Repórter
Publicado em 14 de setembro de 2025 às 12h01.
Os mercados globais se preparam para uma semana agitada.
Na quarta-feira, 17, a atenção dos investidores estará voltada para as decisões de política monetária dos dois principais bancos centrais das Américas: o Federal Reserve (Fed), nos Estados Unidos, e o Comitê de Política Monetária (Copom), do Banco Central (BC), no Brasil.
Nos EUA, o corte de juros é praticamente certo, de acordo com estimativas de Wall Street. No Brasil, a Selic deve seguir em 15%, com sinais de que a flexibilização só virá em 2026.
O Fed se reúne a partir da terça-feira, 16, com o mercado precificando 90% de chance de corte de 25 pontos-base.
A taxa atual, de 4,25%-4,5%, pode ser reduzida pela primeira vez desde setembro de 2024. Uma minoria ainda aposta em corte de 50 pontos, o que indicaria maior urgência diante de um provável risco de recessão no país.
No pano de fundo está a deterioração acentuada do mercado de trabalho americano. Após dois meses de relatórios fracos, uma revisão oficial apontou a criação de 911 mil empregos a menos entre março de 2023 e março de 2024.
Segundo o economista-chefe da Moody's Analytics, Mark Zandi, “é possível que os EUA já estejam em recessão”. Ele alerta que o Fed “não quer ser responsabilizado por isso”, em meio a crescentes pressões políticas, segundo a Fortune.
O professor Jeremy Siegel, da Wharton, reforça essa tese. Para ele, em entrevista à Fortune, a permanência de Jerome Powell à frente do Fed pode se tornar insustentável politicamente, caso a economia enfraqueça ainda mais. Isso abriria caminho para que o presidente Donald Trump tente ampliar o controle do governo sobre o banco central.
Essa preocupação aumentou com a nomeação de Stephen Miran para o Fed, sem deixar o cargo de conselheiro econômico da Casa Branca.
O JPMorgan chegou a classificar a indicação como uma “ameaça existencial”, diante da possibilidade de alterações na Federal Reserve Act, que rege a autonomia da autoridade monetária.
No campo econômico, os dados mais recentes reforçam o cenário de desaceleração. O índice de preços ao produtor (PPI) recuou 0,1% em agosto, surpreendendo positivamente.
O núcleo da inflação ao consumidor (CPI) estável em 3,1% e a taxa anual projetada em 2,9% sustentam a tese de alívio monetário, segundo o BTG Pactual (do mesmo grupo controlador da EXAME).
No Brasil, a expectativa é de manutenção da taxa Selic em 15%, como na reunião anterior, em julho.
Desde então, houve melhora nos indicadores: a projeção do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) caiu de 5,1% para 4,8% em 2025, e de 4,4% para 4,3% em 2026, segundo o Boletim Focus. O câmbio também se valorizou, passando de R$ 5,60 para R$ 5,40. No entanto, as expectativas de inflação seguem acima da meta, o que mantém a política monetária restritiva.
Mesmo com uma deflação de 0,11% no IPCA de agosto, os núcleos de inflação — especialmente nos serviços ligados à mão de obra — continuam pressionados entre 5% e 6% ao ano, segundo análise do BTG. O cenário é de desaceleração gradual, mas ainda longe da convergência plena com a meta.
A comunicação do Copom deve ser ajustada, abandonando a expressão “período bastante prolongado” e adotando “período significativamente contracionista por período prolongado”. A ideia é preservar a credibilidade do Banco Central e sinalizar que cortes só virão com segurança inflacionária.
A projeção do mercado é de que a Selic só comece a cair em março de 2026, encerrando o ano em 13%.
Enquanto bancos centrais ditam o rumo da política monetária, o setor de tecnologia segue como motor de valorização nas bolsas americanas. Na semana passada, as ações da Oracle dispararam 40% em um único pregão, após a empresa anunciar uma carteira recorde de pedidos em nuvem no valor de US$ 455 bilhões.
Grande parte dos contratos está ligada à OpenAI, o que reforça o entusiasmo dos investidores com a inteligência artificial. O movimento ajudou os índices Nasdaq e S&P 500 a atingirem novas máximas históricas em 2025. O S&P acumula alta de 12% no ano.
Para analistas do BTG, o avanço “lembra a bolha das pontocom”, mas com um diferencial: agora há suporte estrutural, com juros em queda e forte demanda por infraestrutura de dados. Ainda assim, o banco alerta para o risco de contratos inflados e recomenda cautela.