Bolsa de Atenas: possível compra pela Euronext representa um voto de confiança após tempos difíceis de crise (Alkis Konstantinidis/Reprodução)
Repórter de Mercados
Publicado em 5 de julho de 2025 às 09h50.
Última atualização em 5 de julho de 2025 às 10h09.
A Euronext negocia uma possível aquisição de todas as ações da Athens Stock Exchange (Athex), a Bolsa de Atenas, que hoje pertence à Exchanges Hellenic, em um acordo que pode chegar a 399 milhões de euros — ou R$ 2,5 bilhões. Desde 2017, após padecer com a crise na Grécia, a bolsa vem se recuperando. No acumulado de 2025, ela já registrou quase 30% de valorização.
Localizada na capital grega, a bolsa foi fundada em 1876 como uma organização pública autorregulamentada, tornando-se uma entidade pública em 1918. Inicialmente, suas operações ocorreram na rua Sofokleous, no bairro Psiri, que se tornou um símbolo da bolsa, assim como Wall Street é para Nova York.
À EXAME, Dimitris Katsikas, professor de economia política na Universidade de Atenas, afirma que a aquisição seria um voto de confiança na economia grega e na Bolsa de Atenas em particular. Afinal, a Euronext é maior plataforma de mercado de capitais da Europa, presente em sete países — Amsterdã, Bruxelas, Dublin, Lisboa, Milão, Oslo e Paris.
A potencial oferta seria estruturada como uma troca de ações avaliando a Athex em 6,90 euros por ação, com uma taxa de conversão fixa de 21,029 ações ordinárias para cada nova ação da Euronext. Com base no preço das ações da Euronext de 145,10 euros em 30 de junho, o acordo avaliaria que a Athex chegaria aos 399 milhões de euros.
A apresentação de uma oferta formal, no entanto, permanece sujeita à diligência prévia.
“Seria um upgrade estratégico para a bolsa grega e suas empresas listadas, em termos de credibilidade, visibilidade, liquidez e acesso a novas e mais baratas fontes de capital. Isso impulsionaria o potencial de crescimento das empresas gregas dinâmicas e também poderia ajudar pequenas e médias empresas ambiciosas, que enfrentam dificuldades para encontrar financiamento acessível na Grécia. Poderia se tornar uma alavanca significativa para o crescimento adicional tanto da bolsa quanto da economia como um todo”, opina Katsikas.
A Grécia entrou em crise econômica a partir do final de 2009 e início de 2010, quando foi revelado que o país tinha um crescimento insustentável do déficit público. Isso gerou um risco de moratória (não pagamento da dívida externa), o que poderia afetar toda a União Europeia (UE).
Em 2010, a Grécia solicitou ajuda financeira a UE e ao Fundo Monetário Internacional (FMI), que concederam pacotes de resgate condicionados à implementação de medidas rígidas de austeridade, incluindo cortes de gastos públicos, redução de salários e aumento de impostos. Essas medidas provocaram grande insatisfação popular, com protestos e greves gerais.
A crise se prolongou por vários anos, com queda do PIB de cerca de 25% entre 2008 e 2015, aumento do desemprego e da pobreza, e dificuldades para o país voltar a acessar os mercados financeiros. A bolsa de valores, claro, foi fortemente impactada.
Ela perdeu 90% de sua capitalização pré-crise, durante a década anterior. O índice geral permaneceu abaixo da marca de 1.000 pontos durante a maior parte da década. “A depressão prolongada, a contínua incerteza sobre o Grexit [possibilidade da Grécia sair da zona do euro] e o rebaixamento do estado e dos bancos gregos mantiveram os investidores estrangeiros afastados durante esse período, enquanto as empresas locais lutavam para sobreviver”, relembra o professor grego.
Durante a crise, a Bolsa de Atenas ficou fechada por mais de cinco semanas, algo inédito desde os anos 1970. O fechamento ocorreu após o governo impor controle de capitais e saques bancários, em meio à incerteza sobre o futuro econômico do país. Na reabertura, em agosto de 2015, o índice Athex despencou cerca de 23% logo na abertura, fechando o dia com queda de 16,23%. Foi a maior queda diária da história da bolsa grega, superando até mesmo o crash de 1987.
“Ela se recuperou gradualmente após 2017, continuando de maneira dinâmica nos últimos anos após uma breve queda durante a pandemia, com a economia se recuperando fortemente, registrando taxas de crescimento satisfatórias — acima da média da União Europeia—, com desempenho robusto de investimentos estrangeiros e uma taxa de desemprego em queda rápida, enquanto a gestão fiscal se manteve sólida, contribuindo para uma redução recorde no nível da dívida em relação ao PIB”, afirma Katsikas.
Esses desenvolvimentos auxiliaram a Grécia a recuperar a sua posição de grau de investimento. O índice geral da bolsa ultrapassou a barreira de 1.000 pontos em janeiro de 2023, seguindo forte desde então, e próximo da marca de 2.000 pontos na primeira semana de julho de 2025. No acumulado do ano, ela já registrava um aumento de 30%.
A Euronext é a principal infraestrutura de mercado da Europa, posicionada de forma estratégica no contexto de crescente necessidade de aumentar a competitividade global da União Europeia. A aquisição da Bolsa de Atenas, portanto, significaria um passo da companhia rumo ao objetivo de consolidar os mercados de capitais europeus.
A Euronext atualmente gerencia aproximadamente 25% da atividade de negociação de ações na Europa. A rede junta mais de mais de 1.800 empresas listadas com uma capitalização de mercado combinada superior a € 6 trilhões.