Esther Perel (Divulgação/SXSW)
Redação Exame
Publicado em 17 de março de 2025 às 14h09.
Última atualização em 17 de março de 2025 às 14h28.
*Por Higor Lambach
Em um dos painéis mais aguardados do SXSW 2025, a best-seller e terapeuta de executivos renomados, Esther Perel, em gravação ao vivo de seu podcast "Where Should We Begin", convidou a futurista Amy Webb, referência em tendências tecnológicas e metodologias preditivas, e Frederick Ferret, crítico da futurologia tradicional e fundador do laboratório de inovação do Google.
A conversa inicial contaria com a participação do médico Peter Attia, especialista em longevidade, que cancelou sua presença no último momento. Apesar de abrir com a reflexão contundente de qual nosso motivo de viver mais se estamos cada vez mais infelizes, o que se seguiu foi um embate entre duas visões opostas sobre o futuro. Ele pode ser previsto ou é simplesmente construído a partir de ações e escolhas individuais?
A discussão começou com uma provocação de Perel à plateia: "O futuro é...". As respostas trouxeram termos como "incerto", "assustador" e "desafiador". Porém, ao reformular para "O futuro que vocês criam é...", o tom mudou para "cheio de possibilidades" e "transformador". Esse contraste revela um insight valioso para líderes: quando o futuro é visto como incontrolável, predomina o pessimismo; quando há protagonismo, aumentam a confiança e o otimismo.
Para Ferret, essa diferença de percepção impacta diretamente as decisões de investimento e inovação. "Quando tratamos o futuro como inevitável, assumimos postura passiva. Quando entendemos que ele é fruto das nossas escolhas, passamos a agir estrategicamente", afirmou.
Webb apresentou uma visão complementar baseada em dados. "Não estamos falando de adivinhação. A futurologia se baseia em sinais, tendências e modelagens matemáticas para antecipar riscos e oportunidades", defendeu.
O debate extrapolou o campo teórico para abordar a tomada de decisões corporativas. Para Webb, companhias que ignoram a análise de cenários ficam vulneráveis às disrupções de mercado, enquanto as que adotam estratégias baseadas em tendências conseguem se antecipar e capitalizar mudanças.
Ferret alertou para um risco significativo: o excesso de previsibilidade. "Os maiores avanços da história não vieram de previsões exatas, mas da capacidade de adaptação diante do inesperado", argumentou, sugerindo que empresas muito dependentes de modelagens podem criar visões engessadas, prejudicando sua agilidade competitiva.
O painel ganhou tom mais acalorado quando Webb afirmou que o mundo real é impulsionado pelo egoísmo e que imaginar um futuro positivo não basta—é preciso criar sistemas que incentivem decisões coletivas. Para ela, as dinâmicas políticas e econômicas frequentemente priorizam interesses individuais em detrimento do bem-estar social.
Ferret discordou, defendendo que o caminho para um futuro sustentável passa pela valorização dos relacionamentos e da gratidão. Ele citou pesquisas que indicam que pessoas com laços sociais fortes são mais saudáveis e resilientes, sugerindo que a base de qualquer progresso está na qualidade das conexões humanas. A plateia reagiu com uma mistura de concordância e ceticismo, reflexo da complexidade do tema.
Amy Webb trouxe duas possibilidades intrigantes para o futuro: robôs biohíbridos, que combinam neurônios humanos com hardware, e sistemas de IA interconectados capazes de tomar decisões autônomas.
Os robôs biohíbridos prometem avanços na medicina e na automação, mas também geram preocupações sobre autonomia e controle. Já os sistemas de IA interconectados poderiam revolucionar a forma como tomamos decisões, mas levantam dúvidas sobre privacidade e viés algorítmico.
Webb alertou que o verdadeiro desafio não está na tecnologia em si, mas em sua implementação.
As provocações e trocas tensas do painel evidenciaram uma mensagem direta para líderes empresariais: a disrupção tecnológica é inevitável, mas seu impacto nos negócios não é predeterminado. Empresas que equilibram análise de dados com adaptabilidade tendem a prosperar.
"A tecnologia avança exponencialmente, mas o diferencial competitivo ainda reside na qualidade das decisões humanas", encerrou Perel.
Para executivos, o verdadeiro desafio está em criar organizações que conjuguem previsibilidade com flexibilidade – antecipando tendências sem se tornarem reféns delas. Aqueles que dominarem este equilíbrio não apenas sobreviverão às mudanças, mas as transformarão em vantagens estratégicas.