Dividendos: setor de Energia e Financeiro se destacam com os maiores dividend yields dos últimos 12 meses (Germano Lüders/Exame)
Repórter de finanças
Publicado em 11 de julho de 2025 às 06h00.
Em meio a um possível cenário de fim do aperto monetário e a bolsa em patamares próximos às máximas históricas, aos poucos as ações voltam ao radar dos investidores com apetite por risco — e para quem quer ter renda passiva, as boas pagadoras de dividendos estão entre as favoritas. Segundo levantamento da Elos Ayta, com base nos balanços das companhias listadas, as empresas distribuíram R$ 94,33 bilhões em proventos no primeiro trimestre de 2025, o maior montante em três anos.
A pedido da EXAME, Victor Bueno, sócio e analista de ações da Nord Investimentos, levantou os setores que possuem os maiores dividend yields (DY) de junho de 2024 a junho de 2025: o setor de energia, onde é comum encontrar as chamadas 'vacas leiteiras', aparecem bem na frente, com 10,05% de rentabilidade, seguido pelos segmentos financeiro e de saúde, com yields de 6,79% e 6,71%, respectivamente.
Setor | Dividend yield (12M) |
---|---|
Energia | 10,05% |
Financeiro | 6,75% |
Saúde | 2,00% |
Utilidade Pública | 6,87% |
Serviços de Comunicação | 2,55% |
Imobiliário | 4,60% |
Materiais | 5,70% |
Industriais | 4,42% |
Consumo Discricionário | 2,31% |
Tecnologia da Informação | 1,33% |
Bens de Consumo Essenciais | 4,21% |
Não Classificados (NA) | 1,39% |
Média (Universo Investível) | 5,49% |
Fonte: Victor Bueno, sócio e analista de ações da Nord Investimentos
O dividend yield, ou rendimento de dividendos em bom português, é um indicador que mostra quanto uma empresa paga em proventos em relação ao preço de suas ações. Ou seja, é o percentual que o investidor recebe apenas com os proventos distribuídos, sem considerar a valorização do papel na bolsa.
Para Bueno, a previsibilidade do setor de energia faz com que ele seja um bom pagador de dividendos, afinal, é algo que todo mundo consome. “Energia, tanto geração como distribuição e transmissão, tem uma previsibilidade muito grande. Por isso, é comum vermos essas empresas pagando bons dividendos. Todos os anos, os valores tendem a ser bastante semelhantes”, explica.
Mas no levantamento, energia inclui também petróleo, e aqui temos uma das maiores empresas da bolsa pagando dividendos: a Petrobras (PETR4). Historicamente, com dividend yield na casa dos 40%, a empresa também é conhecida por pagamentos de dividendos extraordinários — assim como Vale (VALE3).
Mas esse ano as coisas podem ser diferentes.
"Estamos vendo uma certa volatilidade, com o tarifaço do Trump e tiveram as tensões no Oriente Médio também. Isso gera uma instabilidade maior para a commodity", afirmou o especialista. O Brent chegou a cair abaixo de US$ 60, depois subiu e ameaçou voltar para US$ 80. Esse movimento gera um cenário de incerteza.
“Pode ser que o mercado veja apenas dividendos ordinários neste ano. Mas dividendos na casa dos 10%, o que não seria ruim, pois ficaria acima da média”, comentou.
Ao rodar projeções com o barril do petróleo Brent em torno de US$ 60, Jayme Simão, sócio-fundador do Hub do Investidor, confirma que a tendência ainda é ter um bom dividendo distribuído pela petroleira, na casa dos 10%. “Nas nossas projeções, não é algo que preocupe ao nível de não pagar um dividendo adequado para ser uma das principais empresas a serem escolhidas com esse perfil.”
E Vale, será que paga dividendos extraordinários? Simião avalia que o preço do minério está comportado, mas deixa a questão em aberto.
“China vai, China vem, China cresce, China não cresce tanto quanto esperado, e o minério de ferro não perde determinados níveis. Novamente, em nossos modelos de fluxo de caixa futuro, a gente coloca sempre um deságio relevante e mesmo assim Vale está como dividendo esperado em torno de dois dígitos para os próximos 12 meses”, afirma.
