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Marisa Maiô já é mais autêntica que 90% dos influencers (e ela nem existe)

Por que a transparência artificial da apresentadora sensação feita por IA ensina uma lição brutal sobre marketing em 2025

Marisa Maiô, apresentadora criada por IA com visual marcante e roteiro nonsense, conquistou as redes e já estrela campanha publicitária com o Magalu

Marisa Maiô, apresentadora criada por IA com visual marcante e roteiro nonsense, conquistou as redes e já estrela campanha publicitária com o Magalu

Marc Tawil
Marc Tawil

Estrategista de Comunicação

Publicado em 9 de junho de 2025 às 11h43.

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Se você está logado em alguma rede social, é impossível não ter sido impactado pelo tsunami de vídeos ultrarrealistas que inundaram os feeds no último fim de semana. Desde repórteres fazendo perguntas esdrúxulas a populares (e recebendo respostas ainda mais tortas), até cenas domésticas com diálogos sem pé nem cabeça, podcasters bizarramente sinceros passando por uma nova apresentadora de auditório alçada à celebridade, de nome “Marisa Maiô”.

Ela, Marisa, criação de Raony Phillips, tem como único look um maiô preto e salto alto e apresenta um programa de 1 minuto, com cortes de vídeo de 8 segundos. Graças a essa dinâmica, milhões de views e mais de 50 mil seguidores, a 'apresentadorIA' acaba de fechar sua primeira publicidade com o Magazine Luiza.

Sim, um fenômeno 100% artificial aprovadíssimo pela audiência real. E aqui reside o paradigma: enquanto especialistas se debruçam sobre perigos das deep fakes, o público se afeiçoa pela transparência do artificial, consumindo vorazmente seus conteúdos.

A maioria dos vídeos foi criada pelo Veo 3, novíssima IA do Google, com resultados quase idênticos à vida real. A ferramenta, disponível por US$ 249 mensais, origina peças curtas com áudio nativo sincronizado, escondendo sinais que revelariam um possível conteúdo sintético.

Sim, em apenas dois anos, evoluímos de vídeos de IA obviamente falsos para produções indistinguíveis da realidade. O relatório da Bloomberg, aliás, aponta que a IA poderia substituir mais de 50% das tarefas de analistas de pesquisa de mercado e representantes de vendas (World Economic Forum, 2025).

Dispensável dizer que nós, brasileiros, abraçamos esse fenômeno instantaneamente por razão cultural única: somos o País que transformou novela em patrimônio nacional e reality show em obsessão coletiva. A nossa relação com entretenimento, portanto, foi sempre baseada em ficções assumidas.

Logo, Marisa Maiô é a evolução digital do que já consumíamos há décadas: personagens exagerados que espelham nossa realidade amplificada. A diferença é que agora qualquer um pode criar seu próprio 'Silvio Santos digital' por US$ 500.

Uma nova autenticidade

Aqui está a contradição: enquanto muitos temem que IA “destrua a confiança”, essa mesma tecnologia pode estar criando o mercado mais valioso da próxima década, o da “Escassez Humana Certificada”. Quanto mais perfeita a IA fica, mais raro se torna o trabalho comprovadamente humano. E escassez, convenhamos, gera valor premium.

Na prática, marcas de luxo, segmentos AAA, produtos artesanais e experiências exclusivas poderão pagar preços superiores por “campanhas certificadamente humanas”.

Mesmo sabendo que Marisa Maiô é 100% artificial e seu auditório à la Casos de Família e Programa do Ratinho seria impraticável na TV tradicional, ela diverte e entretém. E nesse duelo entre personagens perfeitos versus pessoas imperfeitas, as marcas precisarão tomar uma decisão: como abraçar a autenticidade, quando o público quer entretenimento, e não realidade?

Para as produtoras de audiovisual, o buraco é ainda mais profundo. Faltam respostas e sobram questionamentos: cineastas raiz podem se passar de programas como o Google Veo 3? Futuramente teremos apenas cineastas de prompt, dirigindo algoritmos ao invés de pessoas? Prompt engineering para vídeo está se tornando a nova direção de arte?

Eu não apostaria na substituição total, mas em uma reorganização de papéis.

Se o conteúdo vai virar commodity e a competição será por preço, podemos ver nascer um novo luxo em forma de campanhas “100% human-made” com preços superiores. Ou ainda um “Híbrido Transparente”, em que marcas comunicam claramente qual é a porcentagem humana versus algoritmo em suas criações, usando certificação como diferencial competitivo.

Os próximos meses serão decisivos: quem tomar posição como human-certified ou transparentemente híbrido ganhará vantagem competitiva sustentável. Aqueles que reagirem tardiamente, por sua vez, enfrentarão a commoditização.

Porque a pergunta já não é “se sua audiência aceitará IA?” (Isso Marisa Maiô, repórteres do absurdo, podcasters malucos e seus concorrentes irreais provaram que sim.)

A pergunta é outra: quando tudo pode ser gerado virtual e instantaneamente, como você vai precificar a escassez humana?
Em 2025, autenticidade não significa mais “feito por humanos”. Significa “honestidade sobre o processo”. Marisa e seus colegas são autênticos porque são transparentemente artificiais.

O que não vale mais é fingir que humano e IA são a mesma coisa.

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