Paralisação do governo americano deixa mercado no escuro (Imagem gerada por IA)
Editor de Invest
Publicado em 2 de outubro de 2025 às 11h28.
Última atualização em 2 de outubro de 2025 às 11h31.
A paralisação dos órgãos governamentais nos Estados Unidos vai deixar o mercado sem um dado importante esta semana: os números oficiais do mercado de trabalho americano, o famoso payroll. É uma estatística que ganhou uma importância ainda maior recentemente, já que o Federal Reserve se baseou em números de emprego para voltar a reduzir os juros no país. A próxima reunião de política monetária está marcada para os dias 28 e 29 de outubro.
"Claro que cria um pouco mais de incerteza. Mas, como a reunião é só no final do mês, não vejo ninguém precificando ausência de dados até lá", afirma Gustavo Cruz, estrategista-chefe da RB Investimentos.
Ele explica que ao contrário do Brasil, onde o Banco Central é fortemente dependente dos dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o Fed tem regionais nos Estados Unidos e fazem acompanhamento constante da economia em suas respectivas áreas — diagnósticos que aparecem mensalmente no Livro Bege.
"Não é como se os dirigentes do Fed estivessem cegos", diz Cruz, que segue apostando em mais um corte de juros no final do mês.
Luis Otavio de Souza Leal, economista-chefe da G5 Partners, afirma que o mercado vai "se virando" com as estatísticas que tem, à exemplo da pesquisa ADP.
O dado, divulgado ontem, apontou para um corte de 32 mil empregos no setor privado americano em setembro, muito pior que o esperado — o consenso do mercado apontava para uma criação de 50 mil postos.
"Isso corrobora com a hipótese de que o mercado de trabalho americano está desacelerando e aumenta a probabilidade de continuidade do afrouxamento monetário nos Estados Unidos", diz Gustavo Sung, economista-chefe da Suno Research.
Para ele, a paralisação traz volatilidade, mas não muda a percepção de que os juros nos EUA vão cair nem o apetite por renda variável, ao menos no curto prazo.
"Mesmo durante a nebulosidade, as decisões de investimento não vão ser afetadas, porque o mercado continua enxergando ainda o ciclo de queda de juros e isso é um gatilho de apetite por bolsa".
"Tudo vai depender muito do tempo que [a paralisação] durar. Não apenas com relação a falta de dados, mas também com o impacto sobre a economia", complementa Leal.
Alexandre Mathias, estrategista-chefe da Monte Bravo, lembra que, em outras paralisações, cada semana de "shutdown" pode reduzir o PIB dos EUA em 0,1% — mas esse impacto econômico geralmente se reverte quando as atividades são retomadas. "O efeito mais importante é a suspensão da divulgação de dados econômicos, como números de emprego e inflação, o que pode aumentar a incerteza",
Ele acredita que há chances de o Fed chegar sem informações na reunião de política monetária deste mês, se a paralisação se estender por mais tempo "Isso não deve alterar a decisão de cortar em 0,25 ponto percentual, mas é extremamente desconfortável pilotar economia americana em voo cego", afirma.