Buffett: Não há dúvida de que o comércio pode ser um ato de guerra. (CNBC Youtube/Reprodução)
Repórter Exame IN
Publicado em 3 de maio de 2025 às 11h19.
Última atualização em 3 de maio de 2025 às 13h25.
O megainvestidor Warren Buffett não vinha sendo tão vocal sobre a política de tarifas impostas pelo governo de Donald Trump. Mas a reunião anual de acionistas da Berkshire Hathaway, sua holding de investimentos, que acontece neste sábado, 3, em Omaha, Nebraska, mudou esse rumo.
“Deveríamos estar buscando comércio com o resto do mundo”, disse ao ser questionado sobre as tarifas de Trump.
O governo americano anunciou em 2 de abril tarifas sobre as importações. A principal afetada foi a China, com taxas de até 145%, que em resposta havia aplicado 125% de tarifas sobre produtos americanos. Os dois países sinalizaram, na última sexta-feira, o início de negociações.
Warren Buffett recebe investidores de todo o mundo na tradicional reunião anual de acionistas da Berkshire, em Omaha, Nebraska (EUA). O megainvestidor foi recebido sob muitos aplausos e gritos no CHI Health Center, que comporta 40.000 pessoas. Buffett está há 60 anos à frente da empresa.
Em 2003, Buffett escreveu um artigo no qual sugeriu que os EUA buscassem remediar seu déficit comercial por meio de um sistema de certificados de importação negociáveis que, segundo ele, seria uma “tarifa com outro nome”.
A proposta dos certificados foi citada na pergunta, lida pela apresentadora da rede americana de televisão CNBC. “Eu criei esse negócio de certificado de importação... é meio um truque, mas certamente é melhor do que qualquer coisa de que estamos falando agora”, disse Buffett.
O megainvestidor repetiu a única declaração que havia feito no começo do ano sobre o risco de tarifas, chamando-as de ato de guerra:
"Não há dúvida de que o comércio pode ser um ato de guerra. E acho que isso tem gerado coisas ruins, principalmente nas atitudes que desperta.”
"A principal coisa a fazer é não usar o comércio como uma arma", disse Buffett. "Não há dúvida de que o comércio pode ser um ato de guerra e acho que isso levou a coisas ruins, apenas as atitudes que isso gerou nos Estados Unidos. Devemos estar buscando comércio com o resto do mundo, e devemos fazer o que sabemos fazer de melhor, e eles devem fazer o que sabem fazer de melhor."
"Eu não acho que seja uma boa ideia tentar criar um mundo onde alguns países digam 'ganhamos' e outros países fiquem invejosos", disse ele. "E os Estados Unidos, nós ganhamos. Quero dizer, nos tornamos um país incrivelmente importante, começando do nada."
Ele acrescentou: "E é um grande erro, na minha opinião, quando você tem sete bilhões e meio de pessoas que não gostam muito de você, e você tem 300 milhões que ficam se vangloriando de alguma forma sobre o quão bem fizeram, e eu não acho que isso seja certo, e não acho que seja sábio. Eu acho que quanto mais próspero o resto do mundo se tornar, mais seguro será, e seus filhos se sentirão."
Buffett, conhecido por sua visão de longo prazo, também expressou preocupações sobre as implicações mais amplas das tarifas para a economia global, mencionando que o efeito de uma política comercial protecionista pode gerar tensões internas e externas.
Ele reiterou sua visão de que, para os Estados Unidos, a prosperidade vem de uma economia aberta, com foco no comércio com outras nações. O que ele chama de “vento favorável” dos EUA ao longo de sua história tem sido sustentado, segundo ele, pela capacidade do país de integrar-se ao comércio global.
Ao refletir sobre os riscos econômicos impostos pelas tarifas, Buffett destacou que a tentativa de "vencer" no comércio, como se fosse uma competição entre países, é um erro. "O valor da moeda é uma coisa assustadora, e não temos nenhum grande sistema para derrotá-la", afirmou.
A preocupação com as consequências dessas políticas também foi ampliada ao ser questionado sobre a possibilidade de uma recessão nos Estados Unidos. Buffett deixou claro que, apesar das dificuldades econômicas que os EUA enfrentam, ele mantém sua confiança no país. "A América tem passado por mudanças significativas e revolucionárias desde que foi formada. Estamos sempre em um processo de mudança", afirmou Buffett, acrescentando: "O dia mais sortudo da minha vida foi o dia em que nasci nos Estados Unidos."
O encontro, acontece no CHI Health Center em Omaha, e é transmitido ao vivo no YouTube, desde 9h30 (horário de Brasília) permitindo que investidores de todo o mundo acompanhem as discussões.
Durante o evento de mais de 4 horas, Buffett e outros executivos responderão a perguntas dos investidores sobre uma gama de tópicos.
Além da expectativa em torno da liderança e estratégias da Berkshire, a empresa vem recebendo atenção pela estratégia de longo prazo e pela gestão de caixa.
A estratégia de manter um grande volume de caixa tem sido apontada como uma das razões pelas quais a Berkshire conseguiu evitar grandes perdas durante períodos de alta volatilidade.