Invest

Vale: Produção não empolga e ceticismo sobre preço do minério permanece

Estratégia da mineradora de priorizar produtos de menor qualidade foi destacada como positivo pelo mercado

Vale: mineradora reporta prévia operacional (Washington Alves/Reuters)

Vale: mineradora reporta prévia operacional (Washington Alves/Reuters)

Rebecca Crepaldi
Rebecca Crepaldi

Repórter de finanças

Publicado em 23 de julho de 2025 às 11h33.

Última atualização em 23 de julho de 2025 às 11h36.

A Vale (VALE3) divulgou, na noite desta terça-feira, 22, sua prévia operacional e, assim como esperado pelo mercado, reportou aumento da produção do minério de ferro – mas queda nas vendas – o que não gerou grandes surpresas no mercado.

A produção surpreendeu e veio levemente acima das expectativas do BTG Pactual (do mesmo grupo de controle da Exame), em 2%, o que reflete uma recuperação sazonal em relação ao primeiro trimestre e coloca a companhia no caminho para atingir sua meta de produção anual de 325 a 335 milhões de toneladas.

Apesar da estratégia da Vale em migrar de produtos mais elaborados e custosos para focar em produtos de custo mais baixo, a queda nos embarques do minério de ferro e o recuo nos preços praticados por tonelada evidenciam uma demanda fraca por minérios de maior qualidade. “A queda nas pelotas reflete a estratégia da Vale de priorizar a venda de pellet feed em vez do produto acabado”, afirma Leonardo Correa e Marcelo Arazi, do BTG, em relatório.

Para a XP, os números foram neutros – reforçando também a mudança no mix de portfólio para produtos de menor valor agregado. A Vale se beneficiaria naturalmente de um cenário com prêmios mais altos, mas, diante de um ambiente ainda desfavorável, a XP vê sua diversificação de portfólio como uma alavanca para otimizar as vendas mesmo em condições comerciais adversas — com destaque para uma leve melhora nos prêmios de minério fino, que subiram US$ 0,2 por tonelada na comparação trimestral.

A XP reforça a recomendação neutra para Vale, com preço-alvo a R$ 66, um upside de 14,8% em relação ao preço de fechamento desta terça-feira, 22. “Mas continuamos vendo uma assimetria positiva em relação aos preços do minério de ferro”, escreve a equipe liderada por Lucas Laghi.

Já o grande destaque foi cobre e níquel, que vieram levemente acima das estimativas do BTG, superando em 3%, embora isso não seja suficiente para justificar uma revisão relevante nos lucros, afirma o banco.

“Em última análise, embora os volumes tenham surpreendido marginalmente para cima, seguimos vendo pouca mudança no case de investimento. Mantemos uma postura cautelosa: apesar do fluxo de notícias positivo vindo da China, seguimos céticos de que isso levará a uma mudança significativa nos fundamentos do minério de ferro”, apontam os analistas do BTG.

O rali do minério de ferro vindo da notícia sobre a maior construção da hidrelétrica na China, para o BTG, eventualmente deve ter os preços corrigidos. O banco projeta novas revisões negativas para a companhia no segundo semestre de 2025, à medida que os investidores ajustem suas estimativas a um cenário de preços mais fracos.

O banco estima o minério de ferro a US$ 95 tonelada em 2025 e US$ 85 a tonelada em 2026. O BTG também acha difícil enxergar um upside relevante no valuation, com os papéis negociando a cerca de 4,8 vezes o EBITDA de 2025 e oferecendo dividend yields entre 5% e 7%. O BTG tem recomendação neutra para a ação, com preço-alvo do ADR em US$ 11, uma alta de 6,3% em relação ao preço de terça-feira, 22.

Quem recomenda compra

Num lado mais otimista, o Bradesco BBI afirma que os resultados vieram em linha com o esperado pelo banco, e reitera recomendação de compra para a empresa. “A Vale apresentou mais um ótimo conjunto de resultados operacionais, com a produção de iodetos de níquel no Sistema Norte atingindo o maior nível de produção no segundo trimestre desde 2021”, afirma.

Apesar da queda nas vendas de iodetos de níquel e pelotas, o movimento está alinhado à estratégia da Vale de concentrar volumes na China. Nos metais básicos, a produção de níquel e cobre foi a maior para um segundo trimestre desde 2021 e 2019, respectivamente, com o cobre somando 183,5 mil toneladas no primeiro semestre de 2025 — o que indica potencial para atingir o topo da meta anual.

“Esperamos reação neutra do mercado”, afirma o Bradesco BBI, que tem um EBITDA estimado em US$ 3,2 bilhões no segundo trimestre de 2025. Mesmo com riscos baixistas para o minério de ferro, hoje a US$ 105 a tonelada, indicadores recentes melhoraram. O Bradesco BBI mantém a visão de que os preços devem convergir para US$ 100 a tonelada e segue vendo o valuation como atrativo, com VALE3 negociando a 4 vezes o EV/EBITDA.

O Itaú BBA corrobora com a visão do Bradesco BBI, e também tem recomendação de compra para o papel, estimando um preço-alvo de US$ 13 para 2025 para o ADR, o que representa uma alta de 25,6% em relação ao fechamento desta última terça. Para ele, diversos indicadores vieram acima das expectativas pelo banco.

As vendas, mesmo caindo, ficaram 1% acima das estimativas. O preço realizado foi de US$ 85,1 a tonelada, levemente acima da previsão do Itaú BBA de US$ 84,6 a tonelada, enquanto o preço das pelotas ficou um pouco abaixo. “No geral, estamos confortáveis com nossa estimativa de EBITDA de US$ 3,2 bilhões para o segundo trimestre de 2025.”

“O trimestre foi marcado pela recomposição de estoques e por uma estratégia comercial contínua centrada em produtos de teor médio na China”, aponta o Itaú BBA, que também destaca a divisão de metais básicos, em que os preços vieram em linha, mas os volumes surpreenderam. Segundo o banco, cobre deve se destacar, enquanto o níquel deve compensar preços mais baixos com embarques maiores.

Apesar de ter visto o resultado como neutro, o Goldman Sachs afirma que a mineradora “destacou métricas operacionais interessantes, que refletem uma estratégia comercial e de produção cada vez mais adaptável ao ambiente de mercado e à base atual de ativos” – especialmente relacionada a estratégia de reduzir produtos de maior qualidade, como pelotas, para produtos de menor qualidade.

“No geral, a realidade (não apenas da Vale) é de queda e esgotamento de teor dos minérios, num mercado que não remunera o prêmio de qualidade — o que faz sentido estratégico para preservar moléculas de ferro para o futuro ou usá-las apenas quando houver pagamento por isso”, pontua a equipe do Sachs, liderada por Marcio Farid.

Mais otimista ainda com a mineradora, o Sachs tem recomendação de compra para Vale, com preço-alvo de US$ 15,50 por ADR, um upside de 49,75%.

A mineradora vai divulgar resultados completos do segundo trimestre no próximo dia 31 de julho.

Acompanhe tudo sobre:ValeVALE3Mineradoras

Mais de Invest

Ibovespa opera em alta, de olho em balanços nos EUA e acordos de Trump

'Desquerida'? Ação da WEG toca mínima do ano após balanço e apaga ganhos recentes

WEG (WEGE3) registra lucro de R$1,59 bilhão no segundo trimestre, abaixo do esperado pelo mercado

WEG (WEGE3) vai pagar R$719 milhões em dividendos; veja a data de pagamento