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SulAmérica lança fundo para captar até R$ 400 milhões em debêntures incentivadas com cota na B3

Gestora vai na contramão do mercado, que tem encerrado captações após corrida por isentos derrubar 'spreads'

 (Divulgação)

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Publicado em 21 de outubro de 2025 às 16h30.

A corrida por debêntures incentivadas, com o risco de tributação sobre esses títulos isentos, acabou reduzindo a rentabilidade dessa classe de ativos. Por esse motivo, algumas gestoras decidiram fechar captações. A SulAmérica Investimentos está indo na contramão. Quer ampliar o acesso a esse tipo de ativo, de olho principalmente no investidor pessoa física. No mês que vem, a asset lança o SulAmérica Infra CDI (SUIN11), seu primeiro fundo listado na bolsa brasileira, com meta de captação de até R$ 400 milhões.

A casa administra atualmente cerca de R$ 89 bilhões, sendo um terço alocado em crédito high grade, de empresas com alta qualidade de crédito. Dentro desse universo, os fundos de infraestrutura somam aproximadamente R$ 1,4 bilhão, mas estavam, até agora, limitados a um número pequeno de investidores.

"Para dar mais acesso a essa estratégia decidimos fazer a listagem, assim disponibilizamos esse produto na B3 e aí qualquer investidor pessoa física pode comprar", afirmou Marcelo Mello, CEO da SulAmérica Vida, Previdência e Investimentos à EXAME.

O novo produto mira retornos atrelados ao CDI mais 0,50 ponto percentual e paga dividendos mensais. O Itaú é o coordenador líder da oferta, que tem captação mínima de R$ 50 milhões e máxima de R$ 400 milhões.

Risco de tributação ficou para trás

A procura por debêntures incentivadas ganhou força nos últimos meses diante da discussão da Medida Provisória nº 1.303/2025, que chegou a propor o fim da isenção tributária desses títulos, levando investidores a se anteciparem para garantir o benefício. A busca pelo ativo também levou a uma queda de seus spreads, que chegaram a níveis negativos em relação à curva de referência dos títulos publicos de NTN-Bs.

Dados da Associação Brasileira de Mercado de Capitais (Anbima) mostram que as captações via debêntures incentivadas somaram R$ 113,6 bilhões entre janeiro e setembro deste ano, um crescimento de 18,2% sobre o mesmo período de 2024, até então maior volume da série histórica.

Mello reconhece que a MP gerou uma "corrida" por papéis isentos, mas vê espaço para continuidade da demanda agora que a proposta de tributação em 5% caducou e a isenção foi mantida.

"Houve sim uma corrida, agora isso não significa que a demanda vai deixar de existir, porque a diferença, o benefício que a isenção traz é muito grande contra ativos ou produtos que são tributados. E se você considerar que no ano que vem a taxa de juros vai cair, estamos projetando uma taxa de juros próxima de 12% no final do ano de 2026, o investidor vai ficar mais atento com rentabilidade", disse o CEO.

O executivo também ressalta que o início de um fundo é diferente de um fundo já existente. Nos primeiros seis meses da oferta do ativo, ele não precisa estar totalmente investido projetos de infraestrutura para ser elegível ao benefício fiscal.

Após esse período, o fundo precisa ampliar a alocação de papéis de infraestrutura até atingir a exigência mínima de 80% em dois anos. Esse processo, segundo ele, permite à gestora ir comprando gradualmente os ativos incentivados.

"O fato de a SulAmérica estar começando agora com o SUIN11 permite aguardar o melhor momento para montar a carteira e comprar os ativos de infraestrutura com mais eficiência", afirmou Mello. A estratégia da SulAmérica Investimentos é construir um portfólio quer consiga navegar por diferentes cenários macroeconômicos.

Foco em crédito de qualidade

A casa vai apostar em crédito high grade para se diferenciar dos outros 33 fundos de debêntures incentivadas listados na B3. Foi com essa estratégia que a gestora conseguiu crescer cinco vezes seu patrimônio com fundos de previdência em crédito privado nos últimos dois anos.

A seleção dos papéis está focada em empresas consolidadas, pouco alavancadas e com geração de caixa robusta. A escolha também combina análises quantitativas, como fluxo de caixa e perfil de endividamento, e qualitativas, que incluem governança, histórico dos acionistas e práticas ESG.

"O segmento de infraestrutura oferece um universo amplo de oportunidades, especialmente em setores como energia, saneamento, logística e telecomunicações. O desafio está em manter uma gestão ativa, capaz de ajustar posições conforme o mercado secundário oferece novas chances", disse o executivo.

O Brasil tem avançado no investimento de infraestrutura, principalmente privado, em meio a dificuldade fiscal do governo federal e de estados.

Segundo um estudo da Confederação Nacional da Indústria (CNI), publicado em junho, o país investirá até o final deste ano R$ 277,9 bilhões em infraestrutura, o equivalente à cerca de 2,21% do PIB. O ideal, segundo a identidade, seria ao menos 4%.

Para Mello, esse "gap" garante um fluxo constante de novas emissões e oportunidades de alocação.

"Os fundos de debêntures incentivados alocam em ativos mais longos ainda, o que traz uma previsibilidade maior para quem está fazendo esse investimento e também ajuda o governo a olhar para frente e pensar onde sua presença será mais relevante", conclui.

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