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O 'porquinho' do amanhã: cresce adesão aos planos de previdência para crianças

Com aportes a partir de R$ 50, pais podem iniciar o investimento para o futuro dos filhos. Mercado ainda tem muito espaço para crescer, aponta Fenaprevi

Previdência júnior: produto é uma opção para garantir futuro dos filhos (Thinkstock/Thinkstock)

Previdência júnior: produto é uma opção para garantir futuro dos filhos (Thinkstock/Thinkstock)

Rebecca Crepaldi
Rebecca Crepaldi

Repórter de finanças

Publicado em 10 de outubro de 2025 às 15h24.

Ao pensar em “previdência”, o costume é associar com a aposentadoria — mas não necessariamente ela pode ser usada somente para isso. Dentre um universo amplo de produtos, existem os planos de previdência júnior. Eles servem para custear a faculdade dos filhos, por exemplo, ou até um curso no exterior.

A captação bruta de planos abertos de caráter previdenciário atingiu R$ 100,5 bilhões de janeiro a julho de 2025, somando 11,2 milhões de participantes únicos por CPF, segundo dados da Federação Nacional de Previdência Privada e Vida (Fenaprevi).

Entretanto, os planos de previdência júnior ainda representam uma pequena fatia do montante, com apenas 2% sendo planos para menores — o que indica um grande potencial de crescimento, aponta Marcelo Malanga, diretor estatutário da Fenaprevi.

Mas esse montante pode aumentar. Uma pesquisa do Instituto Datafolha com a Fenaprevi mostrou que 29% dos entrevistados tinham, em 2024, a intenção de contratar uma previdência privada no ano seguinte, percentual que vem aumentando aos pouquinhos, ano a ano. O levantamento também apontou que oito em cada dez entrevistados pensam em planejar suas finanças para o futuro.

A principal finalidade das contratações de planos juniores é subsidiar a educação da criança no futuro, diz Malanga.

Pensando no futuro

A Brasilprev foi uma das primeiras a lançar plano de previdência para crianças e adolescentes, em 1997. Aos 21 anos, o beneficiário tem a opção de retirar o dinheiro para investir na faculdade ou na compra de um imóvel, por exemplo, mas também pode continuar com plano e seguir fazendo aportes.

Hoje, quase 30% da base total de clientes da Brasilprev é de plano júnir, cerca de 600 mil clientes.

Entre 2020 e 2024, o aumento do percentual de captação bruta dessa modalidade foi de 35%, segundo informou a empresa. Entre janeiro e agosto de 2025, a Brasilprev foi responsável por 50,5% da arrecadação de vendas da previdência privada júnior.

“Uma coisa que percebemos, quando falamos de plano para o menor, é que tem uma grande preocupação dos pais para subsidiar uma faculdade no futuro. Mas tinha também uma grande preocupação, caso o pai e mãe viessem a falecer”, comenta Sandro Bonfim, head de Produtos, da Brasilprev.

Pensando nisso, a empresa também criou em 2022 o “Brasilprev Júnior Educação”. Nessa modalidade de previdência, o menor recebe uma pensão mensal em caso de morte dos pais ou responsáveis.

Nesse caso, as contribuições são calculadas com base no valor que o investidor que receber no futuro e na cobertura dessa pensão;

As mulheres são as que mais contratam a previdência para os pequenos, segundo dados da base de clientes da Brasilprev. De 50% em 2020 para 52% em 2025. Nas configurações familiares, é observado também uma redução de clientes casados, que caíram de 51% para 49%, enquanto solteiros subiram de 35% para 37% no mesmo período.

A reserva média (média de valores que as pessoas investidoras têm acumulado) gira em torno de R$ 26.476, enquanto o ticket médio mensal da Brasilprev é de R$ 231 em 2025.

