Tarifas: retirada da tarifa de 40% beneficia 44% do total de produtos que o país vendeu aos americanos em 2024 (Divulgação)
Repórter de finanças
Publicado em 21 de novembro de 2025 às 12h10.
Uma semana depois do governo de Donald Trump suspender a tarifa recíproca de 10%, os Estados Unidos (EUA) anunciaram a retirada do tarifaço de 40% para cerca de 200 produtos, incluindo carne e café.
O anúncio foi realizado durante o feriado do Dia da Consciência Negra, quando a bolsa brasileira estava fechada. Já nesta sexta-feira, 21, com a volta do mercado, as ações de empresas desses setores reagem à notícia.
Frigoríficos, como JBS (JBSS3), MRBF (MBRF3) e Minerva (BEEF3), figuram entre as maiores altas da bolsa. Por outro lado, não há na B3 fortes exportadores de café ou frutas.
De acordo com estimativas da XP Investimentos, os produtos recentemente isentos representaram aproximadamente US$ 4,4 bilhões (cerca de 11% das exportações brasileiras para os EUA) em 2024.
A retirada de tarifas de importação sobre produtos brasileiros, anunciada pelo presidente dos EUA, Donald Trump, beneficia 44% do total de produtos que o país vendeu aos americanos em 2024, segundo cálculo feito pela Câmara de Comércio Brasil-Estados Unidos (Amcham).
Segundo Felipe Sant'Anna especialista em investimentos do grupo Axia Investing, falta de proteína animal nos Estados Unidos, o que gera um aumento na inflação.
Com a retomada da exportação de carne do Brasil, o que pode acontecer no curto espaço de tempo é uma migração das importações americanas que estavam acontecendo em operações da Austrália e mesmo na América Latina para frigoríficos brasileiros.
“Mas hoje, se o papel subir, é só por especulação, porque o resultado disso a gente vai visualizar somente no próximo resultado trimestral dessas empresas”, comenta Sant’Anna.
Apesar da alta nas bolsas, quando analisado mais afundo, o impacto pode ser pequeno em empresas como MBRF. Isso porque a companhia já usava unidades na Argentina e no Uruguai para mandar carne para os Estados Unidos.
“Esse impacto na operação brasileira ainda é pequeno, seria em torno de 0,18% das vendas”, diz Alexandre Pletes, head de renda variável da Faz Capital. Às 11h53, o papel subia 1,77% a R$ 21,89.
O que pode acontecer, segundo o especialista, é a retomada de plantas que foram paralisadas no Brasil com o tarifaço.
Para Minerva, acontece o mesmo movimento. A companhia tem operações na Argentina, Uruguai e Paraguai, que são os principais exportadores para os Estados Unidos. Além disso, os EUA representam apenas cerca de 5% da receita total da empresa
“A Fitch já havia destacado que a diversificação dessas empresas ajudava a mitigar riscos tarifários, mas a retirada da sobretaxa reduz ainda mais a pressão sobre suas operações internacionais”, afirma João Abdouni analista da Levante Inside.
Além disso, a decisão tem efeito retroativo, permitindo que importações realizadas após 13 de novembro possam ter parte das tarifas reembolsadas, o que melhora a perspectiva financeira de curto prazo, explica o especialista.
Às 11h53 a ação subia 1,23% a R$ 6,60.
Pletes comenta que quem terá um impacto maior, pois tem toda uma cadeia para suprir o mercado americano, é a JBS. “Eles alimentam essa cadeia produtiva das plantas lá nos Estados Unidos, a maior produção, com gado daqui”, diz.
Às 11h53, a ação subia 1,93% a R$ 39,03.
Empresas da cadeia de madeira e celulose — como Suzano (SUZB3) e Klabin (KLBN11) — aparecem entre as potenciais beneficiadas, ainda que de forma marginal, já que produtos de madeira ficou fora da sobretaxa adicional.
Do outro lado, há setores que não entraram no grupo dos isentos. Aeronaves, partes e componentes aeronáuticos, além de itens ligados à mineração, metalurgia e à área de segurança nacional, seguem em categorias tarifárias sem alívio integral.
Na prática, isso significa que companhias como Embraer (EMBR3), Gerdau (GGBR4) e Usiminas (USIM5) não têm ganho direto com a mudança recém-anunciada e continuam expostas ao risco tarifário em determinadas linhas de exportação.
Os 200 produtos isentos agora se somam a uma lista de 700 mercadorias que haviam sido excluídas da tarifa de 40% anteriormente. Somada, as tarifas totalizavam 50% com a tarifa recíproca de 10% — aplicada em escala global.
Os anúncios trazem fôlego para setores exportadores, principalmente os agrícolas. Entre os principais produtos isentos estão carne bovina, café, frutas como laranja, abacaxi, banana, manga, açaí, cacau e derivados, especiarias, e fertilizantes (ureia, nitratos, potássicos, fosfatados).
Assim, itens como carne e café, que estavam com tarifa total de 50%, agora estão com a taxação zerada. Entretanto, a taxa de 40% se mantém para itens como máquinas, motores, calçados, café solúvel, pescados e mel.
Segundo Marcos Matos, diretor-geral do Conselho dos Exportadores de Café do Brasil (Cecafé), o novo corte no tarifaço pode dar ao setor um novo fôlego. "Agora, é hora de recuperar os prejuízos. E conseguimos ainda recuperar espaço nos blends, o que para nós é muito importante", afirma em entrevista à EXAME.
Em nota, a Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes (ABIEC) afirmou que "a reversão reforça a estabilidade do comércio internacional e mantém condições equilibradas para todos os países envolvidos".