A reunião entre os presidentes dos Estados Unidos, Donald Trump, e Vladimir Putin, da Rússia, deve, mais do que movimentar o cenário geopolítico, impactar diretamente nos preços do petróleo. O encontro, programado para esta sexta-feira, 15, às 16h30, no horário de Brasília, tem como principal assunto a guerra da Ucrânia — e pode resultar em mudanças significativas nas políticas de sanções e no fornecimento global da commodity.
Especialistas apontam dois cenários principais possíveis para o comportamento dos preços. O primeiro, mais otimista, seria a possibilidade de um acordo de paz entre Rússia e Ucrânia. Caso os líderes cheguem a um consenso que leve ao fim das hostilidades, isso poderia resultar na retirada das sanções ocidentais impostas à Rússia.
Como consequência, a Rússia, que antes da guerra produzia cerca de 11 milhões de barris de petróleo por dia, segundo a International Energy Agency (IEA), poderia retomar sua produção plena, o que aliviaria as tensões no mercado e poderia fazer os preços caírem. Analistas estimam que os atuais prêmios de risco geopolítico nos preços do petróleo variam de US$ 5 a US$ 25 por barril.
Para Giovanni Staunovo, do UBS, a antecipação de um cessar-fogo poderia reduzir a tensão nos mercados. "O mercado está monitorando de perto a possibilidade de um cessar-fogo. A antecipação de um cessar-fogo poderia levar ao aumento da produção russa. A questão crucial é se as tensões irão escalar ou desescalar", afirmou ele à Reuters. "Mesmo que um acordo seja alcançado, provavelmente levaria um tempo considerável para suspender as sanções contra a Rússia, pois isso exigiria aprovação do Congresso americano", disse.
Se as negociações fracassarem e os Estados Unidos decidirem impor sanções ainda mais rigorosas à Rússia, incluindo medidas secundárias contra Índia e China, que continuam comprando petróleo russo, isso poderia retirar da circulação até 5 milhões de barris de petróleo por dia, segundo especialistas. Anthony Yuen, analista do Citi, prevê que a interrupção de compras de petróleo da Rússia por parte da Índia, que importa cerca de 1,7 milhão de barris diários, poderia provocar um aumento nos preços, possivelmente ultrapassando os US$ 80 por barril.
A commodity caía antes da reunião, com o Brent em queda de 0,51%, a US$ 66,50, e o WTI de 0,63%, cotado a US$ 63,56.
'Muito grande para falhar'
No mês passado, Trump anunciou que aplicaria uma tarifa de 100% sobre as compras de petróleo russo, caso Putin não alcançasse um acordo de paz com a Ucrânia em um prazo de 50 dias. A data, agora, foi adiada para o início de setembro.
O presidente americano também ameaçou impor tarifas mais altas para países que importam petróleo da Rússia, como a Índia e a China. A Índia é o maior exportador de petróleo russo, com 36% de seu mercado sendo abastecido com ele. A China, segundo dados da Vortexa, empresa de análise de energia, exporta 13,5% de petróleo da Rússia. Antes da guerra na Ucrânia, que começou em 2022, o número era de 7,7%.
Uma taxação adicional aos produtos chineses poderia aumentar o custo de produtos como iPhones nos Estados Unidos. Em entrevista à CNN, Staunovo, da UBS, afirmou que isso incomodaria o consumidor americano. "
A imposição de tarifas adicionais sobre produtos chineses, que já enfrentam uma taxa de 30%, aumentaria provavelmente o custo de produtos de consumo nos EUA, como iPhones. Giovanni Staunovo, analista de commodities do UBS Wealth Management, alerta que isso provavelmente incomodaria o consumidor americano.
A China já passou por isso. No início deste ano, Trump introduziu tarifas elevadas sobre produtos chineses, mas as reduziu drasticamente após negociações comerciais, mostrando que ele pode ceder diante das consequências econômicas para o mercado americano.
Já um eventual bloqueio da receita do petróleo russo por meio das tarifas secundárias também pode restringir o fluxo global, onde os preços são determinados. "A Rússia é grande demais para falhar", disse Staunovo à CNN. “A Rússia exporta 7 milhões de barris por dia de petróleo bruto e produtos refinados. São quantidades enormes que não se podem substituir tão facilmente.”