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No 4º trimestre, Vale surpreende com retorno de caixa; ação sobe

Mineradora supera expectativas em geração de caixa e recompra de ações, mas enfrenta desafios em fluxo de caixa e endividamento, segundo análises de grandes bancos

Vale: dividendos no valor de US$ 2 bilhões, incluindo US$ 500 milhões extraordinários (Tomaz Silva/Agência Brasil)

Vale: dividendos no valor de US$ 2 bilhões, incluindo US$ 500 milhões extraordinários (Tomaz Silva/Agência Brasil)

Raquel Brandão
Raquel Brandão

Repórter Exame IN

Publicado em 20 de fevereiro de 2025 às 11h25.

Última atualização em 20 de fevereiro de 2025 às 14h22.

A mineradora Vale divulgou seus resultados do quarto trimestre de 2024, trazendo surpresas positivas no retorno de caixa aos acionistas, mas ainda enfrentando desafios operacionais e financeiros, segundo análises do UBS, Citi, Goldman Sachs, Itaú BBA e BTG Pactual (do mesmo grupo de controle da EXAME). As ações subiam 2,89%, às 14h20, para R$ 57,30.

O balanço da companhia revelou um Ebitda de US$ 4,1 bilhões, ficando 6% abaixo do consenso de mercado, mas superando a estimativa do UBS em 8%, impulsionado pelo controle de custos no minério de ferro e cobre.

O Citi destaca que os resultados ficam em linha com suas projeções, reforçando sua recomendação de compra para as ações da mineradora. "Esperamos que o corte no capex e o novo programa de recompra resultem em uma leve valorização das ações no curto prazo", diz o banco. Já o Goldman Sachs ressalta que a empresa vem melhorando sua eficiência operacional, embora o mercado ainda não tenha refletido essa evolução nos preços das ações. "Acreditamos que a Vale está bem posicionada para um desempenho superior ao do mercado", pontua.

O Itaú BBA também vê o resultado como positivo, destacando que o desempenho supera sua previsão em 6%, impulsionado por custos menores do que o esperado. "A redução dos custos operacionais é um diferencial neste trimestre", aponta o relatório. O BTG Pactual diz que os números são sólidos, mas que o destaque fica mais para os anúncios estratégicos do que para os números em si. "Mais do que os resultados, as decisões estratégicas de capital são a grande surpresa do trimestre", destaca o banco.

A Vale anunciou dividendos no valor de US$ 2 bilhões, incluindo US$ 500 milhões extraordinários, o que representa um yield anualizado de aproximadamente 10%, superando as expectativas do mercado. Além disso, aprovou um novo programa de recompra de 120 milhões de ações, equivalente a 3% do total em circulação, a ser executado em até 18 meses. O BTG Pactual destaca que essa recompra é inesperada e deve ter um impacto positivo na percepção dos investidores. "A recompra de ações é um fator surpreendente e pode sustentar a valorização dos papéis", diz.

No que diz respeito à eficiência operacional, a companhia reduziu seus custos no minério de ferro, com o C1 Cash Costs (excluindo compras de terceiros) caindo 9% no trimestre e 10% na base anual, para US$ 18,8/t — o menor nível desde o primeiro trimestre de 2022. Os custos totais (all-in) ficaram em US$ 49,5/t, também o menor patamar desde 2022. "A forte disciplina de custos continua sendo um pilar essencial para a Vale", destaca o UBS.

Outra novidade relevante foi o corte na projeção de investimentos (capex) para 2025, reduzindo a estimativa de US$ 6,5 bilhões para US$ 5,9 bilhões. A decisão é atribuída tanto à desvalorização do real quanto a uma revisão estratégica para otimização de despesas. O Citi ressalta que esse corte vem principalmente de projetos de crescimento em metais básicos.

