Instagram: conteúdo rápido (Soumyabrata Roy/NurPhoto/Getty Images)
Estrategista de Comunicação
Publicado em 16 de outubro de 2025 às 17h15.
Nesse mar de conteúdos rasos que inundam o meu feed (e o seu também), um deles me pegou pelo estômago nesta semana.
Produzido por Arthur Dambros, founder e ex-CMO, em formato carrossel no Instagram, o texto dissecava a alma, os vícios e as contradições do marketing atual.
A excelente narrativa de Dambros denuncia um mercado saturado por amadores e movido a métricas vazias, contrapondo-se frontalmente à profundidade, à estratégia e ao pensamento crítico — justamente a competência mais desejada até 2030, segundo o Fórum Econômico Mundial.
Ele lembra que as empresas já perceberam que fazer o trabalho operacional não basta, que apertadores de botão não geram resultado, e que precisam não apenas de braços, mas de cabeças.
Em seguida, defende o retorno ao essencial: menos garganta, mais ação. Menos posts, mais resultado. Menos narrativa, mais experiência. Menos “dicas virais”, mais consistência. Menos fazer algo novo, mais fazer bem feito.
O ponto alto do texto é quando afirma que, quando todo mundo faz mais do mesmo, o vazio começa a ficar evidente — e quem ainda pensa com profundidade começa a se destacar novamente.
O alcance inflacionado das redes sociais, o imediatismo geracional, o culto à performance e o excesso de automação acabaram por condenar o marketing à banalização, reduzindo-o a postagens, e-books e landing pages. Some-se a isso a explosão de “especialistas”, “autoridades” e “sumidades” que se multiplicam como moscas, e temos um retrato fiel de uma indústria que perdeu o eixo.
Dambros lembra que, antes, marketing “era coisa séria”: exigia repertório, leitura de mercado e pensamento crítico. “Quem entrava sabia que o jogo era complexo e que resultado vinha com tempo e consistência.”
Durante boa parte da última década, porém, o marketing se apaixonou por números. Alcance virou sinônimo de sucesso, seguidores substituíram clientes e curtidas se transformaram em métrica de valor.
Era uma lógica tão simples quanto rasa: quanto mais seguidor, mais impacto; quanto mais impacto, maior o resultado. Mas o tempo trouxe à superfície aquilo que os algoritmos esconderam bem por anos: audiência nunca foi sinônimo de relacionamento. E o excesso de presença gerou ausência de significado.
Com a saturação de conteúdo, a automação de processos e o uso indiscriminado da inteligência artificial, o marketing performático chegou ao seu limite — e pensar e agir estrategicamente voltou a ser o verdadeiro diferencial competitivo.
Visibilidade nunca foi relevância. As marcas que se acostumaram a medir sucesso em curtidas já perceberam que nenhuma métrica substitui confiança. Audiência pode ser comprada. Vínculo, não. O vínculo emocional é, hoje, o principal motor da fidelização — muito mais poderoso que preço, promoção ou conveniência.
O relatório The Shifting Dynamics of Customer Loyalty (Medallia/Ipsos, 2025) confirma o que executivos e agências já percebem na prática: 71% dos consumidores esperam reciprocidade nas relações com marcas.
Querem sentir que existe um diálogo, e não uma campanha. Esperam consistência, não oba-oba travestido de criatividade. E desejam coerência entre discurso e atitude.
Mesmo assim, boa parte das empresas continua concentrando energia na conquista, e não na permanência. Apesar de ser até cinco vezes mais caro adquirir um novo cliente do que manter um atual, a maioria dos orçamentos de marketing ainda é desenhada para gerar tráfego, não relacionamento.
Dados da Sprinklr (2025) mostram que um aumento de apenas 5% na taxa de retenção pode elevar os lucros entre 25% e 95%.
Se você é marca, agência ou profissional de marketing e ainda confunde audiência com impacto, está jogando o jogo errado. A era do “viral” está perdendo força. A da presença relevante está apenas começando.
Em um mundo saturado de informação, o ROI mais valioso está naquilo que não se mede, mas se sente: a confiança de quem permanece, a defesa espontânea de quem recomenda, a lealdade de quem se reconhece em você.
O marketing contemporâneo é menos sobre o produto e mais sobre o que ele representa. Menos sobre o post e mais sobre a promessa. Menos sobre o funil e mais sobre o fluxo da relação — aquele que não termina quando o cliente compra, mas quando ele decide voltar.
Seu futuro é, ironicamente, o seu ponto de partida: a relação humana.
Audiência pode até abrir portas. Mas é o vínculo que faz alguém ficar.