Donald Trump, presidente dos EUA: a Casa Branca confirmou a elevação de tarifas para mais de 60 países, com alíquotas de até 50% (Anna Moneymaker/AFP)
Redatora
Publicado em 1 de agosto de 2025 às 07h48.
A última sessão de uma das semanas mais agitadas do ano para os mercados promete ser movimentada. Nesta sexta-feira, 1º, os investidores monitoram a entrada em vigor das novas tarifas comerciais dos Estados Unidos, dados do mercado de trabalho americano e os desdobramentos dos balanços de gigantes da tecnologia. No Brasil, a produção industrial é o principal dado do dia.
À meia-noite, expirou o prazo estabelecido pelo presidente Donald Trump para a entrada em vigor das novas tarifas “recíprocas”. A Casa Branca confirmou os aumentos tarifários sobre produtos de mais de 67 países, com alíquotas que variam entre 10% e 50%, dependendo do parceiro comercial.
O Brasil recebeu uma das tarifas mais elevadas: 50%, embora algumas categorias, como aeronaves, energia e fertilizantes, tenham sido excluídas.
No Canadá, produtos não cobertos pelo acordo comercial entre EUA, México e Canadá terão tarifa de 35% — um aumento de 25%. Já o Japão e a Coreia do Sul serão afetados por uma tarifa de 15%.
Além disso, os Estados Unidos aplicaram uma sobretaxa de 40% sobre produtos que passaram por transbordo (transshipment), uma prática em que as mercadorias são desviadas para países intermediários para mascarar sua origem e evitar tarifas mais altas.
O movimento coincide com uma série de incertezas envolvendo o futuro da relação comercial com a China, ainda sem definição sobre uma possível extensão da trégua de 90 dias.
Nos Estados Unidos, a agenda está carregada de indicadores. O principal dado do dia é o relatório de empregos (payroll) de julho, que será divulgado às 9h30 de Brasília. A expectativa é de desaceleração na criação de empregos, com 106 mil novas vagas (ante 147 mil em junho) e alta na taxa de desemprego de 4,1% para 4,2%.
A leitura é crucial para o Federal Reserve, que voltou a ser pressionado por Trump a cortar juros. Na decisão desta semana, a autoridade monetária manteve os juros inalterados pela quinta vez consecutiva, mas parte do mercado já projeta um corte em setembro.
No Brasil, às 9h, o IBGE divulga a produção industrial brasileira de junho, com expectativa de leve recuperação após a queda registrada em maio. Também às 9h, a FGV divulga a última leitura do Índice de Preços ao Consumidor - Semanal (IPC-S) de julho.
Ao longo da manhã, saem ainda os índices de atividade industrial dos EUA. O Purchasing Managers' Index (PMI) da consultoria S&P Global será divulgado às 10h45, medindo a percepção das empresas sobre produção, pedidos e empregos no setor industrial.
Às 11h, saem os dados do Institute for Supply Management (ISM), um dos indicadores industriais mais acompanhados pelos mercados, por oferecer uma visão ampla do desempenho do setor manufatureiro americano. No mesmo horário, será divulgado o índice de sentimento do consumidor da Universidade de Michigan, que mede a confiança das famílias em relação à economia.
Também às 11h, o Departamento do Comércio dos EUA publica os dados de investimentos em construção de junho, que mostram o volume de recursos aplicados em obras públicas e privadas.
No campo político, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva participa às 10h de uma cerimônia de entrega de unidades habitacionais do programa Minha Casa, Minha Vida.
O evento ocorre em meio a um momento delicado para o governo, que trabalha em uma estratégia coordenada para reagir à nova rodada de tarifas comerciais impostas pelos EUA. A escalada protecionista de Trump é vista pelo Planalto como um ataque direto ao agronegócio e à indústria nacional, o que pode gerar impactos relevantes sobre exportações e sobre a base de apoio político do governo no Congresso. Nos bastidores, a diplomacia brasileira tenta negociar uma abertura de diálogo com autoridades americanas para evitar o agravamento do conflito comercial.
Na temporada de balanços, os números da Apple e da Amazon continuam repercutindo. A Apple superou as expectativas no terceiro trimestre, com avanço nas vendas do iPhone — destaque para a China, onde a receita chegou a US$ 15,37 bilhões. As ações subiram mais de 2% no after market.
Já a Amazon frustrou com a margem operacional da AWS e caiu quase 7% nas negociações estendidas, mesmo com alta de 11% na receita total, que atingiu US$ 167,7 bilhões. A empresa também reportou free cash flow próximo de zero, devido aos elevados investimentos em inteligência artificial.
No Brasil, os investidores reagem aos resultados da Vale, divulgados na noite de quinta-feira. A mineradora anunciou distribuição de juros sobre capital próprio (JCP) e apresentou números considerados positivos pelo mercado, com destaque para a geração de caixa e a estabilidade nas operações de minério de ferro. Os ADRs da companhia subiram 0,5% em Nova York após a divulgação, o que pode influenciar o desempenho das ações nesta sexta-feira na B3.
Hoje, antes da abertura em Nova York, os resultados das petroleiras Chevron e Exxon Mobil devem movimentar o setor de energia. No Brasil, os números da Fertilizantes Heringer saem após o fechamento.
Os mercados internacionais operam em queda nesta sexta-feira, 1º, com investidores reagindo à entrada em vigor das tarifas comerciais anunciadas pelo presidente Trump.
Na Ásia, as bolsas fecharam majoritariamente no vermelho. O índice Hang Seng, de Hong Kong, recuou 1,07%, enquanto o CSI 300, da China continental, caiu 0,51%. No Japão, o Nikkei 225 perdeu 0,66%, e o Topix subiu 0,19%. As quedas mais fortes foram vistas na Coreia do Sul, com o Kospi despencando 3,88% e o Kosdaq, 4,03%. Na Austrália, o S&P/ASX 200 caiu 0,92%, enquanto os índices da Índia registraram perdas mais moderadas: o Nifty 50 recuou 0,48% e o Sensex, 0,34%.
Na Europa, o tom também é negativo. Por volta das 7h30, o índice Stoxx 600 recuava 1,20%, o CAC 40, de Paris, caía 1,88%, o DAX, de Frankfurt, perdia 1,63%, e o FTSE MIB, de Milão, operava em baixa de 1,8%. Em Londres, o FTSE 100 cedia 0,48%.
Nos Estados Unidos, os futuros indicavam abertura negativa: o do S&P 500 recuava 0,96%, o do Nasdaq 100 caía 1,11% e o do Dow Jones, 0,95%.