Agência
Publicado em 27 de maio de 2025 às 15h19.
Em várias regiões da China, bairros inteiros erguidos durante o boom imobiliário permanecem com baixa ocupação. O fenômeno levanta questões sobre a dinâmica recente da urbanização e o papel da moradia no desenvolvimento econômico do país.
Pressionado pela baixa confiança dos compradores, endividamento de incorporadoras e desaceleração econômica, o impacto direto dessa crise já se reflete no número elevado de imóveis desocupados: segundo a Business Insider, cerca de 65 milhões de residências estariam abandonadas no país.
Durante décadas, o setor imobiliário movimentou boa parte da economia chinesa, impulsionado por políticas estatais que estimularam grandes empreendimentos urbanos. A partir de 2021, no entanto, o mercado entrou em crise. Desde então, o governo implementou diversas medidas para conter os efeitos da retração, mas os estímulos não surtiram efeito duradouro.
Uma pesquisa da Reuters aponta que os preços dos imóveis devem cair 4,8% em 2025, mais do que a queda de 2,5% prevista em fevereiro. A projeção para 2026 também foi revista, de crescimento para estagnação.
Os dados da consultoria E-House, baseados em informações do departamento de estatísticas da China, mostram que os preços dos imóveis já registraram queda de 4,8% em 2024 na comparação anual. As vendas também seguem em retração, com previsão de recuo de 5% em 2025, enquanto os investimentos devem encolher 8,4%, ritmo mais acelerado que a queda de 7% estimada anteriormente.
O cenário se agrava com a intensificação da guerra comercial entre China e Estados Unidos, adicionando mais incerteza ao ambiente econômico. Sem confiança e com excesso de oferta, o país assiste à multiplicação de imóveis vazios e ao surgimento de áreas urbanas inteiras com pouca ou nenhuma ocupação, fenômeno que reforça a presença das chamadas “cidades fantasmas” no território chinês.
O excesso de construções em regiões sem demanda efetiva contribuiu para o surgimento de centenas de cidades com baixa densidade populacional. Esses espaços, compostos por blocos de prédios recém-construídos, avenidas largas e infraestrutura quase intacta, permanecem praticamente vazios anos após sua entrega. O fenômeno das cidades fantasmas, presente em diferentes províncias, como Inner Mongolia, Hebei, Henan e Liaoning, reflete os desequilíbrios entre planejamento urbano, especulação imobiliária e dinâmica demográfica.
Nos últimos anos, projetos habitacionais foram erguidos com base em projeções de crescimento econômico e migração interna que não se confirmaram. Em muitos casos, os imóveis foram adquiridos como ativos de investimento, não como residências, ampliando a taxa de desocupação. A desaceleração do consumo e a perda de fôlego do mercado formal dificultaram a ocupação desses espaços.
Autoridades locais enfrentam dificuldades para reverter esse cenário. A queda na arrecadação proveniente da venda de terrenos, uma das principais fontes de receita municipal, limita a capacidade de manutenção e revitalização desses empreendimentos. Em paralelo, a população urbana envelhece e o crescimento demográfico se reduz, diminuindo ainda mais o potencial de ocupação futura.
O governo chinês tem sinalizado a intenção de transformar parte desses imóveis em moradias acessíveis ou centros comunitários. Governos locais têm adquirido terrenos para reduzir a pressão financeira sobre as incorporadoras e viabilizar a conclusão dos projetos em andamento. No entanto, iniciativas desse tipo ainda ocorrem de forma isolada e sem impacto significativo nos índices de desocupação. Enquanto isso, bairros inteiros continuam vazios, marcando visualmente uma das consequências mais evidentes da crise no setor imobiliário do país.
A crise imobiliária na China expõe desafios econômicos, demográficos e urbanísticos que exigem soluções integradas.