financeiros. O Ibovespa, principal índice da bolsa brasileira, sofreu uma queda significativa de mais de 1% imediatamente após o anúncio das tarifas. Já os índices americanos, como o S&P 500 e o Nasdaq, inicialmente apresentaram perdas, mas rapidamente se recuperaram. Para as bolsas de valores globais, o momento é de teste de resiliência.

Os índices americanos, liderados pelo Nasdaq e S&P 500, voltaram a registrar máximas históricas, impulsionados por uma forte temporada de resultados corporativos positivos e a resiliência do consumidor nos EUA. O S&P 500, por exemplo, fechou a quinta-feira, 17, em uma nova máxima recorde: o índice subiu 33,66 pontos, ou 0,54%, encerrando o dia em 6.297,36 pontos — o maior fechamento de sua história até então. 

Nem todos os mercados estão imunes ao impacto das tarifas. O Ibovespa, apesar de algumas recuperações na última semana, continua a viver um cenário desafiador, refletindo a preocupação de investidores com o efeito das tarifas nas exportações brasileiras, especialmente no setor de commodities. Até a quinta, o índice brasileiro acumulava uma queda de 2,3% no mês. E, segundo o Big Mac Index, da The Economist, o real está 28,4% desvalorizado em relação ao dólar.

Do outro lado do mundo, os mercados europeus e asiáticos mostram uma performance mista. Embora o FTSE 100 da Inglaterra tenha se beneficiado de acordos comerciais recentes e uma política mais focada no crescimento verde, outros índices como o DAX alemão e o Nikkei japonês registraram volatilidade devido à pressão externa e a incerteza gerada pelos novos aumentos tarifários. A Europa não está lidando com os impactos das tarifas, mas também com desafios internos, como o aumento de preços e a escassez de fornecimento no setor energético, que pesam sobre os mercados financeiros.

Mas o risco de uma desaceleração do crescimento global permanece. De acordo com o Goldman Sachs (GS), as tarifas poderiam reduzir o crescimento econômico mundial em até 0,4% em 2025. Além disso, as retaliações comerciais, especialmente por parte de potências como a China, podem resultar em uma espiral de depreciação da moeda e novas barreiras comerciais, impactando negativamente o comércio global.

O JPMorgan, por sua vez, alerta que as tarifas podem reduzir o crescimento global. Estima-se que o Produto Interno Bruto (PIB) dos EUA pode sofrer uma queda de 1 ponto percentual caso essas tarifas sejam mantidas por um período prolongado, com a inflação crescendo cerca de 2%. Isso afetaria o poder de compra dos consumidores americanos, que, até então, mantiveram uma postura robusta em relação ao consumo. O aumento de preços em setores-chave, como vestuário e calçados, tem sido visível, com os preços subindo até 40% em algumas categorias.

Caos e paz

Embora o efeito imediato nas bolsas tenha sido de volatilidade, o medo de um colapso econômico generalizado — ainda — não se concretizou. Investidores demonstraram cansaço de manchetes sobre tarifas, tratando as ameaças como parte de um ciclo repetido de negociações que, no final, poderiam resultar em alívio para os mercados, segundo analistas de Wall Street.

O otimismo nos índices americanos foi evidente logo após o anúncio das tarifas. As bolsas dos EUA foram impulsionadas pelo desempenho positivo das vendas no varejo de junho, que mostraram um aumento de 0,6% nas vendas, superando as expectativas do mercado. “Os consumidores estão flexionando seus músculos de gasto novamente”, diz Gina Bolvin, presidente da Bolvin Wealth Management Group. Ela destaca que a recuperação nas vendas sugere que "o comprador americano está vivo e bem — e isso é importante para os mercados."

Apesar do aumento nas vendas, a análise mais detalhada dos dados de junho revelou que alguns setores, como móveis e eletrônicos, sofreram mais com o aumento de preços causado pelas tarifas. “O gasto do consumidor ajustado pela inflação permaneceu inalterado em junho”, disse Michael Pearce, economista da Oxford Economics, ao MarketWatch . Ele aponta que, embora as vendas tenham subido em várias categorias, os preços mais altos pesaram especialmente em lojas de móveis e eletrônicos, que estão na linha de frente dos aumentos tarifários.

Pearce e sua equipe preveem que “mais dificuldades virão”, com os preços subindo “muito mais nos próximos meses” antes que as condições melhorem, provavelmente só depois de 2026. Ele alertou ainda que “esses aumentos de preços seriam exacerbados se as tarifas adicionais de 1º de agosto se concretizarem”. Para ele, “os preços mais altos piorarão a desaceleração no crescimento da renda disponível real, impactando o gasto no curto prazo.”

Nos mercados emergentes, como o Brasil, a situação é mais desafiadora. O Ibovespa caiu mais de 1% imediatamente após o anúncio das tarifas, com setores como energia, agricultura e manufatura sendo particularmente afetados. Empresas como Petrobras, Vale e Embraer sofreram perdas consideráveis. A preocupação com o impacto nas exportações brasileiras, especialmente no mercado norte-americano, pesa sobre os investidores.

Apesar disso, mesmo com a volatilidade, “a morte do consumidor foi exagerada”, diz Chris Zaccarelli, CIO da Northlight Asset Management. Ele sublinha que “o consumo continua forte” e que, enquanto a economia continuar se expandindo e o desemprego permanecer baixo, “as pessoas continuarão gastando”. Zaccarelli destaca que, “embora as avaliações das ações estejam altas, enquanto a economia continuar a se expandir, os lucros continuarão a crescer, o que é o motor para preços mais altos das ações”.

Para o mercado, o verdadeiro teste virá com a implementação das tarifas adicionais previstas para 1º agosto. Até lá, está aberta a temporada de treinamento.

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