"Embora o corte no capex seja positivo, é importante monitorar os impactos em novos projetos", alerta. O Goldman Sachs destaca que a redução de 9% no capex é um movimento positivo, reforçando a capacidade da empresa de equilibrar investimentos e retornos aos acionistas. O BTG Pactual também vê essa decisão como positiva, apontando que ela melhora a narrativa da companhia sobre eficiência na alocação de capital.

Apesar das boas notícias em relação à distribuição de capital, o UBS destaca que a companhia ainda enfrenta desafios em seu fluxo de caixa. O fluxo de caixa para o acionista (FCFE) é negativo em US$ 100 milhões, impactado por desembolsos relacionados à renegociação de concessões ferroviárias (-US$ 656 milhões), despesas com Brumadinho (-US$ 547 milhões) e pagamentos da Samarco (-US$ 504 milhões). O endividamento também permanece elevado, com a dívida líquida expandida em US$ 16,5 bilhões no final de 2024, acima do limite de referência da empresa de US$ 15 bilhões.

O BTG Pactual chama atenção para o fluxo de caixa relativamente fraco e o impacto disso na capacidade da empresa de sustentar sua política de retornos aos acionistas no longo prazo. "O fluxo de caixa ainda não reflete completamente as melhorias operacionais, o que pode ser um ponto de atenção", comenta o banco.

No segmento de metais básicos, o cobre teve um desempenho positivo, com Ebitda crescendo 40% na base anual, para US$ 526 milhões, impulsionado por preços mais altos e receitas adicionais com subprodutos. O Citi estima um Ebitda ainda maior para o segmento, em US$ 581 milhões, reforçando a melhora operacional. "O cobre se mostra um destaque, enquanto o níquel continua abaixo do esperado", aponta.

O Goldman Sachs também destaca a força dos metais básicos, apontando uma redução de 20% nos custos operacionais de cobre e níquel, o que contribuiu para um Ebitda bem acima do esperado. "O segmento de metais básicos vem apresentando uma recuperação notável", afirma o relatório. O Itaú BBA concorda que o cobre foi um destaque positivo, enquanto o níquel teve um desempenho mais fraco. O BTG Pactual acrescenta que, embora o cobre surpreenda, o níquel continuou decepcionando e praticamente zerando seu Ebitda  no trimestre.

O UBS mantém sua recomendação neutra para as ações da Vale, com preço-alvo de US$ 11,50, frente à cotação de US$ 9,74 em 19 de fevereiro de 2025. O Citi reitera sua recomendação de compra, com um preço-alvo de US$ 12,00, projetando um retorno total de 31,4%. O Goldman Sachs, por sua vez, é ainda mais otimista, mantendo sua recomendação de compra com um preço-alvo de US$ 16,00, representando um potencial de valorização de 64%.

O Itaú BBA também classifica os resultados como positivos e espera que o mercado reaja bem ao corte de capex e à nova recompra de ações. Já o BTG Pactual, embora reconheça os avanços operacionais e estratégicos da empresa, mantém sua recomendação neutra, citando incertezas no cenário global do minério de ferro e a volatilidade da economia chinesa. "Preferimos aguardar maior clareza sobre os impactos do mercado chinês antes de revisar nossa posição", diz o banco.

O balanço da Vale mostrou sinais claros de recuperação operacional, com avanços no controle de custos e na remuneração ao acionista. No entanto, a empresa ainda precisa demonstrar maior consistência na geração de fluxo de caixa livre para convencer o mercado de uma recuperação mais robusta. O desafio para os próximos trimestres é equilibrar o compromisso com a desalavancagem e os investimentos futuros, enquanto lida com os passivos herdados de desastres passados, na avaliação dos bancos.

O UBS se mantém mais cauteloso, enquanto o Citi e o Itaú BBA enxergam maior potencial de valorização no médio prazo. O Goldman Sachs acredita que a Vale está bem posicionada para um desempenho superior ao do mercado, enquanto o BTG Pactual prefere adotar uma postura mais conservadora até que o cenário global traga maior clareza.

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