Investimento: investir no exterior pode ficar mais caro para pessoa física (Getty Images)
Repórter de finanças
Publicado em 23 de maio de 2025 às 13h37.
Última atualização em 23 de maio de 2025 às 15h35.
Quem investe no exterior pode estar perdido no atual cenário de vai-e-volta do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF). Apesar de o governo ter revogado parte das medidas sobre investimentos estrangeiros, investir no exterior deve ficar mais caro -- pelo menos para pessoas físicas.
O governo anunciou no final da tarde da quarta-feira, 22, uma série de medidas fiscais, que incluem um bloqueio de R$ 31,3 bilhões no Orçamento de 2025, aumento do IOF e implementação do imposto em situações antes isentas, como aplicações no exterior.
Entre as mudanças, aplicações de fundos de investimento no exterior, antes isentas, passariam a pagar IOF de 3,5%. Mas o mercado não gostou e, após pressão, o governo revogou a medida.
“A repercussão foi tão ruim que o governo voltou atrás e revogou as medidas”, comenta José Alfaix, economista da Rio Bravo.
Na visão de Alfaix, como o governo não conseguiu arrecadar o suficiente sem custos fiscais com a desoneração da folha de pagamento, fizeram as medidas do IOF para compensar e “fechar a conta”. Mas os ruídos falaram mais alto e pressionaram a decisão.
As estimativas do governo apontavam que os ajustes no IOF, considerando também as mudanças previstas para empresas, resultariam em R$ 20,5 bilhões em arrecadação adicional em 2025, e R$ 41 bilhões em 2026. Contudo, com o recuo das medidas para investimentos no exterior, esse número pode reduzir em R$ 2 bilhões.
Pessoas físicas nunca estiveram nessa medida de investir no exterior, explica Alfaix. O IOF só seria cobrado para pessoas jurídicas, ou seja, fundos de gestoras que investem em outros países. Mas… estão em outra.
Para investir no exterior, é necessário fazer uma remessa (transferência externa) para o outro país. Essas transferências de recursos para conta de contribuinte no exterior, por sua vez, tiveram o IOF aumentado de 1,1% para 3,5%.
Com aumento do IOF, vai ficar mais caro viajar para o exterior?Isso vai encarecer o custo do investimento, o que pode reduzir o volume de investimentos no exterior, principalmente de pessoas físicas e de curto prazo.
“O IOF sobre a operação cambial é, de fato, um pedágio, mas para quem tem uma estratégia de longo prazo, por mais que esse IOF tenha subido, ele acaba sendo absorvido pelos próprios retornos”, explica Carlos Castro, planejador financeiro CFP pela Planejar.
No curto prazo, contudo, esse tipo de investimento pode ser afetado. Com isso, empresas que atuam com investimentos e contas no exterior, como Nomad e Avenue, podem sofrer com as mudanças no IOF.
Daniel Haddad, Chief Investment Officer (CIO) da Avenue, diz que o governo fez bem em reavaliar a medida, mas o que aconteceu foi “uma aula de risco de fronteira e acabou jogando luz em algo que a gente chama de controle de capital”.
"Vimos que, independentemente do governo, decisões unilaterais podem, de forma repentina, limitar a capacidade de enviar recursos para o exterior. Isso acarreta incerteza, gera risco e faz com que as pessoas pensem em proteção", comenta.
A Nomad afirma que mudanças tributárias podem gerar dúvidas e preocupações. Segundo a instituição, o aumento do IOF impacta toda a economia do país e é uma resposta do governo para uma situação fiscal complexa, que envolve crescente endividamento público.
“Em virtude do aumento na alíquota de IOF, os encargos da Nomad passam a seguir as medidas impostas pelo governo: o IOF de compra de moeda para conta corrente de pessoa física passa de 1,1% para 3,5%; e o IOF para operações de câmbio para investimentos de Pessoa Física passa de 0,38% para 1,1%”, diz a empresa em nota.
A companhia acrescentou: "Movimentos de aumento do IOF reforçam a visão da Nomad, de que os brasileiros deveriam ter parte de seus patrimônios no exterior, investindo em ativos internacionais e moeda forte. Investir no exterior não é torcer contra o Brasil, e sim uma forma de diversificar para se proteger e preparar para possíveis cenários desafiadores."