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Ouro bate Ibovespa, bitcoin e dólar no ano — a tendência é subir mais, dizem especialistas

Combinação de tensões geopolíticas com busca dos Bancos Centrais pelo metal deve sustentar preços em níveis recordes

Ouro: metal ultrapassa a marca de US$ 3.800 por onça troy (sutan abraham/Getty Images)

Ouro: metal ultrapassa a marca de US$ 3.800 por onça troy (sutan abraham/Getty Images)

Rebecca Crepaldi
Rebecca Crepaldi

Repórter de finanças

Publicado em 1 de outubro de 2025 às 06h00.

Última atualização em 1 de outubro de 2025 às 06h47.

Todo trocadilho é pouco para falar sobre o quanto o ouro brilhou entre os investimentos, não apenas no pelos recordes sucessivos que bateu em setembro, mas pela alta de 47% acumulada no ano até agora. O metal foi mais rentável do que o Ibovespa (+21,5%), bitcoins (+3,96%) e as moedas mais tradicionais — euro e dólar acumularam queda de 3% e 14%, respectivamente, em relação ao real, nesse mesmo período.

O ouro é um ativo de proteção e historicamente resistiu a choques econômicos. Logo, sua valorização também mostra que há uma forte percepção de risco no ar. Incertezas geopolíticas e macroeconômicas levam os investidores ao metal dourado.

O corte de juros nos Estados Unidos também joga a favor desse investimento. Afinal, os títulos do tesouro americano já não ficam mais tão atrativos como antes, e o ouro acaba cumprindo com o papel de ativo seguro e mais rentável.

Conflitos geopolíticos impulsionam a busca pelo metal

Os conflitos entre Rússia e Ucrânia e entre Israel e Hamas são, hoje, as principais tensões geopolíticas que mexem com o preço do metal, de acordo com especialistas. Mas há também uma demanda crescente dos Bancos Centrais dando suporte às cotações.

Os BCs aumentaram suas compras de ouro em cinco vezes desde o início da guerra Rússia-Ucrânia, com as reservas oficiais em todo o mundo ultrapassando os treasuries pela primeira vez desde 1996, aponta o relatório escrito pelos analistas Leonardo Correa e Marcelo Arazi, do BTG Pactual.

Em agosto, o Banco Popular da China completou o décimo mês seguido de aquisições de ouro, levando suas reservas a US$ 253,8 bilhões. Com isso, a fatia do metal nas reservas cambiais do país alcançou o nível recorde de 7,64%, embora ainda permaneça abaixo da média global, em torno de 15% — o que indica margem para novas compras.

O gigante asiático também entrou na disputa pela custódia do metal de nações estrangeiras, com o objetivo de reforçar seu papel no sistema financeiro global e desafiar a hegemonia do dólar, dos Estados Unidos, do Reino Unido e da Suíça.

Nos EUA, as reservas oficiais de ouro superam US$ 1 trilhão. De acordo com o Tesouro, o estoque do metal no país soma aproximadamente 261,5 milhões de onças troy.

Desdolarização

A corrida pelo ouro dos bancos centrais deve continuar. Isso porque, segundo Gustavo Curz, estrategista-chefe da RB Investimentos, os últimos anos ganham um “extra” com o temor fiscal americano e com a “animosidade” dos próprios EUA com outros países, ao impor tarifas de importação. Com isso, diversos Bancos Centrais que tinham reservas em títulos americanos passaram a buscar alternativas.

O Fiscal nos Estados Unidos agrava ainda mais o cenário. Várias agências de rating rebaixaram pela primeira vez a nota de crédito americana.

“Não tem a menor discussão sobre algum tipo de melhora na parte fiscal americana, muito pelo contrário, vimos o ‘One Big Beautiful Bill’ do Trump só agravando o cenário. Ele fala como se as tarifas fossem resolver e é longe de isso”, comenta.

Segundo o economista, a tendência é que os Estados Unidos tenham uma dívida que chegue a 124% do Produto Interno Bruto (PIB) até o fim de 2027 — o que aumenta a busca por ativos mais seguros, como o ouro.

Vale a pena investir?

Quem encontrou o pote de ouro no final do arco-íris pode continuar com ele: a tendência é subir mais.

Para Mauriciano Cavalcante, economista da Ourominas, o metal pode chegar à faixa de US$ 4 mil por onça-troy até o final do ano. “É verdade que o ouro está com preço muito alto, porém, analisando o momento e os fatores citados que influenciam a valorização, podemos afirmar que existe espaço para maior valorização do que para queda”, pontua.

Mas o investidor brasileiro ainda não percebe no ouro o valor que deveria, como aponta Miranda, da Empiricus. Segundo ele, existe uma “missão de convencer investidores pessoas físicas a diversificar suas carteiras com a posição em ouro”. A exposição ao ativo pode ocorrer via fundos, contratos futuros, ETFs, barras físicas, ações de mineradoras ou FIPs (Fundos de Investimento em Participações).

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