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Juros dos bancos são os maiores em 8 anos: veja como não se endividar

Empréstimos atrasados chegaram no pior nível desde 2011 — reflexo da Selic elevada

Rebecca Crepaldi
Rebecca Crepaldi

Repórter de finanças

Publicado em 28 de novembro de 2025 às 05h45.

As taxas de juros das concessões de crédito, aquelas cobradas por instituições financeira, no mês de outubro atingiram o maior patamar desde janeiro 2017, ficando em 31,9% – há oito anos, estava em 32,5%. Um dos motivos para esse cenário é ainda o aperto da política monetária. Os dados são do relatório ‘Estatísticas monetárias e de crédito’, divulgados nesta quarta-feira, 26, do Banco Central (BC).

O aumento em relação ao mês de setembro foi de 0,6 ponto percentual (p.p.) e de 4 p.p. em 12 meses. “Quando olhamos as taxas de juros, temos visto a mesma trajetória do que em vários meses, de uma elevação da taxa”, diz Fernando Rocha, chefe do departamento de estatísticas do BC, em coletiva.

O aumento das taxas de mercado é devido ao ciclo de alta da Selic – em 15% desde junho. Em outubro do ano passado, estava em 10,75% ao ano.

"Isso tem impacto muito grande no bolso das pessoas, também por falta de controle e organização financeira. É muito importante, antes de qualquer coisa, saber quais são os limites que temos", Raphael Carneiro, planejador financeiro.

A inadimplência chegou a 4% em outubro, considerando os atrasos superiores a 90 dias, o que reflete um acréscimo de 0,1 ponto percentual em relação ao mês anterior e de 0,8 ponto no acumulado de 12 meses. É a maior taxa da série histórica, que começou em março de 2011. “A inadimplência tem tido uma trajetória gradual nos últimos meses”, reconhece Rocha, do BC.

"Estamos em um cenário de recorde de endividamento, de inadimplência e de juros. É um momento muito complicado para as famílias, e ainda estamos no final do ano, quando há mais gastos", comenta Andres Montano, planejador financeiro.

Educação financeira é a chave

A partir da educação financeira, segundo Raphael Carneiro, planejador, é que o consumidor consegue evitar alguns "vilões", como o cartão de crédito e o cheque especial.

"E muito cuidado com os financiamentos, porque em momento de taxas altas, a tendência é que eles também fiquem altos", aponta.

Como limpar o nome até o final do ano: um passo a passo para renegociar dívidas

Montano elenca três dicas para organizar as finanças e não se endividar.

A primeira é a atenção maior com o orçamento mensal. Ou seja, ter clareza para onde o dinheiro está indo e se fica acima do orçamento.

"Para quem está endividado, esse movimento é ainda mais importante para poder direcionar parte dos ganhos para pagar as dívidas", afirma.

O segundo ponto é evitar ao máximo novas dívidas.

"O momento agora é só assumir uma dívida se tiver um propósito real. Por exemplo, pegar um empréstimo novo para quitar dívidas antigas e unificar em um lugar só, alongando o prazo em parcelas mais baixas. Se for uma dívida planejada, tudo bem."

A terceira dica é: aproveitar o final de ano para rever a vida financeira. Cabe, inclusive, pensar em quais habilidades a pessoa têm e começar a empreender.

"Uma renda extra ajudaria as famílias nesse momento." Soma-se a vendas de roupas, sapatos e eletrodomésticos que estão sem uso. "Geram caixa pontual e ajudam nesse momento mais complicado", destaca Montano.

Ele ainda alerta: cuidado com as compras por impulso na Black Friday e no final do ano. "Só compre o que já estava planejado e não irá afetar as finanças."

Começo ainda tem despesas, IPTU, IPVA, material escolar do filho, dentre outras.

Outros indicadores

O spread bancário, diferença entre as taxas médias de juros das operações de crédito e o custo de captação, atingiu 20,8 p.p. em outubro, com avanços de 0,5 p.p. no mês e de 2,6 p.p. em 12 meses. “Isso significa que as taxas de capitação permaneceram praticamente estáveis no mês e o aumento nas taxas de juros foi devido ao aumento dos spreads”, afirma Rocha.

As concessões nominais de crédito somaram R$ 690,8 bilhões em outubro. Para pessoas jurídicas, houve uma retração de 0,8% nas contratações. Já para famílias, mesmo com o juro alto, houve um incremento de 2,1%. Entretanto, para empresas, o aumento é maior: 11,4% versus 8,6% nas concessões para as famílias.

Dentre as concessões de crédito, se destaca o crédito livre, modalidade de empréstimo em que o banco tem liberdade para definir as condições. A taxa média de juros das operações de crédito livre atingiu 46,3% ao ano em outubro, tanto com aumento mensal quanto anual, maior taxa desde julho de 2017, quando registrou 46,5%.

No crédito livre às empresas, também subiu mês contra mês e em 12 meses para 25,2% ao ano. Já no crédito livre às famílias, a taxa média de juros alcançou o patamar de 58,7% ao ano. Destacaram-se os incrementos das taxas médias das operações de cartão de crédito rotativo (+97,5 p.p.) e de cheque especial (+16,2 p.p.).

Olhando para a inadimplência, no segmento de crédito livre, o índice permaneceu em 5,3%, sem variação mensal, mas 0,9 ponto acima do nível observado um ano antes. Entre as empresas, a inadimplência do crédito livre avançou para 3,3%, após aumentos de 0,1 p.p. no mês e 0,4 p.p. em 12 meses.

Já entre as famílias, o indicador ficou em 6,7%, estável na comparação mensal, mas 1,3 ponto acima do registrado no mesmo período do ano passado. Em setembro, o endividamento das famílias alcançou 49,1%, com altas de 0,1 p.p. no mês e 1,1 p.p. em 12 meses.

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