Universidades e edtechs apostam em inovação, comunicação digital e reposicionamento de marca para enfrentar queda nas matrículas e atrair novos públicos (foto/Thinkstock)
Estrategista de Comunicação
Publicado em 8 de setembro de 2025 às 14h42.
As universidades brasileiras vivem um momento de virada histórica. Matrículas em queda, orçamentos apertados e um público cada vez mais desconfiado do valor de um diploma colocam as instituições contra a parede.
A pressão para se reposicionar nunca foi tão alta. O dilema, portanto, é inevitável: como competir como marcas em um mercado saturado, sem renunciar à missão acadêmica que lhes confere legitimidade?
Nos últimos anos, esse processo de reinvenção se tornou concreto. Instituições tradicionais como PUC-RS, PUC-PR e Esalq (campus da USP) investiram em tecnologia, inovação e comunicação digital, readequaram currículos e adotaram novos formatos de ensino, reposicionando-se como universidades efetivamente conectadas ao século 21.
A Saint Paul Escola de Negócios, consolidada como referência em educação executiva digital e eleita cinco vezes uma das melhores escolas de negócios do mundo pelo Financial Times, agora oferece, junto a EXAME, uma trilha completa de cursos e um clube de aprendizado para Alta Liderança.
Outros grupos foram além. A Ânima Educação inaugurou a Community Creators Academy em um galpão de 14 mil m² na Vila Leopoldina, São Paulo, com mais de 200 estúdios voltados à formação na economia criativa. Projetado pelo empresário baiano Fabio Duarte, o modelo oferece cursos entre R$ 25 mil e R$ 35 mil e revela como branding e relevância podem reformular percepção e modelo de negócio.
A Revvo investe em seu catálogo exclusivo de cursos corporativos, qualificando 1 milhão de pessoas por ano. A Escola Conquer foi de especialista em soft skills para pós-graduação certificada pelo MEC, “criada para romper com o modelo tradicional de ensino, aquele que foca em teoria e esquece a prática”.
Na mesma trilha, edtechs nacionais e globais cresceram com força, impulsionadas por escalabilidade, personalização e uma comunicação alinhada à linguagem de millenials e GenZ, provando que experiência do usuário e análise de dados são agora tão determinantes quanto tradição.
A G4 Educação aposta alto em gestão, growth e vendas “com ensino ágil, altamente aplicável, prático e direto ao ponto com empresários de sucesso”, enquanto O Novo Mercado se apresenta como “a maior escola de marketing digital, negócios e empreendedorismo do Brasil”.
Em nível global, o LinkedIn Learning, plataforma ligada ao LinkedIn, conta com mais de 27 milhões de usuários no mundo (TeamStage).
Do lado do ensino tradicional, os desafios são enormes. A USP, maior referência acadêmica da América Latina, ainda luta para transformar sua excelência científica em narrativas que se conectem com públicos mais amplos.
O problema é que muitas universidades públicas ainda falam para dentro, em linguagem de jargões e institucionalismos – bastante eficaz para relatórios acadêmicos, só que ineficaz para captar estudantes que hoje escolhem cursos pelo celular, comparando propostas com EdTechs e concorrentes.
Sem traduzir impacto em linguagem acessível, parte da relevância se perde.
Existe, entretanto, uma oportunidade única: universidades públicas têm um capital simbólico que nenhum investimento milionário consegue reproduzir: produzem conhecimento de ponta, formam as lideranças do país, inovam em ciência e tecnologia. Nem sempre, porém, contam essas histórias com potência e engajamento.
Transformar essa legitimidade em narrativa viva pode ser a diferença entre ser respeitada e ser desejada.
No setor privado, o movimento é de concentração. Segundo o Ranking Valor 1000, as 16 maiores empresas de educação no Brasil faturaram mais de R$ 35,7 bilhões em 2023, com as três primeiras respondendo por 41% desse total. Ou seja, mesmo em períodos de retração, há espaço para quem se reinventa.
O perigo maior em tempos tão acelerados, na minha visão, é a inércia. Instituições que se arvoram apenas no prestígio do passado, sem repensar comunicação ou reposicionamento, ficam vulneráveis. Branding vazio não gera matrícula.
Campanhas caras e descoladas da realidade não atraem doadores. Diplomas tratados como produto de consumo corroem a confiança.
Como educador com experiência em impactar mais de 240 mil alunos somente por plataformas digitais, vislumbro o futuro do marketing universitário em um modelo híbrido: ágil e preciso como o setor privado, profundo e legítimo como a missão acadêmica.
Agindo com verdade, impacto, consistência e propósito, e não copiando fórmulas fáceis.
Vivemos tempos marcados por excesso de informação e ceticismo generalizado. Não vencerá quem falar mais alto. Vencerá quem comunicar com autenticidade. E as universidades que captarem isso serão protagonistas em uma sociedade que precisa, mais do que nunca, de referências sólidas e atualizadas.