Bueno, por sua vez, não acredita em proventos extras. Para ele, só seria viável falar em dividendo extraordinário para a Vale caso o minério de ferro estivesse acima de US$ 120. “Aí poderíamos pensar em algo acima do que vínhamos projetando.”
O setor financeiro, especialmente o bancário, continua sendo um dos grandes destaques na bolsa quando o assunto é dividend yield, aparecendo em segundo lugar no levantamento, com 6,79% de rentabilidade. No entanto, mudanças regulatórias e o aumento das provisões de crédito começam a desenhar um cenário de maior seletividade entre as instituições.
“A gente está numa mudança relativamente estrutural dentro do setor”, explicou Bueno. A mudança citada é a entrada em vigor da Resolução nº 4.966, que altera a forma de contabilização das provisões para perdas esperadas com crédito. “Essa resolução bate principalmente em cima das provisões dessas companhias.”
O Banco do Brasil (BBAS3), com forte exposição ao agronegócio, é um dos mais afetados até agora. Isso porque o agronegócio está muito pressionado, principalmente por uma questão de preço. “Isso afeta diretamente no lucro líquido e também nos dividendos”, afirma.
Com isso, a visibilidade em relação aos dividendos do Banco do Brasil em 2025 ficou mais nebulosa. Por outro lado, o Itaú (ITUB4) segue se destacando pela consistência nos resultados e na distribuição de dividendos.
“O Itaú não teve nenhuma pressão relevante dessa nova resolução. A inadimplência está muito confortável — são 15 trimestres consecutivos de queda. As provisões estão sob controle, o lucro renovando recordes, retorno sobre o investimento (ROE) muito alto, todas as condições são muito favoráveis para seguir entregando bons dividendos.”
Ainda assim, o desempenho do restante do setor deve ser monitorado de perto. “Se as outras instituições continuarem sofrendo com o aumento das provisões, isso pode gerar algum estresse generalizado no setor. A própria Selic elevada também pressiona bancos com atuação em faixas de renda mais baixas, como o Bradesco (BBDC4), que pode acabar comprometendo seus dividendos.”
Na avaliação da especialista, o Itaú tende a se destacar, mas os demais bancos podem enfrentar desafios. “O Itaú pode se salvar, mas o resto do setor pode acabar sendo pressionado e ficar para trás.”
A pedido da EXAME, a Elos Ayta compilou, por empresa, os maiores retornos com dividendos do último ano.
Empresa | Código | Setor | Dividend yield |
---|---|---|---|
Marfrig | MRFG3 | Carnes e derivados | 22,93% |
Direcional | DIRR3 | Incorporações | 20,05% |
Cemig | CMIG4 | Energia elétrica | 19,35% |
CSN Mineração | CMIN3 | Minerais metálicos | 15,99% |
Petrobras | PETR4 | Exploração, refino e distribuição | 14,66% |
Petrobras | PETR3 | Exploração, refino e distribuição | 13,81% |
Petrorecôncavo | RECV3 | Exploração, refino e distribuição | 11,83% |
BB Seguridade | BBSE3 | Seguradoras | 11,24% |
Bradespar | BRAP4 | Minerais metálicos | 10,96% |
Tim | TIMS3 | Telecomunicações | 10,38% |
Fonte: Elos Ayta Consultoria | Período: Últimos 12 meses até 30 de junho
Mas atenção: um dividend yield alto pode parecer atrativo à primeira vista, mas nem sempre significa que a empresa é boa ou saudável financeiramente. Isso porque o indicador, isoladamente, não revela o contexto por trás do pagamento de dividendos — e pode até mascarar fragilidades nos fundamentos da companhia.
Outro ponto de atenção são os dividendos extraordinários. Em determinadas situações, o yield fica elevado por causa desses pagamentos não recorrentes, como a venda de um ativo ou uma decisão pontual do conselho. Esse tipo de distribuição não costuma se repetir ano após ano e pode levar o investidor a uma falsa impressão de consistência, quando, na verdade, o alto retorno não é sustentável.