Redatora
Publicado em 28 de julho de 2025 às 08h44.
O fim da isenção tarifária para encomendas de baixo valor vindas da China já tem impacto direto no bolso do consumidor americano.
O efeito mais visível está nos preços praticados pela varejista de moda Shein.
Desde 2 de maio, quando o governo Donald Trump eliminou a isenção tarifária conhecida como de minimis, que permitia a entrada livre de impostos para pacotes com valor inferior a US$ 800, os valores começaram a subir no site da marca nos Estados Unidos.
Segundo levantamento da Reuters, os preços de cerca de 200 itens acompanhados na plataforma norte-americana da Shein mostram uma tendência clara: as peças ficaram mais caras.
Um conjunto de 70 roupas de baixo custo, voltadas para bebês, crianças e homens, teve aumento médio de 12,5% até o fim de maio, mesmo após uma breve queda no período em que os EUA e a China anunciaram uma trégua temporária nas tarifas. Desde então, os preços voltaram a subir e, em julho, atingiram o maior patamar dos últimos três meses.
A alta foi ainda mais expressiva em itens selecionados. Um carrinho de compras com os 10 produtos que mais encareceram no site da Shein passou de US$ 31, em abril, para US$ 69 em julho, um salto de 123%.
Já entre os produtos mais caros, como vestidos e casacos femininos que custavam entre US$ 80 e US$ 270, o aumento médio foi de 23%, com variações mais acentuadas justamente entre os itens de menor valor inicial.
O impacto das novas tarifas não afeta apenas a Shein. Estima-se que cerca de 83% das importações de e-commerce nos EUA, em 2022, vieram por meio da regra de de minimis. A China respondia por quase 75% desses pacotes.
Em 2020, cerca de 637 milhões de pacotes entraram nos Estados Unidos por essa via. Já em 2024, esse número mais que dobrou, chegando a 1,36 bilhão de remessas. Em 2022, Shein e Temu representaram mais de 30% desse total. Se essa fatia tiver se mantido em 2024, isso equivaleria a aproximadamente 400 milhões de pacotes apenas dessas duas empresas.
Com o fim da isenção, os custos sobem. Há mais burocracia alfandegária, tarifas que hoje giram em torno de 30% (e podem chegar a 145% em certos produtos), além de atrasos nas entregas.
Segundo especialistas ouvidos pela Reuters, empresas como Shein devem repassar parte dos custos ao consumidor, mas tentando preservar os preços baixos, que são sua principal vantagem.
Essa estratégia, no entanto, já está sendo pressionada. Um estudo da Euromonitor mostra que os produtos chineses vendidos pela Amazon estão ficando mais caros que os de outros países. E com metade dos vendedores terceirizados da plataforma baseada na China, a tendência é que esse encarecimento se espalhe.
Além de alterar o modelo de negócios de varejistas asiáticas, a decisão também pesa mais sobre as camadas mais pobres da população americana.
Um estudo do National Bureau of Economic Research indica que consumidores de baixa renda e moradores de bairros com maioria não branca são os que mais consomem esse tipo de produto.
O fim da isenção pode adicionar de US$ 10,9 bilhões a US$ 13 bilhões por ano em custos para os consumidores, com um impacto desproporcional sobre quem menos pode pagar.