Shein é multada em 40 milhões de euros pela França por práticas enganosas no setor de moda. (YUICHI YAMAZAKI/AFP via Getty Images/Getty Images)
Estagiária de jornalismo
Publicado em 3 de julho de 2025 às 14h50.
A Shein, gigante chinesa do fast fashion, foi multada em 40 milhões de euros (cerca de US$ 47 milhões) pela França. A aplicação da multa se deu por acusações de práticas comerciais enganosas, incluindo divulgação de descontos falsos e alegações ambientais imprecisas.
No contexto financeiro, a Shein é uma das maiores varejistas globais, com uma trajetória de crescimento expressivo, apesar dos desafios regulatórios e comerciais recentes.
A autoridade francesa responsável pela concorrência e combate a fraudes, a DGCCRF, revelou que uma investigação de quase um ano identificou que a Shein adotou práticas comerciais enganosas em relação aos consumidores, especialmente no que diz respeito às promoções de preços.
Durante o processo, foi constatado que a empresa elevava os preços de determinados produtos antes de aplicar descontos, criando a falsa impressão de ofertas vantajosas para os clientes.
Os dados apurados indicam que, em 11% dos casos, os chamados descontos eram, na verdade, aumentos de preços disfarçados; em 57% das promoções analisadas, não houve qualquer redução real; e em 19%, a diminuição do valor era menor do que a anunciada, configurando uma comunicação enganosa. Essa prática viola a legislação francesa que exige que o preço de referência para descontos seja o menor praticado nos 30 dias anteriores.
Em resposta às acusações, a empresa aceitou a multa de 40 milhões de euros imposta pela DGCCRF e afirmou, em comunicado à AFP, que implementou as medidas corretivas necessárias "sem demora", dentro de dois meses após ser notificada da investigação em março de 2024.
Avaliada em cerca de US$ 45 bilhões em janeiro de 2024 — uma queda significativa em relação aos US$ 100 bilhões de 2022 — a empresa continua mostrando forte desempenho.
Em 2023, a Shein reportou um lucro de US$ 2 bilhões, mais que o dobro do ano anterior, e suas vendas cresceram 35,7% em abril de 2025 em relação ao ano anterior, superando a média do setor de vestuário e acessórios, que cresceu 7,9% no mesmo período.
A previsão da empresa para 2025 é atingir uma receita anual de US$ 58,5 bilhões, superando os grupos Inditex (dono da Zara) e H&M juntos, cujas receitas somadas giram em torno de US$ 55 bilhões.
O valor bruto dos produtos vendidos (GMV) deve alcançar US$ 80,6 bilhões, um crescimento de 174% em relação a 2022. A Shein também planeja aumentar sua lucratividade para cerca de US$ 7,5 bilhões em 2025, dez vezes o lucro registrado em 2022.
No Brasil, mercado estratégico para a Shein, a empresa investiu R$ 750 milhões para fortalecer produção local e parcerias, operando três centros de distribuição com mais de 250 mil metros quadrados.
O marketplace da Shein já representa 60% das vendas locais, com mais de 30 mil vendedores cadastrados e 50 milhões de usuários ativos no país. A meta é que, até 2026, 85% das vendas brasileiras sejam de produtos ou vendedores locais, gerando até 100 mil empregos diretos e indiretos.
A multa francesa ocorre em um momento em que a Europa intensifica a regulação do setor, com leis que estabelecem pontuação ecológica para produtos e impostos ambientais que podem chegar a 10 euros por artigo até 2030, além de restrições à publicidade e à promoção por influenciadores. Essas medidas buscam combater práticas enganosas e o impacto ambiental da fast fashion.