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Shein mira abertura de capital em Hong Kong após impasse com reguladores chineses

Sem aval de Pequim para IPO em Londres, e-commerce pretende protocolar prospecto em Hong Kong nas próximas semanas

Publicado em 28 de maio de 2025 às 06h52.

A varejista de moda Shein está trabalhando para abrir capital em Hong Kong ainda neste ano, depois que seu plano de realizar um IPO em Londres foi barrado por reguladores chineses. A informação foi revelada com exclusividade por três fontes ouvidas pela agência Reuters.

Segundo elas, a empresa — fundada na China e hoje sediada em Singapura — deve protocolar um prospecto preliminar na bolsa de Hong Kong nas próximas semanas.

A mudança de estratégia acontece após a falta de resposta do órgão regulador chinês, a Comissão Reguladora de Valores Mobiliários da China (CSRC, na sigla em inglês), que ainda não autorizou a oferta no mercado britânico.

Apesar de já ter obtido aprovação da Autoridade de Conduta Financeira do Reino Unido (FCA) em março, a Shein aguardava o sinal verde de Pequim para seguir com a listagem em Londres. Fontes afirmam que havia expectativa de uma resposta rápida, mas o processo foi marcado por atrasos e comunicações limitadas por parte da CSRC.

Antes de mirar Londres, a Shein havia tentado se listar em Nova York — uma estratégia que fazia parte dos esforços da companhia para se posicionar como uma empresa global e atrair investidores ocidentais. A mudança para Hong Kong, ainda que em meio a um momento de recuperação do mercado local, pode enfraquecer essa narrativa.

A decisão também ocorre em meio a pressões políticas. O plano de IPO em Londres foi alvo de críticas de uma ONG que pretendia entrar com uma ação judicial contra a oferta, alegando vínculos dos produtos da empresa com algodão da região chinesa de Xinjiang — centro de denúncias internacionais de trabalho forçado. A Shein afirma ter política de tolerância zero com trabalho forçado ou infantil.

'Taxa das blusinhas'

A eventual avaliação de mercado da Shein, onde quer que ocorra a listagem, também está sob pressão. A Reuters apurou que a empresa havia reduzido sua meta de valuation para cerca de US$ 50 bilhões em uma possível oferta em Londres — quase 25% abaixo dos US$ 66 bilhões alcançados em uma rodada privada de captação em 2023.

Outro fator relevante é a mudança recente nas regras tarifárias dos Estados Unidos. O governo Trump encerrou a isenção para pacotes de até US$ 800 vindos da China, impondo tarifas mínimas de 30%. A medida afeta diretamente o modelo de negócios da Shein, baseado na venda de produtos de baixo custo enviados diretamente de fornecedores chineses a consumidores globais.

Na Europa, a Comissão Europeia também discute a revisão do limite de isenção para pacotes de até € 150, o que pode intensificar os desafios para o e-commerce.

Apesar dos entraves, o momento do mercado em Hong Kong pode ser favorável. Com US$ 9,7 bilhões levantados em IPOs e listagens secundárias até agora em 2025 — frente a US$ 1,05 bilhão no mesmo período do ano passado, segundo a LSEG —, a praça asiática voltou a atrair grandes ofertas, como a da fabricante de baterias para veículos elétricos CATL, que arrecadou US$ 5,3 bilhões, no maior IPO do ano até aqui.

Shein, CSRC e a bolsa de Hong Kong não comentaram o assunto até a publicação da reportagem da Reuters.

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