Redatora
Publicado em 7 de julho de 2025 às 09h48.
Às vésperas do prazo final para que países fechem acordos comerciais com os Estados Unidos, os mercados globais operam com aparente calma. Apesar da ameaça de novas tarifas de até 70% anunciadas pelo presidente Donald Trump, investidores parecem adotar o mesmo comportamento que antecedeu o chamado “Dia da Libertação”, em abril, quando o governo americano anunciou as chamadas "tarifas recíprocas" de importação.
Segundo a Bloomberg, os sinais mais recentes sugerem que os operadores do mercado de opções voltaram a adotar estratégias semelhantes às daquela época.
Na semana passada, o índice MSCI All-Country World atingiu uma nova máxima, enquanto os indicadores de expectativa de volatilidade nos EUA, Europa e Hong Kong caíram mais de 50% em relação aos picos registrados em abril.
Esse cenário de aparente tranquilidade também se refletiu no comportamento dos hedge funds, que aumentaram as compras líquidas de ações financeiras americanas ao maior nível em quase uma década, de acordo com dados compilados pelo Goldman Sachs. Em vez de encerrar posições vendidas, como vinham fazendo nos últimos meses, grandes investidores agora parecem estar perseguindo a valorização.
Para Michalis Onisiforou, estrategista do banco BBVA, o pessimismo que dominou parte dos meses anteriores ficou para trás. Desde abril, os mercados globais enfrentaram eventos como o conflito no Oriente Médio e a incerteza sobre o rumo das tarifas, mas conseguiram sustentar o fôlego. O rali das ações de tecnologia e os dados fortes de emprego nos EUA levaram o S&P 500 a um novo recorde na quinta-feira, enquanto os mercados da Ásia e da Europa mantiveram os ganhos, mesmo após o governo americano iniciar o envio formal de notificações tarifárias a diversos países.
No mercado de derivativos, porém, alguns analistas alertam para um excesso de confiança. A estrategista Benedicte Lowe, da BNP Paribas Markets 360, observou que os traders estão precificando uma oscilação de pouco mais de 1% para o Euro Stoxx 50 no dia 9 de julho. Ela destaca que operações em que investidores compram opções de curto prazo e ajustam suas posições com frequência se tornaram mais atrativas com o recente aumento na inclinação da curva de volatilidade.
Esse tipo de estratégia já foi lucrativo em abril, quando a volatilidade disparou após os anúncios tarifários de Trump. Na época, o Bank of America recomendou a compra de opções de curto prazo com preços considerados baixos em relação ao potencial de oscilação do mercado. Agora, os estrategistas do banco sugerem abordagem semelhante no Euro Stoxx 50. Ainda assim, a equipe de derivativos da BNP Paribas avalia que os retornos podem ser mais modestos desta vez.
Há também quem observe que estratégias que buscavam lucrar com movimentos simultâneos entre diferentes mercados perderam força nos últimos meses, em meio à queda nos volumes de produtos estruturados, que sustentavam esse tipo de operação.
Além disso, com as mudanças frequentes no discurso da Casa Branca, ficou mais difícil para os investidores prever como as tarifas vão influenciar os movimentos entre os principais mercados globais.