Maria Clara Fleury Osorio assume a nova diretoria de Marketing da Adobe na América Latina, com foco em crescimento e inteligência artificial (Divulgação)
Editora-assistente de Marketing e Projetos Especiais
Publicado em 18 de agosto de 2025 às 16h53.
Última atualização em 18 de agosto de 2025 às 17h49.
A Adobe anunciou a criação de uma nova posição de liderança para a América Latina e nomeou Maria Clara Fleury Osorio como diretora de marketing latam, área que reúne as soluções de Creative Cloud e Document Cloud. O cargo foi desenhado para acelerar a estratégia de crescimento e inteligência artificial da empresa na região.
Com mais de 20 anos de experiência em empresas como Google, L’Oréal e Avon, a executiva construiu sua carreira em projetos voltados para o consumidor, à inovação e à diversidade. Atuou no Brasil, México e Europa, liderando campanhas integradas de branding, produto e crescimento, sempre combinando conhecimento do consumidor local com criatividade. Algumas dessas iniciativas, inclusive, foram reconhecidas em festivais como D&AD e Effie, além de chegarem à final em premiações como Cannes Lions e Clio Awards.
Após 13 anos no Google, onde liderou a área de Consumer Apps Marketing para aplicativos como Search, Maps e Gemini, ela assume agora a missão de aproximar as ferramentas da Adobe das necessidades locais. “Nosso desafio é traduzir o potencial da inteligência artificial para o dia a dia das pessoas e mostrar como ela pode ser usada de forma prática, ética e responsável”, diz a executiva em entrevista à EXAME. A seguir, ela fala sobre os planos para a nova área, a importância do Brasil no negócio da Adobe e como sua trajetória contribui para esse momento.
Cheguei há pouco mais de um mês, depois de 13 anos no Google. Lá, meu foco era o universo B2C, especialmente em estratégia de marca e comunicação. Na Adobe, estou em um processo intenso de aprendizado. A companhia tem dois grandes pilares voltados para o consumidor. O primeiro é o Document Cloud, com soluções de documentação digital como o Acrobat, usado tanto por pequenos empreendedores quanto por grandes escritórios que lidam diariamente com documentos. O segundo é o Creative Cloud, que reúne produtos como Photoshop, Illustrator e Firefly, utilizados por profissionais criativos, influenciadores e também por pessoas que querem produzir conteúdo para redes sociais. É um universo amplo, que vai do pequeno negócio às grandes empresas.
É uma posição inédita na América Latina. Já existiam diretorias semelhantes na Europa, Ásia e Estados Unidos, mas não aqui. A Adobe decidiu criar essa cadeira justamente para acelerar a estratégia de inteligência artificial e crescimento regional. Minha missão é traduzir a missão global da empresa — 'transformar o mundo com experiências digitais personalizadas' — para o contexto local. Trago a bagagem de ter apresentado produtos de tecnologia para consumidores na América Latina ao longo dos anos e quero aplicar essa experiência em um mercado que tem um DNA muito forte de criatividade.
Tenho um olhar para toda a região, mas com foco especial em Brasil, México, Argentina e Colômbia. A América Latina tem 650 milhões de pessoas e conseguimos alcançar essa escala enorme usando apenas português e espanhol. Essa combinação de alcance e simplicidade é um diferencial frente a outras regiões, como Europa ou Ásia, onde há mais barreiras de idioma. Essa característica torna a região estratégica para a Adobe e permite ampliar de forma rápida o impacto das soluções.
Há funções simples que fazem muita diferença, como remover o fundo de imagens — algo que antes demandava muito tempo e hoje é feito em segundos. Outro exemplo é o Firefly Video Model, que gera e edita vídeos a partir de prompts simples. São soluções que aceleram a produção de conteúdos e permitem que marcas e criativos respondam mais rapidamente a tendências de mercado. Essa agilidade é essencial para publicidade e marketing, em que os prazos são curtos e a relevância depende de rapidez.
