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Vale (VALE3) não vê queda do minério, mas afasta dividendo extraordinário; ação cai 2%

Balanço do primeiro trimestre veio em linha com expectativas

Vale: Direção não vê minério se aproximando dos US$ 85 por tonelada, como prevêem alguns analistas (Germano Lüders/Exame)

Vale: Direção não vê minério se aproximando dos US$ 85 por tonelada, como prevêem alguns analistas (Germano Lüders/Exame)

Natalia Viri
Natalia Viri

Editora do EXAME IN

Publicado em 25 de abril de 2025 às 13h55.

Última atualização em 25 de abril de 2025 às 14h59.

Os resultados da Vale (VALE3) no primeiro trimestre vieram em linha com o esperado pelo mercado, com uma queda nos preços do minério pesando sobre a receita, mas parcialmente compensada por um bom trabalho de redução de custos.

Mas as ações caem forte no pregão de hoje, na esteira das preocupações com o preço do minério de ferro em razão da guerra comercial e com a possibilidade de um novo pagamento extraordinário de dividendos afastada – pelo menos no curto prazo.

Desde o início da sessão, os papéis recuam cerca de 2%, entre as maiores quedas do Ibovespa.

Na teleconferência com investidores, a administração mostrou confiança no fato de que o minério deve ficar no patamar de US$ 100 por tonelada.

A commodity foi uma das que vêm apresentando desempenho mais estável em meio aos temores de desaceleração global causados pelas tarifas de Trump.

“Hoje não existe crescimento relevante nem de oferta nem de demanda. O mercado está em equilíbrio e estamos muito confiantes de que não existem razões hoje para o mercado se distanciar deste intervalo”, afirmou o CFO, Marcelo Bacci, a jornalistas.

Segundo ele, a demanda chinesa – que responde por 60% do consumo de minério de ferro mundial – continua sólida e os contatos com os clientes, por ora, não indicam esfriamento à frente.

“É a situação que já vinha acontecendo antes: há menor demanda de setores como o imobiliário, mas compensada por um ótimo desempenho em manufatura, setor automotivo e bens de consumo”, diz.

O risco de uma desaceleração global, contudo, vem sendo monitorado de perto pela companhia. Mas, mesmo num cenário de maior estresse, a companhia não vê espaço para que o preço do minério caia para o patamar de US$ 85 por tonelada que vem sendo ventilada por alguns analistas.

“Abaixo de US$ 90 por tonelada, parte da produção mundial deixa de ser rentável e se reduz a oferta, puxando o preço para cima”, diz.

Dividendos extraordinários

O cenário de incerteza mais elevada, contudo, tem se refletido numa postura mais cautelosa em relação à robustez financeira e à liquidez da companhia.

“Estamos num período incerto em termos de condições de mercado, portanto não é o momento certo para discutir dividendos extraordinários”, disse Bacci, respondendo a uma pergunta de um analista sobre a distribuição de proventos.

A Vale terminou o primeiro trimestre com uma dívida líquida de US$ 18 bilhões, acima do trimestre anterior, impactada em grande parte pelo pagamento de US$ 2 bilhões em dividendos feita em março – dos quais US$ 500 milhões tinham sido acima do payout mínimo de 30% da geração de caixa.

No mercado havia a expectativa de que a venda da Aliança Energia, conjunto de hidrelétricas em que a companhia era sócia, para o fundo GIP, que vai trazer US$ 1 bilhão em caixa, pudesse ser direcionada ao pagamento de proventos.

Bacci afirmou, contudo, que os recursos vão ser utilizados para reduzir o nível de dívida – e reforçou o guidance dado no começo do ano. “Se o mercado der condições, devemos avaliar o aumento de remuneração, seja via recompras ou dividendos, se nossa dívida líquida cair abaixo de US$ 15 bilhões. Mais do que isso é muito cedo para discutir”, garantiu.

Entregando o guidance

Apesar da cautela em relação aos preços do minério à frente, analistas de mercado apontaram a performance operacional da Vale como um dos principais destaques do período.

A companhia vem conseguindo reduzir fortemente seus custos. O custo-caixa de minério de ferro caiu 11%, para US$ 21 por tonelada, próximo do piso do guidance para o ano de US$ 20 a US$ 22,5.

“Seguindo um relatório de produção sem surpresas, a Vale entregou um balanço também em linha no primeiro trimestre”, disse Leonardo Corrêa, do BTG Pactual (do mesmo grupo de controle da EXAME), em relatório.

“Essa melhora no senso de previsibilidade comparada a alguns trimestres nos últimos anos por si só é uma boa notícia.”

O banco, no entanto, mantém sua recomendação neutra para os papéis afirmando que o rendimento de fluxo de caixa (FCF yield) anualizado de 5% no trimestre não é atraente.

“A história ainda não tem um FCF yield de dois dígitos normalmente requerido pelos investidores nesse ambiente mais arriscado”, ressaltou o analista.

“Com as nuvens cinzas para o cenário global se adensando – e o minério de ferro desafiando a gravidade em US$ 100 por tonelada apesar do sell-off das commodities – mantemos nossa recomendação neutra, porque vemos muito pouca margem para erro.”

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