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O alerta da Cisco para golpes com IA na Black Friday: 'quase imperceptíveis'

Fernando Zamai, diretor de cibersegurança da Cisco, que presta serviço para empresas de e-commerce, diz que tecnologia é via de mão dupla

Rebecca Crepaldi
Rebecca Crepaldi

Repórter de finanças

Publicado em 25 de novembro de 2025 às 06h00.

Última atualização em 25 de novembro de 2025 às 06h05.

A tão aguardada Black Friday está chegando e o varejo brasileiro já está a todo vapor. A sexta-feira de descontos virou um mês inteiro, conhecido como Black November. Os números já mostram o poder das compras antecipadas: o e-commerce já faturou R$ 29,07 bilhões de 1º a 21 de novembro, 32% acima do mesmo período do ano passado. Os dados são da Neotrust, que monitora transações reais de 80 milhões de consumidores em sete mil lojas online.

Entretanto, é preciso cuidado. Com a inteligência artificial (IA), os golpistas estão cada vez mais sofisticados, fazendo com que o consumidor nem perceba que está sendo enganado. Os golpes podem ser os mais diversos possíveis e a atenção aos detalhes pode impedir o consumidor de maiores frustrações financeiras.

À EXAME, Fernando Zamai, diretor de cibersegurança da Cisco, explica como a via de mão dupla da IA: ao mesmo tempo em que torna o e-commerce mais eficiente e melhora a experiência de compra do consumidor, também aumenta as possibilidades de golpes.

Fernando Zamai, diretor de cibersegurança da Cisco

Golpes na Black Friday: Fernando Zamai, diretor de cibersegurança da Cisco (Cisco/Reprodução)

Confira a entrevista completa de Zamai para a EXAME:

EXAME: Como a IA pode colaborar para aplicar golpes?

Fernando Zamai: A IA já está sendo utilizada por nós, no dia-a-dia, mas também pelos golpistas. Ela veio para acelerar, qualificar o trabalho, mas também para ampliar, ganhar escala. Hoje você já recebe uma ligação com o número do seu gerente do banco, porque os criminosos conseguem forjar o telefone. E isso vira muito mais elaborado com a IA.

Quando a gente fala de Black Friday, já tínhamos sites clonados muito bem elaborados, agora vão estar perfeitos, a ponto do consumidor não saber diferenciar um do outro. O drama também é a velocidade com que isso se cria. Imagine que uma varejista vai colocar a campanha dela no ar e já vai ter uma cópia fiel lançando uma campanha paralela. Soma-se a isso o vazamento da base de dados. Tivemos a história do Gmail, do Facebook, que tiveram grandes bases vazadas. Essas bases ajudam a IA a qualificar o alvo. Phishing, deepfake, isso já está batendo na nossa porta, vai ser algo mais cotidiano e me assusta.

EXAME: A IA generativa permite criar textos, imagens e layouts mais profissionais. Isso torna os golpes mais difíceis de detectar?

Fernando Zamai: Com certeza. Antes você identificava erro de português ou percebia que não era a linguagem da empresa. Agora está bem mais difícil identificar essas diferenças. Temos que estar treinando as pessoas, para se proteger desse tipo de crime, mas vai estar cada vez mais difícil, humanamente impossível, diferenciar o que é autêntico e o que é golpe.

Existe tecnologia para garantir que o e-mail vai sair exclusivamente da sua causa. Se a empresa ainda não tem essa ferramenta, qualquer pessoa pode mandar um e-mail se passando por ela. O usuário não vai ter como saber se o e-mail é legítimo. Então ele envia uma senha e cai na fraude.

O golpista está parando de fazer aquela fraude em massa e escolhe bem o alvo dele. A gente brinca que é o retorno do investimento do ataque, eles têm que ter uma taxa de sucesso. Sabe aquelas ligações que a gente recebe e ninguém fala nada? Aquilo já é um robô que o fraudador está usando para qualificar o seu número. Porque ele está ligando para um monte de número aleatório e se não atender, ele tira da lista de ataque dele. Por isso a família tem que ter uma chave de segurança, uma palavra que combina.

EXAME: Vocês são responsáveis pela segurança de diversas varejistas. Como está sendo o processo para proteger os e-commerces durante a Black Friday?

Fernando Zamai: A gente observa desde quanto tempo a pessoa leva do carrinho ao pagamento, até algum software que não esteja funcionando corretamente e possa afetar o negócio. Em relação à segurança, a gente tenta identificar os pontos vulneráveis. Temos todo um sistema para analisar a aplicação, como ela está se comportando e identificar comportamentos estranhos. Pode ser que criminosos tenham encontrado uma brecha processual e esteja acontecendo uma fraude por trás.

Também mantemos os controles, o que muita gente chama de segmentação. Quanto acontece alguma invasão, é igual um navio, os compartimentos vão se fechando conforme há inundação.

EXAME: E como o consumidor pode se proteger dos golpes? A IA também pode ajudar nisso? Há ferramentas de IA que detectam golpes com eficiência?

Fernando Zamai: A IA colocou um peso grande nisso agora de conscientizar os usuários. Olhando para Black Friday, eu estou vendo muita empresa investindo em educação para o consumidor. Por exemplo, os bancos vêm dizendo 'nunca pedimos senha, nunca mandamos e-mail com isso’. E você vê que outras varejistas começam a fazer também.

Existem muitos sites vendendo coisa falsa. Quando a esmola é demais, o santo desconfia. Você também vê um anúncio do Instagram, de uma conta criada há um mês, que te leva para outro site: se atente. Para aplicar golpes, a pessoa nem precisa ser mais um mega especialista. A IA vai tornar um mal-intencionado, uma pessoa com conhecimentos básicos, em golpistas sofisticados.

Para o consumidor, ficam as dicas básicas: não acreditar em grandes promoções; comprar em um e-commerce de confiança, para ter a garantia de ressarcimento em caso de fraude; pesquisar influencers éticos; e buscar formas seguras de pagamento. Não confie tão fácil, desconfie do perfeito.

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