Integração Omnicom–Interpublic reorganiza operações e projeta US$ 750 milhões em sinergias (Divulgação)
Editora-assistente de Marketing e Projetos Especiais
Publicado em 27 de novembro de 2025 às 12h30.
Última atualização em 27 de novembro de 2025 às 12h50.
O Omnicom Group concluiu nesta quarta-feira, 26 de novembro, a aquisição do Interpublic Group of Cos., operação que cria a maior holding de publicidade e serviços de marketing do mundo, unindo agências como FCB, Mediabrands e Acxiom a uma rede que inclui BBDO Worldwide, OMD e The Marketing Arm, entre outras. O anúncio foi feito após o fechamento do mercado nos Estados Unidos, quase um ano depois da divulgação do acordo, em dezembro de 2024.
Com a união, a Interpublic encerra um ciclo de 65 anos como holding independente, e a Omnicom volta ao topo do ranking global de grupos de comunicação — posição perdida para a WPP em 2009 — superando a própria WPP, além de Accenture Song e Publicis, em receita mundial.
“Este é um momento definidor para nossa empresa e para nossa indústria”, disse John Wren, presidente do conselho e CEO da Omnicom, em nota sobre o fechamento do acordo, conforme o portal Marketing Dive. “Com a conclusão do negócio, a Omnicom está estabelecendo um novo padrão para liderança moderna em marketing e vendas — criando marcas mais fortes, entregando resultados superiores de negócios e impulsionando crescimento sustentável.”
Segundo dados do Ad Age Datacenter, a nova companhia lidera o setor com US$ 26,4 bilhões em receita combinada referente ao ano fiscal de 2024, último período completo disponível. O Levantamento compara o desempenho da Omnicom (já integrada à Interpublic) ao das demais holdings globais (veja ao final da reportagem).
Em 2024, Omnicom e Interpublic concentraram 57% da receita mundial nos Estados Unidos, proporção que também faz da nova companhia a holding de maior faturamento no mercado norte-americano. Nesse recorte, o grupo supera a Publicis, cuja receita nos EUA foi de US$ 9,8 bilhões no mesmo ano. Apesar dessa concentração, cerca de um terço dos funcionários das duas empresas estava sediado nos EUA antes da fusão.
O anúncio vem após a aprovação regulatória final da União Europeia no fim de semana. A UE autorizou a operação de forma “incondicional”, afirmando que a fusão não levanta preocupações concorrenciais devido à atuação de outros grandes grupos globais, como WPP, Dentsu, Publicis Groupe e Havas.
A compra da Interpublic foi estruturada como uma troca de ações, sem pagamento em dinheiro. Cada acionista da IPG receberá 0,344 ação da Omnicom para cada papel detido.
O Ad Age Datacenter estima o valor da operação em US$ 8,9 bilhões, com base no preço da ação da Omnicom em 26 de novembro e no número de ações da Interpublic em circulação em outubro. O cálculo não inclui a dívida da IPG.
A transação se torna a maior aquisição já realizada no setor, superando a compra da Aegis pela Dentsu em 2013, por US$ 4,9 bilhões. Outras publicações, como o Marketing Dive, apontam que o valor total poderia superar US$ 13 bilhões.
Segundo o Ad Age, quando o acordo foi anunciado, em dezembro, a estimativa de fato era de US$ 13,3 bilhões. O montante, contudo, diminuiu com a desvalorização de cerca de 31% das ações da Omnicom até a conclusão do negócio. No mesmo período, as ações da Publicis caíram 21% e as da WPP recuaram 65%.
Com a fusão concluída, os acionistas da Omnicom passam a deter 60,6% da nova empresa, enquanto os da Interpublic ficam com 39,4%.
Omnicom e IPG esperam que a combinação gere cerca de US$ 750 milhões em sinergias anuais de custos e uma receita combinada pró-forma superior a US$ 25 bilhões. Em fevereiro, o CEO John Wren afirmou que essas sinergias não afetarão equipes que atendem clientes e geram receita.
“Essas economias não vão impactar os funcionários dedicados ao atendimento dos nossos clientes. Elas virão da simplificação das estruturas da holding, de funções regionais e de meio de campo, além da eliminação de despesas duplicadas e de back-office”, disse.