Outra percussora desse movimento no mercado foi a Bradesco Vida e Previdência, empresa integrante do Grupo Bradesco Seguros. Há mais de 20 anos, ela lançou começou a comercializar planos de previdência privada voltados para crianças e jovens. O "Prev Jovem Bradesco", no caso, abrange desde recém-nascidos até jovens de 24 anos.

O responsável pelas contribuições não precisa ser necessariamente o pai ou a mãe da criança, já que qualquer pessoa pode realizar o investimento em benefício do menor.

Segundo Rafael Barroso, superintendente sênior da Bradesco Vida e Previdência, é um produto flexível, pois também permite a realização de transferências entre fundos previdenciários por meio da portabilidade, de forma a adequar a estratégia de investimento ao objetivo e momento de vida do jovem.

“Esse tipo de produto tem um papel relevante na educação financeira. A infância e a adolescência são fases ideais para introduzir o tema das finanças, mostrando, por exemplo, a importância de economizar para alcançar objetivos. Dessa forma, a previdência se torna também uma ferramenta de conscientização”, afirma Barroso.

Dicas e armadilhas

Cuidar do futuro dos filhos é mais do que uma decisão financeira — é um gesto que garante segurança e tranquilidade ao longo do tempo.

Para isso, André Bobek, especialista em planejamento financeiro e fundador da Mhydas Planejamento Financeiro, afirma que começar cedo, mesmo com aportes menores, permite que o tempo e os juros compostos transformem os investimentos em patrimônios significativos ao longo dos anos.

O valor mínimo para se investir em um plano de previdência júnior da Brasilprev é de R$ 100. Já o da Bradesco Seguros é R$ 50.

Além dos juros compostos que colaboram com a construção do patrimônio, os produtos também trazem algumas vantagens. "Como o dinheiro fica protegido e não pode ser acessado imediatamente, incentiva o planejamento financeiro e evita desvios do objetivo inicial", aponta Bobek.

Em caso de falecimento do titular, os valores acumulados podem ser transmitidos diretamente aos filhos, sem cobrança de Imposto sobre Transmissão Causa Mortis e Doação (ITCMD).

Os investimentos são seguros, mas é preciso atenção para não cometer erros, como tentar fazer a contratação sem um bom acompanhamento profissional e acabar contratando um plano inadequado para aquele objetivo.

“É importante analisar taxas de administração, retorno esperado, liquidez e a correção sobre inflação e juros reais. A principal armadilha ocorre quando não há orientação adequada”, alerta Bobek.

4 dicas para não se endividar com o presente do Dia das Crianças

Como contratar uma previdência?

O especialista Bobek elucida o passo a passo para contratar uma previdência. Primeiro, é necessário definir os objetivos do investimento, como a idade de resgate, que pode ser 18, 20 ou 30 anos, e a finalidade, seja educação, negócio próprio ou um colchão financeiro.

Em seguida, deve-se escolher o produto mais adequado, como previdência PGBL ou VGBL, consórcios ou planos estruturados para jovens, por exemplo, um plano de 18 anos com aportes mensais e resgate corrigido. “A prioridade é contar com um bom assessor, que possa alinhar os objetivos, selecionar o produto certo e acompanhar o desempenho ao longo do tempo”, diz.

Veja, a seguir, como ficaria um investimento em previdência de R$ 300 por mês, a uma rentabilidade de 6% ao ano (já descontada a inflação), em diferentes intervalos de tempo.

  • 5 anos: R$ 20.995,69 de saldo acumulado
  • 10 anos: R$ 46.959,32 de saldo acumulado
  • 15 anos: R$ 86.073,57 de saldo acumulado
  • 18 anos: R$ 114.287,82 de saldo acumulado

Para Malanga, o mercado de previdência para menores ainda tem muito o que crescer e tudo vai depender de educação financeira.

Uma questão positiva (e curiosa) é que os produtos são os últimos a serem mexidos na hora do resgate, afinal, dá uma sensação de “tirar o porquinho de moedas do filho”, comenta Bonfim.

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