Trading: operar exige mais estratégia e menos emoção, dizem especialistas (Getty Images)
Repórter de finanças
Publicado em 31 de outubro de 2025 às 06h00.
Cinco telas ligadas, gráficos em movimento e notícias chegando em tempo real. A cena é típica do universo de trading — e o dia começa cedo. Acordar, devorar informações, mapear o humor das bolsas internacionais e checar a agenda econômica são passos obrigatórios para quem vive do sobe-e-desce do mercado.
Nada disso tem a ver com sorte, reforçam Marcelo e Marcos Bassani, sócios-fundadores da B. Trader, escola de traders, durante evento na B3 nesta quinta-feira, 30.
Para navegar nesse ambiente, a análise técnica ainda reina. Lucas Costa, analista técnico do BTG Pactual (do mesmo grupo de controle da EXAME), revela a própria fórmula: “65% análise técnica, 35% macro”.
Mais do que acompanhar indicadores como IPCA ou PIB, diz ele, o foco está em ler a reação do mercado a cada dado. “Tomar decisão cansa, consome energia. É preciso otimizar”, afirma.
Um conselho que carrega consigo: se for errar, que não seja no óbvio. “O que é diferente, o que você está testando, tudo bem errar. Mas o básico precisa ser bem-feito.”
O mercado costuma dividir o trading em três categorias:
• Day trade: abrir e fechar posições no mesmo pregão, buscando oscilações mínimas;
• Swing trade: operações mantidas por dias ou semanas, capturando movimentos intermediários;
• Position trade: posições de longo prazo, ancoradas em tendências estruturais.
Para Costa, o day trade ainda é a porta de entrada — mas não o destino final. “Atrai pela rapidez, mas, com o tempo, se percebe que o mercado é muito maior.”
Apesar do glamour que ronda o tema, o alerta é claro: não existe dinheiro fácil. E, sobretudo, é preciso saber parar.
“O iniciante vê cifras bilionárias e se deixa levar. Sem dedicação, vai perder — e, se perder, precisa aceitar parar. Se ganhar também”, diz Marcos. “Se não vira um jogo — e a bolsa não é isso.”
Ele lembra um jargão do mercado: o “trade da vingança”. Quando o operador não aceita a perda e tenta recuperá-la a qualquer custo — geralmente, perdendo ainda mais.
Marcos já passou por isso: ao ganhar muito dinheiro, arriscou tudo o que tinha, mais o cheque especial. A consequência foi amarga. Hoje, garante operar com disciplina e análises — e sem emoções.
O consenso entre os especialistas é simples: não se coloca todo o patrimônio em trading.
A ordem sugerida por Marcelo é montar a reserva de emergência (equivalente a até 12 meses de despesas), diversificar em outros investimentos, e destinar apenas uma pequena fatia ao trading.
“Até 2% do capital destinado para investimentos. É o dinheiro que não vai fazer falta”, reforça Marcos.
Para quem está começando, a recomendação é estudo, paciência — e simulação.
“Comece do começo. Não queira construir a casa pelo telhado. Antes de operar para valer, teste em ambiente simulado”, diz Marcelo.
Com a bolsa batendo recorde e atingindo 149 mil pontos intraday, o ambiente parece convidativo. A perspectiva de queda da Selic também incentiva o investidor a buscar risco. Mas Marcelo faz um contraponto: é preciso olhar muito além do índice.
“A bolsa bateu máxima. Quantas ações subiram 80% no ano? Renda variável nunca vai ganhar todas, mas há bons papéis. A economia varia: ora mais desafiadora, ora mais pró-mercado.”