De janeiro a março, os apostadores destinaram até R$ 30 bilhões por mês às bets. (Leandro Fonseca/Exame)
Repórter de Mercados
Publicado em 13 de maio de 2025 às 14h46.
Com a crescente popularidade das apostas online, a preocupação com o endividamento da população tem criado discussões na esfera pública e envolvido os bancos. A influenciadora Virginia Fonseca compareceu recentemente à CPI das Bets para depor como testemunha. Ela foi questionada pelos senadores sobre os contratos e os trabalhos de influenciadores para promover casas de apostas e jogos de azar online.
Virginia afirmou seguir as recomendações do Conselho Nacional de Autorregulamentação Publicitária (Conar) sobre o tema, e que nunca disse aos seguidores que as pessoas deveriam apostar para “fazer o dinheiro da vida” — em outras palavras, para investir.
A própria definição de investimento é a alocação de um recurso que, após um período, vai trazer uma remuneração. As bets, no entanto, têm uma forte relação com a sorte, sem qualquer garantia de retorno.
Mas é preocupante que, de janeiro a março, os apostadores destinaram até R$ 30 bilhões por mês às bets, segundo o secretário-executivo do Banco Central (BC), Rogério Lucca, que também esteve presente na CPI. No ano passado, quando o mercado ainda não estava regulado, o banco havia estimado em torno de R$ 20 bilhões por mês o fluxo gasto com apostas eletrônicas. Com a atualização dos dados após a regulação, que entrou em vigor em 1º de janeiro, o BC concluiu que o valor ficou maior, entre R$ 20 bilhões e R$ 30 bilhões.
Não à toa, as bets entraram na mira dos bancos recentemente.
O Nubank, por exemplo, identifica chaves Pix usadas frequentemente por casas de apostas e, antes de completar a transação do cliente, sugere que dinheiro seja guardado em vez de usado para aposta. "Que tal guardar esse dinheiro? Alguns desses jogos são legalizados no Brasil, porém não há garantias de ganho. Guardando esse dinheiro ao invés de apostar, você tem a certeza de que ele vai render sem preocupação", diz a mensagem. O cliente pode confirmar e seguir com a transação ou cancelar. A mensagem não aparece para todos os usuários e o Nubank não bloqueia as transferências.
O Bradesco também entrou na luta contra a desinformação sobre bets. "Apostas não garantem retorno financeiro e o dinheiro pode ser totalmente perdido. Cuide de sua saúde financeira e procure opções mais seguras para valorizar o seu dinheiro", afirma o banco em mensagem a quem digita uma chave Pix suspeita no aplicativo.
O Banco do Brasil, por outro lado, identifica clientes que fazem transferências frequentes para casas de apostas e envia comunicações específicas com orientações sobre finanças pessoais e riscos das apostas, visando a educação financeira.
O Itaú tem a função "Alerta Pix", que sinaliza transações com indícios de golpe, fraude ou comportamento atípico, aplicável a qualquer destinatário, mas não tem alerta específico para transações para bets.
Já o C6 Bank adota uma postura mais rígida, bloqueando o uso do cartão de crédito e do cheque especial para apostas em casas de bets. Clientes com saldo negativo não podem fazer transferências para essas plataformas, e o banco pode recusar a transação informando o bloqueio.