Ele também afirmou que a reorganização seguirá um critério único entre as companhias: “Vamos selecionar as melhores pessoas das duas organizações, independentemente da origem”.
No curto prazo, permanecem dúvidas sobre se marcas individuais das agências serão mantidas ou fundidas, quem liderará algumas das equipes combinadas, como clientes atuais serão atendidos e como terão acesso a novas ferramentas.
A Omnicom divulgará sua equipe completa de liderança em 1º de dezembro. Fusões dessa escala costumam ser complexas, o que pode levar concorrentes a tentar se aproveitar desse período de transição.
Antes do fechamento do acordo, as duas holdings já haviam iniciado cortes. A Omnicom registrou US$ 127,4 milhões em custos de reposicionamento nos primeiros nove meses de 2025, relacionados à preparação para a integração, conforme o Ad Age.
A Interpublic reduziu o quadro em 3,2 mil funcionários no mesmo período, cerca de 6% da força de trabalho global. Em comunicado regulatório, a empresa informou que as demissões atingiram equipes executivas, regionais, de gestão de contas, além de áreas administrativas, de criação e de produção de mídia.
Com o fechamento da compra, Philippe Krakowsky, CEO da Interpublic, recebe um pacote de desligamento avaliado em US$ 49 milhões. Ele passa a ocupar o cargo de co-presidente e co-chief operating officer da Omnicom.
A receita combinada da nova Omnicom tem mais da metade vinda de mídia e publicidade, áreas que dependem cada vez mais de escala, dados e inteligência artificial. A fusão também amplia a atuação global do grupo e reorganiza suas operações sob uma nova estrutura de liderança.
Analistas veem a transação como um dos movimentos mais significativos da atual onda de consolidação entre holdings de publicidade, impulsionada por menor crescimento orgânico e por mudanças no comportamento dos clientes. A Omnicom aponta mídia e marketing de precisão como alguns dos principais vetores de sinergia com a IPG e projeta ampliar sua oferta em mídia entre 50% e 60% com a incorporação dos ativos da rival.
O megadeal ocorre em um cenário de reorientação das prioridades das agências, que aceleram investimentos em IA e em modelos de marketing diretamente ligados a performance. Ao mesmo tempo, o tradicional modelo em que uma única agência assume de forma contínua a gestão completa da conta perde espaço para contratos por projeto. Omnicom e IPG descreveram a operação como “construída para crescimento inteligente”, referência ao potencial conjunto em dados e inteligência artificial.
A compra da Interpublic pela Omnicom foi anunciada em dezembro de 2024 e seguiu um caminho incomum até a aprovação final dos reguladores. Em setembro, as duas empresas aceitaram uma ordem de consentimento da Federal Trade Commission (FTC) que impede a negativa de investimentos publicitários a publishers ou plataformas com base em “pontos de vista políticos ou ideológicos específicos”.
O acordo firmado em 9 de dezembro de 2024, que consolidou a maior operação já realizada no setor de holdings de publicidade, marca também um novo capítulo para a Omnicom, cuja origem remonta a 1986, quando BBDO International, Doyle Dane Bernbach Group e Needham Harper Worldwide se uniram no movimento chamado pelo Ad Age de “Big Bang Merger” (Fusão do Big Bang).
John Wren, que entrou na Needham Harper em 1984 após atuar na Arthur Andersen, assumiu a liderança da Omnicom em 1997. Aos 73 anos, segue no comando, com mandato previsto até o fim de 2028.
O encerramento dessa operação ocorre em um momento em que outras movimentações podem surgir no mercado. Redes buscam se desfazer de ativos de baixa performance e acessar novas fontes de receita. A Havas, por exemplo, já manifestou publicamente interesse em adquirir negócios, mas negou rumores de conversas com a WPP. Já a japonesa Dentsu, segundo o Financial Times, avalia vender seu braço internacional.
Qualquer uma dessas movimentações pode alterar o quadro competitivo considerado pela União Europeia ao aprovar a fusão, que levou em conta justamente a presença de outros grandes grupos globais como WPP, Publicis, Dentsu e Havas. Mudanças relevantes nesse conjunto também podem, no limite, reduzir o número de alternativas disponíveis para os anunciantes.
Ranking por receita mundial em 2024 (US$ bilhões), conforme levantamento do Ad Age Datacenter.