Taavet Hinrikus e Kristo Käärmann, fundadores da Wise: disputa sobre poder de voto expõe divisão na governança da fintech em meio à proposta de mudança da listagem principal para os EUA (Wise/Divulgação)
Redatora
Publicado em 22 de julho de 2025 às 07h09.
A fintech britânica Wise, conhecida por suas transferências internacionais de baixo custo, enfrenta um movimento de oposição de acionistas às vésperas da votação, marcada para o próximo dia 28, sobre a proposta de mudança de sua listagem principal da Bolsa de Londres para os Estados Unidos.
O cofundador da empresa, Taavet Hinrikus, que ainda detém 5,1% das ações, está entre os críticos mais vocais. Ele alega, de acordo com informações do jornal Financial Times, que o plano embute alterações significativas nos direitos de voto dos investidores.
A empresa, avaliada em cerca de £9 bilhões quando fez seu IPO em Londres em 2021, anunciou no mês passado a intenção de migrar sua listagem para os EUA. A decisão foi vista como mais um revés para o mercado de capitais britânico, que tem perdido atratividade entre grandes empresas de tecnologia.
Segundo Hinrikus, porém, o problema vai além da geografia: a proposta inclui a prorrogação, por mais uma década, dos direitos de voto diferenciados das ações classe B — estrutura que concentra o poder decisório nas mãos de um pequeno grupo de fundadores.
A estrutura dual class foi criada no momento da abertura de capital para garantir estabilidade no comando da empresa. Na prática, as ações classe B têm nove votos cada, contra um voto por ação classe A.
No mercado, esse tipo de estrutura é comum entre empresas de tecnologia que desejam evitar aquisições hostis ou mudanças bruscas de comando, mas também é frequentemente apontado como um fator que pesa negativamente nas métricas de valuation, por limitar a influência dos investidores minoritários.
A expectativa era que essa assimetria expirasse até julho de 2026, mas a nova proposta estende o prazo até 2036. Isso mantém o controle concentrado, especialmente nas mãos do atual CEO e cofundador Kristo Käärmann, que detém menos de 20% do capital econômico da companhia, mas quase 55% dos votos.
Hinrikus, por meio de seu veículo de investimentos, a Skaala Investments, argumenta que os acionistas estão sendo colocados diante de uma decisão “tudo ou nada”, sem a possibilidade de votar separadamente sobre a mudança da listagem e sobre as alterações de governança.
A Skaala, que detém mais de 15% das ações classe B da Wise, acusou a empresa de “enterrar” a extensão dos direitos de voto dentro de uma proposta mais ampla, dificultando a leitura clara das mudanças estruturais.
Ela defende que o tema dos direitos de voto seja destacado como questão autônoma, o que permitiria aos investidores aprovar a listagem dupla nos EUA sem ter que concordar com a manutenção prolongada do controle acionário concentrado.
Em resposta, o CEO Käärmann reconheceu as preocupações de Hinrikus, mas reforçou que o plano está sendo conduzido de forma clara.
Nos documentos enviados ao mercado, a Wise justificou que estruturas com ações de classes diferentes “apoiam a capacidade da gestão de focar e executar sua visão de longo prazo, frequentemente liderada por fundadores”.
A votação sobre as propostas será feita separadamente por acionistas das classes A e B. Para aprovação, será necessário maioria simples em cada classe e ainda uma supermaioria de 75% do valor das ações votadas em cada grupo.
Segundo a Reuters, a Skaala afirmou que outros acionistas também são contra a proposta, ainda que não tenha detalhado quais.
A Wise, por sua vez, disse que os investidores têm se mostrado amplamente favoráveis à mudança e argumentou que a consolidação das propostas em uma única votação é prática aceitável.
As consultorias de voto Glass Lewis, PIRC e ISS recomendaram apoio à proposta, destacando que a listagem nos EUA pode ampliar o acesso ao mercado de capitais e facilitar o crescimento da Wise no maior mercado da empresa.
As ações da Wise caem mais de 1,5% na manhã desta terça-feira, 22.