França: Barrot cobra cláusula de salvaguarda para proteger setores agrícolas franceses. (Jerome Gilles/NurPhoto via Getty Images)
Repórter
Publicado em 24 de novembro de 2025 às 08h04.
O ministro das Relações Exteriores da França, Jean-Noël Barrot, afirmou ao chanceler da Argentina, Pablo Quirno, que o governo francês só apoiará o acordo de livre comércio entre a União Europeia (UE) e o Mercosul se houver uma cláusula de salvaguarda “robusta”.
A informação foi divulgada pela chancelaria francesa após a reunião entre os dois ministros, realizada em Joanesburgo, durante a cúpula do G20.
Segundo o comunicado, Barrot reiterou as condições apresentadas pelo presidente Emmanuel Macron como pré-requisito para o aval francês ao pacto. Entre elas está a necessidade de concluir com os parceiros do Mercosul um mecanismo de proteção capaz de limitar temporariamente importações quando estas colocarem setores específicos em risco. A França considera esse ponto indispensável para preservar segmentos sensíveis da economia.
A cláusula de salvaguarda funciona como instrumento legal que permite a uma das partes adotar medidas de contenção caso a entrada de determinados produtos cause impacto direto em um setor doméstico. No caso francês, as maiores preocupações recaem sobre o setor agropecuário.
Os setores de carne bovina, aves, açúcar e mel estão entre os mais sensíveis. Brasil e Argentina são grandes exportadores de proteína animal, o que gera receio entre produtores franceses. Em janeiro de 2024, sindicatos do campo chegaram a paralisar parte do país em protesto contra o pacto, classificando o acordo como “mortal” para a atividade agrícola local.
Apesar de Macron ter sinalizado nas últimas semanas uma abertura para avançar no debate, a França reforçou que, na forma atual, o acordo permanece “inaceitável”. Essa posição foi mantida mesmo após a Comissão Europeia apresentar, em setembro, medidas de salvaguarda para produtos agrícolas e prometer intervenção caso o mercado fosse desestabilizado.
O acordo entre a UE e o Mercosul foi assinado pela Comissão Europeia em dezembro de 2024, após 25 anos de negociações. Para entrar em vigor, porém, precisa ser ratificado pelos Estados-membros do bloco europeu. O pacto formaria um dos maiores mercados do mundo, com população combinada de 780 milhões de pessoas.
A resistência francesa tem sido um dos principais entraves ao avanço do processo. O governo argentino, por sua vez, tenta acelerar as discussões e reforçar garantias capazes de reduzir a oposição dentro da UE.
*Com informações da EFE