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Ficou preocupado com a sangria da Nvidia? Foque no longo prazo, diz Gama Investimentos

Rodrigo Aloi, head de estratégia, dona da Gama Investimentos, afirma que é sintomático que um investidor tenha se deixado desesperar pelo que ocorreu na segunda-feira

O sucesso da chinesa DeepSeek balançou as estruturas do mercado das Big Techs nos Estados Unidos (VCG/VCG/Getty Images)

O sucesso da chinesa DeepSeek balançou as estruturas do mercado das Big Techs nos Estados Unidos (VCG/VCG/Getty Images)

Letícia Furlan
Letícia Furlan

Repórter de Mercados

Publicado em 29 de janeiro de 2025 às 07h55.

O sucesso da startup chinesa de inteligência artificial DeepSeek balançou o mercado das big techs nos Estados Unidos. O que está em jogo é um modelo de IA que se equipara, em vários parâmetros, ao GPT-4o da OpenAI, mas que custa muito menos. Treinado com um orçamento de apenas US$ 5,6 milhões, o modelo R1 desafia a tônica de que são necessários altos investimentos para chegar à liderança no setor de IA.

Na segunda-feira, 27, a Nvidia teve o seu pior dia desde março de 2020, encolhendo cerca de US$ 600 bilhões. Tratou-se, também, da maior perda já registrada por uma única empresa. Para os investidores, acostumados desde 2023 a ver as ações das empresas de tecnologia subindo continuamente, a sangria foi um baque. Foi o que afirmou Rodrigo Aloi, head de estratégia e pesquisa da HMC, dona da Gama Investimentos. A HMC, é uma plataforma global de investimento, que tem US$ 17,5 bilhões sob gestão e atuam em sete países.

No dia seguinte, após o que ficou conhecido como "segunda-feira sangrenta" para as big techs, as ações da Nvidia e de outras companhias ligadas à IA ensaiavam uma recuperação. Para Aloi, todo o barulho do mercado em relação à brusca queda dos papéis na segunda-feira foi, de certa forma, exagerado.

À EXAME Invest, o estrategista afirma que, aos investidores, cabe um olhar para o longo prazo. Além disso, para evitar situações de desespero frente a quedas repentinas, um portfólio diversificado é essencial. “É sintomático que o investidor esteja preocupado [em cenários como o de segunda]. Sintoma de que talvez ele não tenha preparado o portfólio bem o suficiente.”

Trata-se de uma bolha das big techs?

Não, não é uma bolha. Mas os preços das ações de tecnologia estão exagerados. A bolha de 2000 tinha empresas que não geravam lucro, com um comportamento irracional dos investidores. Hoje, as empresas são lucrativas e dominantes em seus setores, como a Nvidia. O valuation está esticado, mas não há irracionalidade por parte dos investidores.

Os papéis da Nvidia e das big techs vão voltar ao que eram antes?

A queda da Nvidia ocorreu devido à emergência de um concorrente, a DeepSeek, que oferece serviços similares a custos menores. Além disso, as ações estavam precificando um cenário de perfeição, vulnerável a gatilhos como a concorrência. O tempo dirá se a Nvidia vai se recuperar, dependendo de sua capacidade de manter sua proposta de valor e da DeepSeek conseguir construir e sustentar a sua.

Continuo achando, particularmente, que a Nvidia tem uma proposta de valor e que ainda domina o mercado. Mas acredito que essas premissas serão mais testadas a partir de agora do que antes da emergência desse potencial competidor.

Em um momento como o de segunda-feira, o que os investidores devem fazer?

Para evitar o caos, o melhor é conhecer bem onde se está investindo. Afinal, quem entende o negócio da Nvidia pode ter uma ideia de sua capacidade de recuperação. Além disso, a diversificação do portfólio é fundamental para minimizar a volatilidade.

O S&P 500 está muito concentrado em tecnologia, e um portfólio diversificado é mais sólido, permitindo navegar por diferentes temas de investimento, incluindo setores que podem se beneficiar de políticas de Donald Trump, por exemplo.

Na semana passada, o presidente dos Estados Unidos anunciou um investimento de até US$ 500 bilhões em infraestrutura para inteligência artificial (IA) no país, em parceria com a Oracle, a OpenAI e o SoftBank. O anúncio de Trump pode ajudar na recuperação do setor?

Certamente, a criação de infraestrutura para IA joga a favor. Mas o mercado precisa entender exatamente o que está sendo proposto, em termos mais tangíveis, para avaliar o impacto. Não sobre a categoria ampla de empresas de tecnologia, mas sobre quais serão as principais vencedoras dessas políticas e quais companhias mais se beneficiarão desse tipo de incentivo.

O mercado exagerou ao chamar a queda de “segunda-feira sangrenta”?

O gestor está imerso em narrativas e em detalhes extremamente granulares do que acontece. A ele caberia se deixar levar menos por esse volume gigantesco de dados ao qual é exposto todos os dias. Já o papel do investidor é outro.

Acredito que o investidor deve adotar uma perspectiva de longo prazo. Se ele montou um portfólio robusto e sólido o suficiente para navegar diferentes cenários, deveria se preocupar menos com eventos como esse.

É sintomático que ele esteja apreensivo — um sinal de que talvez não tenha preparado seu portfólio bem o suficiente. Para isso, serve a diversificação: para garantir que eventos como esse não sejam determinantes, mas apenas pequenos detratores, entre tantos outros que ocorrerão ao longo do tempo.

O que isso diz sobre o cenário doméstico?

No Brasil, já temos nossos próprios desafios, que não estão relacionados à DeepSeek ou ao mercado de inteligência artificial. Temos problemas macroeconômicos mais relevantes, especialmente na esfera política e fiscal.

Do ponto de vista fundamental, nada muda. No entanto, sabemos que os mercados podem ter um comportamento especulativo. Assim, há um movimento de redução de riscos, geralmente associado a quedas bruscas no mercado.

Isso, obviamente, gera desdobramentos — ainda que de curtíssimo prazo — nos ativos brasileiros.

@exame

🤖 A nova IA chinesa custa 5% do ChatGPT e entrega resultados melhores. O DeepSeek foi baixado mais de 109 mil vezes no HuggingFace e gerou uma corrida frenética de desenvolvedores no mundo. Saiba mais!

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