Son e Altman: aposta bilionária na OpenAI expõe SoftBank à volatilidade do setor de IA (Andrew Harnik / Equipe/Getty Images)
Repórter
Publicado em 26 de novembro de 2025 às 06h10.
Apostar na OpenAI e se livrar 100% da Nvidia pode não ter sido uma ideia muito assertiva por parte do conglomerado japonês SoftBank. Desde o final de outubro, as ações acumulam queda de 40%, em uma perda de mais de ¥16 trilhões (US$ 102 bilhões, cerca de R$ 549 bilhões na cotação atual) em valor de mercado.
A derrocada acontece no momento em que o fundador Masayoshi Son amplia seus compromissos com a OpenAI e com a infraestrutura que sustenta o crescimento da inteligência artificial. Mesmo com ganhos bilionários no papel — apenas a valorização da sua fatia na OpenAI rendeu US$ 14,6 bilhões em lucro não realizado —, o mercado parece cada vez mais cético com os riscos do investimento.
O recuo das ações do SoftBank ganhou força após o lançamento do Gemini 3.0, da Alphabet, que acirrou a disputa no setor de IA. Desde o anúncio da nova geração do modelo do Google, o papel do SoftBank já cedeu 24%, segundo a Bloomberg Intelligence. A percepção entre os investidores é que a concorrência direta pode pressionar as metas ambiciosas de crescimento da OpenAI.
De acordo com os analistas Kirk Boodry e Chris Muckensturm, da Bloomberg, a queda dos papéis reflete menos uma desaceleração geral no mercado de IA e mais a dependência excessiva do SoftBank em relação ao desempenho da OpenAI — sua principal aposta no setor e principal fator de risco em caso de perda de liderança tecnológica.
O SoftBank acaba de concluir a compra da Ampere Computing, empresa americana de chips, por US$ 6,5 bilhões, e ainda precisa desembolsar US$ 22,5 bilhões em dezembro para concluir seu investimento na OpenAI. Há também o compromisso de US$ 5,4 bilhões para adquirir a unidade de robótica da ABB.
Em paralelo à aposta na OpenAI, Son vendeu suas participações em gigantes como Nvidia e Oracle para reforçar sua estratégia de imersão total no ecossistema da IA. Hoje, o SoftBank detém quase 90% da Arm Holdings, empresa que alimenta grande parte dos dispositivos móveis e servidores atuais com seu design de chips.
Especialistas apontam que o SoftBank também pode enfrentar obstáculos técnicos. O arquiteto de chips RISC-V, concorrente de código aberto da Arm, tem ganhado espaço — inclusive com adoção pela própria Nvidia — e avança especialmente na China, que busca reduzir a dependência de tecnologias ocidentais.
Cálculos recentes da Reuters Breakingviews sugerem que a valorização implícita da OpenAI nos papéis do SoftBank gira em torno de US$ 750 bilhões, 50% acima do valor de mercado da empresa no momento da última transação privada. Essa estimativa considera um desconto de 30% aplicado pelos investidores à estrutura de holdings do SoftBank e reflete um forte apetite por exposição indireta à OpenAI.
Mas os riscos são crescentes. Estima-se que o burn rate da OpenAI ultrapasse US$ 47 bilhões em 2028, o que exigiria aportes entre US$ 50 bilhões e US$ 80 bilhões. Esses valores são difíceis de levantar no mercado privado. Um IPO é cogitado para 2026, mas ainda sem confirmação pública dos executivos da empresa.
A tese de Son é colocar o SoftBank na liderança da revolução da IA junto à OpenAI. Mas a nova realidade de seleção mais criteriosa de ações do setor, disse Kazunori Tatebe, da Daiwa Asset Management, à Bloomberg, mostra que o tempo do otimismo indiscriminado passou. E o mercado começa a cobrar por isso.