Suzano: aquisições só ocorrerão se houver uma clara criação de valor que esteja alinhada com objetivos estratégicos (Germano Lüders/Exame)
Repórter Exame IN
Publicado em 9 de maio de 2025 às 16h38.
A Suzano (SUZB4) entregou números abaixo das expectativas no primeiro trimestre de 2025, com queda nos volumes de celulose e um cenário de preços ainda fraco. A companhia viu seus volumes de celulose cair 19% em relação ao trimestre anterior, com preços médios de celulose recuando 11% no comparativo anual.
Nesta sexta-feira, as ações da empresa caíam 2,53%.
A expectativa entre os analistas é de que os números comecem a dar sinais de normalização a partir do segundo trimestre, mas a Suzano ainda terá de lidar com as incertezas da economia global, que ganharam escala ainda maior com o anúncio das tarifas tributárias de Donald Trump.
As tarifas impostas por Trump trazem uma mudança significativa na forma de fazer negócio, reconheceu Beto Abreu, CEO da Suzano, em entrevista a jornalistas. “Mesmo que o impacto imediato não seja tão grande, precisamos estar preparados para ajustar nossa operação conforme o mercado evolui. Esse tipo de intervenção pode gerar um efeito de desaceleração econômica, e isso nos faz pensar em todas as alternativas possíveis, inclusive reforçando nosso foco em controle de custos e na adaptação da nossa estratégia."
A companhia também enfrenta um cenário mais desafiador, com o aumento das incertezas sobre a demanda e a competitividade do mercado global. De acordo com Marcos Assumpção, CFO da Suzano, a companhia está atenta aos riscos da tarifa imposta por Trump. “A estratégia de alocação de capital precisa estar alinhada com o cenário econômico e geopolítico atual. O anúncio das tarifas nos faz revisar a forma como nos posicionamos no mercado, buscando sempre as melhores alternativas de retorno para a empresa", afirmou Assumpção.
No primeiro trimestre de 2025, a Suzano registrou um lucro líquido de R$ 1,5 bilhão, um avanço de 17% em relação ao mesmo período de 2024. A receita líquida totalizou R$ 11,553 bilhões, recuo de 19% comparado ao último trimestre, mas com crescimento de 22% na comparação anual.
O EBITDA ajustado foi de R$ 4,9 bilhões, uma redução de 25% frente ao trimestre anterior, mas com um aumento de 7% quando comparado ao primeiro trimestre de 2024. A margem EBITDA ajustada ficou em 42% no primeiro trimestre de 2025, impactada pela queda nos volumes e aumento nos custos de produção.
A Suzano está enfrentando um cenário de preços mais baixos para a celulose, impactada por uma demanda ainda incerta, especialmente na China. De acordo com a Goldman Sachs, "os preços de celulose devem continuar desafiadores, com uma pressão adicional de uma maior oferta no mercado global. A perspectiva de uma desaceleração econômica traz incertezas adicionais, especialmente com a recente imposição de tarifas nos Estados Unidos", destaca o relatório do banco.
Ainda assim, em maio as negociações e vendas começaram a reaquecer.
O impacto das tarifas de Trump, que atingem diretamente as exportações de celulose para os EUA, foi um dos principais pontos abordados por Beto Abreu, CEO da Suzano: "A mudança nas tarifas dos EUA cria um ambiente de incerteza que afeta não apenas a nossa operação, mas também pode influenciar o comportamento de outros produtores no mercado global. Ainda assim, temos estratégias de mitigação e buscamos adaptar nossa operação para garantir a competitividade."
Do ponto de vista de demanda, o excecutivo afirma que ainda não se sente nenhuma alteração: a demanda continua fluindo na China, na Europa. O mercado americano, porém, é um mercado para se ficar mais atento. “O incremento de tarifas de tudo que é exportado nos Estados Unidos tem o risco, sim, de gerar inflação.”
Em relação aos custos, a empresa enfrenta uma pressão devido ao aumento no preço da madeira e os custos operacionais elevados. A expectativa é que os custos de produção continuem a subir, em parte devido ao aumento dos custos com insumos e a manutenção das operações.
A Suzano está focada em manter o controle de custos e buscar maior eficiência operacional, segundo Assumpção."Nossa prioridade continua sendo a eficiência operacional. Estamos comprometidos com a desalavancagem, buscando otimizar nossa estrutura de custos e garantir que a empresa continue gerando caixa, mesmo em um cenário desafiador."
A companhia reiterou que, após a tentativa frustrada de aquisição da International Paper, grandes aquisições estão fora do radar no curto prazo. "Neste momento, nossa prioridade é garantir a saúde financeira da companhia. A alavancagem continua sendo um foco para o próximo período, e não vemos grandes M&As transformacionais à vista. Estamos mais concentrados em crescimento orgânico e na melhoria da nossa eficiência", diz Abreu.
"O foco está em iniciativas que gerem escala e eficiência, sem perder de vista a nossa disciplina financeira. Aquisições só ocorrerão se houver uma clara criação de valor que esteja alinhada com nossos objetivos estratégicos", afirma o CFO. A companhia mantém uma posição de caixa robusta, com US$ 3 bilhões, além de outros instrumentos, como uma Revolving Credit Facility, que funciona quase como um cheque especial, e não tem grandes amortizações de curto prazo.
Segundo os analistas do BTG Pactual (do mesmo grupo de controle da EXAME), "a Suzano continua em uma trajetória de desalavancagem e não vê, por enquanto, a necessidade de grandes aquisições para expandir seu portfólio ou internacionalizar suas operações de forma agressiva".