Marketing

Você ainda tem medo da inteligência artificial?

Tecnologia redefine a liderança e o marketing, exigindo uma abordagem equilibrada entre inovação e o potencial humano

Da Redação
Da Redação

Redação Exame

Publicado em 16 de março de 2025 às 06h00.

Tudo sobreInteligência artificial
Saiba mais

*Por Taiza Krueder

Vivemos um momento de mudanças constantes, na qual as inovações tecnológicas avançam a passos exponenciais, redefinindo os modelos de liderança corporativa. Neste cenário, a inteligência artificial (IA) emerge como protagonista de uma transformação radical, e acompanhar a forma como nossos colaboradores incorporam e ressignificam essas tecnologias têm sido uma jornada instigante.

Em meio à revolução digital, um fenômeno curioso emerge no mercado de trabalho: a IA não apenas transforma nossos processos, mas também compete diretamente com os jovens profissionais. Um estudo recente da Hult International Business School revela que 37% dos gestores preferem investir em IA a contratar jovens da geração Z, a nascida entre meados dos anos 1990 e 2010, considerando a tecnologia mais escalável, econômica e livre de desafios interpessoais.

Essa preferência reflete uma realidade preocupante: a pesquisa com 1.600 profissionais americanos mostrou que 85% deles sentem que a universidade não os preparou adequadamente para um mercado em que a IA é ferramenta de trabalho, mas também concorrente, enquanto 87% afirmam ter recebido melhor formação no ambiente corporativo que na academia.

Embora fluente no digital, a geração Z enfrenta resistência no mercado. Segundo a ResumeBuilder (2023), impressionantes 74% dos gestores a consideram mais difícil de trabalhar do que as anteriores, citando problemas como falta de independência, resiliência e dificuldades em lidar com feedback.

Enquanto muitas empresas se queixam dos jovens profissionais, esta que lhes escreve escolheu um caminho diferente: o do acolhimento jovens Z. Em nossa rede de alta hotelaria, a abordagem tem dado resultados extraordinários, tanto que mais da metade do quadro de colaboradores é dessa geração. Antes de criticá-la negativamente, é preciso entendê-la e ver o que traz de inovação e oportunidades.

A questão central não é opor humanos e máquinas, mas compreender como podem complementar-se. Sempre encarei a IA como uma forma de potencializar capacidades humanas e não por acaso Waze e Google, para ficar nestes dois exemplos, se tornaram indispensáveis ao nosso cotidiano.

A IA, contudo, nos eleva a outro patamar, permitindo desde campanhas publicitárias até composições musicais – algo que experimento com meus filhos no Suno, criando hits familiares, para nossa diversão.

Em recente conferência para líderes em Barcelona, me maravilhei ao descobrir que um repertório variado e vasto, o tal background, é um diferencial e tanto ao formular perguntas uma ferramenta de IA e outras interações com ela. Quem souber criar os melhores prompts extrairá maior valor desta revolução tecnológica. Também aprendi que polidez e gentileza geram respostas mais completas e assertivas, já que as "máquinas" têm como base os relacionamentos humanos.

Grande parte do temor de usar ferramentas de IA vem do fato de alimentarmos estas tecnologias com nossos dados pessoais. Este é o preço – talvez "caro" demais – que pagamos por sua conveniência. Acredito, porém, que é impossível abandonar esta estrada. Caminhamos a passos largos para a era do "open source", uma evolução colaborativa na qual a privacidade será luxo para poucos. Claro que existem limites éticos: não somente por questões éticas, mas também em respeito à LGPD, jamais compartilharia dados de clientes em plataformas abertas.

Nesse encontro na capital catalã, minha paixão por inovação me levou a outra descoberta fascinante: atualmente, é possível criar um Conselho Administrativo virtual com avatares de executivos notáveis, permitindo consultas estratégicas com estas "mentes" privilegiadas. O novo Board é, portanto, uma assembleia de inteligências sintéticas treinadas com o pensamento estratégico, filosofia de gestão e histórico de decisões de líderes renomados. Imagine contar com uma versão digital de Warren Buffett analisando seus investimentos, ou uma réplica de Satya Nadella avaliando sua estratégia tecnológica.

Este conselho virtual não apenas oferece aconselhamento sob demanda, mas também é capaz de apresentar perspectivas divergentes – algo crucial para evitar o pensamento de grupo que assola muitos conselhos tradicionais. A implementação, porém, requer atenção cuidadosa: é essencial incorporar dados atualizados do mercado e informações específicas e das peculiaridades de cada negócio, para contextualizar as recomendações. E também estabelecer protocolos de avaliação humana para todas as sugestões geradas por IA, garantindo que valores éticos e considerações humanas permaneçam no centro do processo decisório.

Neste sentido, a IA exige dos líderes não apenas compreensão técnica, mas principalmente a capacidade de guiar suas equipes por meio dessas mudanças, mantendo o foco no desenvolvimento humano e no uso ético dessas tecnologias. Enfrentamos desafios significativos: o equilíbrio entre automação e preservação de empregos, bem como a mitigação de vieses nos algoritmos e a proteção da privacidade dos dados. Como uma líder do setor hoteleiro, é imprescindível estabelecer diretrizes claras sobre quando delegar à máquina e quando valorizar o toque humano essencial à hospitalidade.

Por isso mesmo, implementamos uma abordagem tríplice: capacitação contínua em IA para todos os níveis hierárquicos, criação de equipes mistas que combinam experiência sênior com a intuição digital da Geração Z e estabelecimento de comitês de ética para supervisionar a implementação tecnológica. Não basta adotar ferramentas, é preciso transformar culturas organizacionais.

O verdadeiro líder do futuro não será aquele que melhor entende algoritmos, mas quem consegue equilibrar inovação tecnológica com empatia humana, usando a IA como aliada para acolher, ouvir, potencializar e reter talentos, não para substituí-los. Esta é a liderança que cultivamos e que vejo como único caminho sustentável em um mundo onde máquinas e humanos precisam aprender a coexistir e prosperar juntos.

  • *Taiza Krueder, CEO do Clara Resorts
Acompanhe tudo sobre:estrategias-de-marketingInteligência artificial

Mais de Marketing

A ascensão dos criadores B2B no LinkedIn: o que isso muda para a sua marca?

SXSW 2025: os visionários que desafiaram o status quo deixaram de existir?

Paçoquita lança ovo de Páscoa e expande portfólio com novos bombons recheados

O futuro do tempo livre: como a IA está criando uma nova era para educação e entretenimento