O Brasil é visto como um mercado de grande escala e rápida adoção de produtos digitais. Diversas empresas testam soluções aqui porque os consumidores adotam rapidamente novas tecnologias. Isso também acontece com a Adobe. O público brasileiro é curioso, otimista e tem uma característica única de adotar ferramentas com velocidade. Esse comportamento é muito relevante no momento em que falamos de IA, porque mostra que o país pode acelerar a disseminação dessas soluções.
O grande desafio é traduzir as ferramentas de IA da Adobe para o mercado latino-americano. A empresa tem soluções que podem ajudar desde um criador de conteúdo em rede social até uma grande agência de publicidade, passando por pequenos empreendedores e profissionais liberais. Meu papel é mostrar de forma clara a relevância dessas ferramentas para necessidades locais. Além disso, quero investir em redes sociais, estratégicas para comunicação na região, e fortalecer ainda mais a comunidade de usuários da Adobe, que é muito engajada e apaixonada pela marca. Essa comunidade é um ativo importante porque tem uma conexão direta com os produtos e pode se tornar embaixadora da marca.
A Adobe esteve muito presente em Cannes, em diferentes frentes, e um dos momentos mais marcantes foi o reconhecimento do nosso CEO, Shantanu Narayen, como Creative Champion of the Year. Esse prêmio destaca a contribuição da empresa para o futuro da criatividade. Para a Adobe, foi uma oportunidade de mostrar como a inteligência artificial está sendo aplicada de forma integrada às nossas ferramentas, reforçando nossa posição de pioneirismo no setor.
A visão da Adobe é que a IA deve funcionar como inteligência aumentada, integrada às ferramentas já usadas por criativos. Ela não vem para substituir, mas para potencializar o trabalho humano. Isso significa eliminar tarefas repetitivas, dar mais tempo para o processo criativo e oferecer pontos de partida para projetos, reduzindo o desafio de começar de uma página em branco.
Esse é um ponto central. A Adobe partiu do princípio de que não poderia colocar no mercado ferramentas que desrespeitassem a propriedade intelectual de criadores. Por isso, os modelos de IA são treinados com um repositório 100% de propriedade da empresa. Essa escolha garante que os conteúdos gerados tenham respaldo legal e estejam alinhados com os valores da comunidade criativa. É um caminho que mostra como a IA pode ser desenvolvida de forma ética e responsável.
A Adobe participa de grandes encontros globais, mas o principal evento é o Adobe Max, que acontece anualmente e reúne lançamentos e inovações. Este ano será em Los Angeles, e estamos preparando uma presença da América Latina com jornalistas e parceiros. O Max é relevante porque apresenta todo o portfólio, incluindo B2C e B2B, e permite enxergar a empresa de forma ampla.
Vejo muitas pessoas ansiosas em relação à IA, com medo de ficar para trás. Minha mensagem é: adotem uma postura de estudante. Reservem tempo para aprender e experimentar as ferramentas. Muitas vezes, o aprendizado começa na vida pessoal e se conecta depois à vida profissional. Esse é um momento raro de transformação tecnológica, e quem se dedicar a entender como usar a IA no dia a dia terá um papel fundamental na forma como essa tecnologia será aplicada no futuro.
A Adobe mantém resultados financeiros sólidos, mas enfrenta pressão crescente na era da inteligência artificial, conforme mostrou a EXAME. No segundo trimestre fiscal, a empresa registrou receita de US$ 5,87 bilhões, alta de 11% e acima da previsão de US$ 5,8 bilhões, e lucro de US$ 5,06 por ação, superando a estimativa de US$ 4,98. Para o próximo trimestre, projeta receita entre US$ 5,88 bilhões e US$ 5,93 bilhões e lucro por ação entre US$ 5,15 e US$ 5,20.
As divisões de negócios também avançaram: a unidade de mídia digital, que inclui o Acrobat e o Photoshop, somou US$ 4,35 bilhões (+11%), enquanto marketing e análise de dados geraram US$ 1,46 bilhão (+10%).
Mesmo com o bom desempenho financeiro, o maior desafio da companhia é responder à concorrência de startups focadas em IA generativa, como Canva e Midjourney, que oferecem ferramentas mais simples e rápidas. Em entrevista, o general manager da Adobe Latam, Douglas Montalvão, afirmou que a meta da companhia é crescer três vezes mais na América Latina do que a média global.