A Amazon tornou conhecida a prática de deixar uma cadeira vazia nas reuniões, simbolizando o cliente e lembrando que o foco das decisões deve ser sempre o consumidor. (Envato)
Colunista
Publicado em 1 de outubro de 2025 às 14h00.
Empresas de serviços de sucesso duradouro, com uma cultura voltada para o cliente, costumam adotar um critério fundamental em suas decisões: qual será o impacto da decisão no cliente?
Oferecer um serviço barato e de baixa qualidade é relativamente fácil. O verdadeiro desafio está em ser eficiente, construir diferenciais, estabelecer vantagens competitivas e compartilhar o valor criado com o cliente por meio de um serviço de qualidade a preço competitivo. Empresas que se posicionam assim combinam alta rentabilidade com fidelização de longo prazo, entregando ao cliente uma proposta de valor difícil de superar e gerando retorno superior sobre o capital investido.
Falar em “cultura centrada no cliente” pode soar óbvio. Mas, quando observamos de perto, poucas organizações de fato operam assim. Na prática, significa que todas as escolhas — de investimento, de despesas, de alocação de tempo e de energia — passam por um mesmo filtro: gera impacto positivo para o cliente? Se a resposta for não, melhor pensar bem.
Cultura, nesse sentido, não é uma declaração escrita, mas um guia prático de escolhas. Uma lente que ajuda a priorizar. Quando bem estabelecida, ela elimina ambiguidades, reduz desperdícios e dá clareza para as equipes sobre onde concentrar esforços.
Na minha trajetória, já vi muitas decisões de alocação de recursos e tempo sem qualquer efeito perceptível para o cliente, em geral, escolhas voltadas para dentro da organização, não para fora. Isso não significa, porém, que iniciativas de fortalecimento organizacional e, em especial, de investimento nos colaboradores não gerem impacto positivo no cliente. A visão de Richard Branson resume bem essa lógica: ‘cuide bem dos funcionários e eles cuidarão bem dos clientes’.
Esse tipo de disciplina cultural se traduz em austeridade interna e foco externo. Uma empresa de serviços não precisa de estruturas luxuosas para dentro; precisa, sim, de um ambiente interno adequado e direcionar recursos para aquilo que o cliente percebe e valoriza. Isso pode significar investir em tecnologia que torne o atendimento mais rápido, em treinamentos que aumentem a qualidade do serviço ou até em processos de back office mais simples, desde que sua finalidade seja liberar energia para o que realmente importa: a experiência do cliente.
É nesse ponto que cultura e estratégia se encontram. Uma cultura orientada ao cliente não pode estar dissociada da forma como a empresa compete e cria valor. Se cultura é “como decidimos”, estratégia é “onde queremos chegar e como”. E ambos precisam estar alinhados.
Uma empresa de serviços que declara ter foco no cliente, mas adota uma estratégia voltada a maximizar lucros ou reduzir custos a qualquer custo, cria uma contradição. A cultura vira discurso vazio. O inverso também é verdadeiro: uma estratégia brilhante pode fracassar se não for sustentada por uma cultura que a torne possível no dia a dia.
Essa conexão se revela no modo como a organização estrutura processos, mede resultados e reconhece comportamentos. Estratégia e cultura formam uma engrenagem: a cultura baseia escolhas e dá coerência à execução; a estratégia fornece o norte e traduz os objetivos em caminhos concretos.
Quando essa engrenagem funciona, a empresa consegue alinhar sua proposta de valor de forma consistente. O ponto central é simples: criar benefícios reais para o cliente. Isso pode vir de vantagens competitivas tangíveis, sejam diferenciais ou maior eficiência operacional. Mas a essência está em como esse valor é compartilhado.
Uma prática estratégica relevante é permitir que o cliente capture parte significativa desse valor. Isso se traduz em fidelização. O cliente sente que paga um preço justo em relação ao benefício recebido, “lucrando” na parceria. A empresa, por sua vez, garante recorrência na sua base de clientes e recomendações para atrair novos clientes. Manter clientes ao longo do tempo, ampliar negócios com os já existentes e conquistar novos formam a verdadeira base da competitividade.
A política de preços, portanto, não é apenas uma decisão comercial, mas uma expressão direta da cultura. Ao decidir não extrair todo o valor possível, a empresa comunica ao cliente que a relação é pensada para durar, e não para maximizar o ganho de curto prazo. Essa postura, quando sustentada ao longo do tempo, cria barreiras invisíveis que são mais fortes do que qualquer contrato.
Cultura organizacional não é sobre frases bonitas em apresentações. É sobre decisões. É sobre como líderes e equipes respondem à pergunta simples: “isso melhora a vida do cliente?” Uma empresa de serviços que internaliza essa lógica cria clareza, disciplina e vantagem competitiva sustentável.
Cultura centrada no cliente significa priorizar o que o cliente vê e valoriza, ser austera para dentro e generosa para fora, alinhar execução com estratégia e estruturar propostas de valor que fidelizam. Significa, em resumo, que o cliente nunca está ausente da sala — mesmo que simbolicamente representado por uma cadeira vazia.
A sugestão para qualquer executivo ou empreendedor que queira testar a consistência da cultura de sua empresa é simples: olhe para as últimas decisões relevantes que tomou. Em cada uma, a vida do cliente saiu melhor do que estava antes? Se a resposta for não, talvez a cultura que está sendo praticada não seja a que aparece no mural.
Empresas que entendem isso constroem mais do que bons resultados financeiros de curto prazo: constroem relações duradouras e marcas que atravessam gerações.